Netflix subestima o KPop e pais enfrentam desafios para fantasias no Halloween

A filha de nove anos de Kelly Binning, Alana, desejava muito se fantasiar no Halloween como a rapper Zoey, personagem do grande sucesso global da Netflix, “KPop Demon Hunters”. Porém, Binning enfrentou dificuldades para encontrar a roupa ideal. Após buscar opções online, ela comprou uma fantasia genérica para crianças maiores que não serviu, enquanto as lojas físicas estavam praticamente sem estoque. Com muita pressa, conseguiu comprar a última fantasia de Zoey a tempo para a festa, o que gerou custos elevados e bastante estresse para a família.

Esse cenário tem se repetido em várias partes da América do Norte, onde pais — apelidados de “Caçadores de Fantasias de KPop” — tentam frustrados equipar os filhos com roupas inspiradas nos cantores demoníacos do grupo Huntr/x e seus concorrentes, os Saja Boys. As opções disponíveis na internet são em grande parte de baixa qualidade, com entregas demoradas, ou de fornecedores pouco confiáveis. Os produtos oficiais, por sua vez, apresentam preços considerados altos, como a jaqueta amarela icônica da protagonista Rumi, vendida pela Netflix por quase 90 dólares, sem incluir os demais acessórios que completam o visual.

Com isso, muitos pais voltaram a usar máquinas de costura e cola quente que não usavam há anos, enquanto outros ficam bastante aflitos diante da falta de alternativas práticas. Kayla Hu, microbiologista em Ontario, por exemplo, descreveu o desafio de confeccionar detalhes da fantasia da filha, incluindo a criação artesanal de botões e ombreiras, enfrentando dificuldades com materiais que não aderem e usando técnicas de papel machê por semanas.

Uma surpresa inesperada para a Netflix

Quando a Netflix fechou, em 2021, um acordo para distribuir filmes da Sony e produzir conteúdos próprios, “KPop Demon Hunters” era tido apenas como uma aposta de nicho, devendo atrair fãs de anime e do gênero musical coreano K-pop. Contudo, o filme se tornou o maior sucesso da plataforma até hoje, estreando em junho e liderando as bilheterias na versão cinematográfica em agosto, surpreendendo a empresa.

O sucesso inesperado fez com que a Netflix tivesse de agir rapidamente para oferecer produtos de consumo vinculados ao filme, inclusive fantasias para o Halloween, tudo com apenas alguns meses de preparação.

A loja oficial online da empresa passou a vender roupas promocionais da franquia, porém com preços elevados e quantidade limitada. No varejo físico, como na rede Spirit Halloween, as fantasias chegaram apenas no final de setembro e rapidamente se esgotaram, dificultando sua obtenção no momento do Halloween.

Nas lojas da Spirit Halloween em Glendale, Califórnia, as fantasias tradicionais como bruxas, fantasmas, vampiros, e personagens de jogos ou séries populares permaneciam em abundância, mas os trajes relacionados a “KPop” estavam praticamente ausentes, com apenas alguns acessórios sendo encontrados.

Um funcionário da loja comentou que tiveram apenas duas remessas de produtos, que foram vendidas no mesmo dia em ambas as ocasiões, muitas vezes indicando aos clientes que buscassem no marketplace Amazon.

Normalmente, grandes filmes infantis firmam contratos de licenciamento com fabricantes de brinquedos e vestuário com bastante antecedência, possibilitando a produção e oferta ampla de mercadorias. Porém, isso não ocorreu com “KPop Demon Hunters”. A equipe de produtos da Netflix apresentou o filme para possíveis licenciados mais de um ano antes do lançamento, mas a falta de experiência da franquia original de animação fez que os fabricantes não investissem com entusiasmo.

Segundo Marian Lee, diretora de marketing da Netflix, para lançamentos totalmente novos é necessário maior esforço para engajar os varejistas. Após o estouro do filme, a Netflix enfrentou dificuldades para reagir a tempo, e Lee recebeu muitas reclamações, especialmente de mães no Facebook, afirmando que não estavam conseguindo encontrar as fantasias e acessórios desejados.

Produção artesanal e adaptação dos pais

Fantasia de Halloween costumam demandar confecção complexa utilizando diversos tecidos e materiais, tendo suas capacidades de produção reservadas com até dois anos de antecedência para os lançamentos esperados.

No caso de “KPop Demon Hunters”, a expansão para a oferta desses produtos demorou mais devido ao sucesso repentino e não planejado. As poucas fantasias lançadas foram rapidamente esgotadas.

Allen Adamson, cofundador da empresa de marketing Metaforce, que já trabalhou com grandes estúdios, comentou que esse fenômeno é comum: quando a empresa consegue capturar um grande sucesso, às vezes não consegue maximizar todas as oportunidades.

Entre os exemplos, Janice Gomez e o marido, artistas de Los Angeles, começaram a criar manualmente bastões luminosos inspirados no grupo Huntr/x, utilizando plexiglass e tubos de PVC com moldes a laser, vendendo dezenas deles por preços que variam de 25 a 40 dólares cada.

Outro caso é o de Candace Birger, que fabricou armas luminosas baseadas no modelo usado pela personagem Mira, uma machadinha com lâmina em forma de lua chamada gok-do. Ela produziu réplicas impressas em 3D, cada uma custando cerca de 750 dólares, até precisar suspender as vendas diante do volume alto de encomendas.

Essas iniciativas particulares mostram como fãs e pais acabaram assumindo o papel de criar os itens desejados diante da indisponibilidade de produtos oficiais acessíveis e de qualidade para suas crianças.

Texto traduzido do inglês por InvestNews

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