BTG Pactual identifica oportunidades logísticas no agronegócio, mas alerta para desafios financeiros nos próximos anos
Rogério Stallone, sócio responsável pela área de crédito corporativo do BTG Pactual, destaca que as maiores oportunidades atuais no agronegócio concentram-se além da porteira, especialmente nos segmentos de logística e transformação da produção. Uma das apostas do banco foi o aporte significativo nos terminais portuários de Paranaguá (PR), voltados para o escoamento de produtos agrícolas. Recentemente, o BTG também atuou como investidor principal na capitalização bilionária da Cosan.
Apesar dos investimentos fora do crédito tradicional, o banco mantém uma carteira rigorosamente defensiva no setor agrícola. Diante do aumento da inadimplência e dos pedidos de recuperação judicial, Stallone vê o atual momento como cíclico para o agronegócio. Ele confirma que a inadimplência da carteira do BTG está sob controle e que o banco prioriza produtores de alta qualidade.
Embora os fundamentos do agronegócio permaneçam robustos devido ao custo competitivo do Brasil na produção mundial, Stallone reconhece que produtores mais endividados podem enfrentar dificuldades nos próximos dois anos.
Recuperação judicial e seus impactos no setor
O sócio do BTG observa uma crescente inadimplência e número de recuperações judiciais no agronegócio, mas esclarece que o problema está no uso inadequado desse instrumento por algumas empresas. Segundo ele, algumas companhias recorrem à Justiça mesmo sem necessidade real, buscando descontos no valor das dívidas, o que onera os credores que financiaram essas operações.
Esse comportamento ocasionalmente prejudica a imagem de todo o setor, elevando custos de crédito, encurtando prazos e tornando as garantias mais rigorosas. Stallone compara esse cenário ao ocorrido com as Americanas no varejo, cujo episódio provocou apreensão generalizada no setor.
Foco nas oportunidades da ‘porteira para fora’
Quanto aos desafios do agro, Stallone prefere vê-los como oportunidades para fomentar o crescimento, sobretudo em infraestrutura. O investimento nos terminais portuários de Paranaguá, em parceria com Cargill, Louis Dreyfus Company e Amaggi, é um exemplo da estratégia do BTG para suprir uma carência histórica do país. Os aportes na região, que totalizam cerca de R$ 2,4 bilhões, visam melhorar o escoamento da soja, milho e outras commodities agrícolas.
Além disso, o banco investiu na capitalização do grupo Cosan, que entre seus ativos possui a concessionária ferroviária Rumo. Stallone salienta que é fundamental integrar e otimizar a logística ao redor do agronegócio, ressaltando o potencial de ganho de eficiência, como produzir etanol de milho no Nordeste para abastecer a região, reduzindo a dependência de São Paulo. O etanol de milho é atualmente uma tendência importante no setor, fruto da atuação de empresas emergentes nos últimos anos.
Atuação do BTG Pactual e a transformação do agronegócio brasileiro
O BTG Pactual atende desde pequenos até grandes produtores e empresas do agronegócio, atuando ainda como coordenador em várias aberturas de capital de empresas na bolsa brasileira e oferecendo instrumentos financeiros, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), para captar recursos em períodos de menor volume de IPOs.
Atualmente, cerca de 15 a 20% do financiamento ao agronegócio provém do mercado de capitais, enquanto bancos respondem por 50% e as linhas governamentais por 30%. Stallone enfatiza que a era dos financiamentos majoritariamente subsidiados acabou, restringindo-os principalmente aos pequenos produtores para promover maior competitividade.
O banco busca que sua participação no setor seja proporcional ao peso do agronegócio no PIB brasileiro, estimado entre 25% e 30%. Na carteira do BTG, o agronegócio representa cerca de 25%, reforçando a importância que o banco atribui ao segmento.
O BTG mantém presença forte em importantes eventos do setor, como a Agrishow, Bahia Farm Show e o AgroForum, buscando acompanhar as transformações e oportunidades do mercado.
Stallone relembra a afirmação de Eduardo Logemann, chairman da SLC Agrícola, que o agronegócio é eficiente na produção, mas ainda falha no marketing. Ele ressalta que o setor é intrinsecamente competitivo, mesmo em comparação com outros países que oferecem muitos subsídios.
Por fim, sublinha o impacto grandioso que o agronegócio tem provocado no desenvolvimento regional, especialmente em estados como Mato Grosso, onde o avanço da produção impulsionou a criação de escolas, universidades, centros comerciais e infraestrutura que não existiam há algumas décadas. Segundo ele, o agronegócio é hoje um dos principais motores da transformação econômica e social do Brasil.



