É bolha ou não? Crescimento da IA gera preocupações no mercado de crédito

Mesmo diante da forte resistência do setor e dos resultados positivos das empresas de tecnologia, gestores começam a sentir insegurança.

Conforme relatos da Reuters, a crescente demanda por crédito entre grandes empresas de tecnologia, especialmente voltada para a construção de data centers, vem provocando apreensão entre investidores de títulos corporativos, inclusive aqueles considerados de menor risco.

Embora os títulos corporativos de grau de investimento registrem atualmente os menores custos de financiamento das últimas décadas, e o segmento tenha resistido às perdas de cerca de 3% acumuladas nas bolsas globais em novembro, indícios de fragilidade começam a surgir.

Gestores que administram mais de US$ 10 trilhões em ativos mostram desconforto diante dos preços elevados desses títulos e têm reduzido sua exposição nesse mercado, com alguns inclusive apostando na queda dos preços. Essa inquietação foi intensificada após a declaração de Jamie Dimon, presidente do J.P. Morgan, que comparou o mercado de crédito a um local onde “baratas aparecem quando a luz é acesa”.

Recentemente, a gestora Blue Owl restringiu resgates em seus fundos, gerando um sinal de alerta no mercado de crédito privado, que possui um volume de US$ 3 trilhões. Brian Kloss, gestor da Brandywine Global, aponta para o “medo nos mercados” e relata que sua equipe adotou estratégias de realização de lucros e redução de posições em crédito considerado de alta qualidade, em busca do “próximo problema”.

Os dados confirmam a apreensão: o spread, que é a diferença entre o juro pago pelas empresas e a taxa dos títulos públicos, está apenas 0,10 ponto percentual acima da mínima dos últimos 27 anos, conforme indicador ICE-BofA. Na Europa, essa diferença também se encontra próxima dos níveis mais baixos recentes.

Com avaliações de preços consideradas elevadas, alguns gestores temem uma possível correção abrupta. Salman Ahmed, da Fidelity International, mantém posição vendida em crédito grau de investimento, prevendo que os níveis atuais estão excessivamente altos diante de uma possível desaceleração econômica.

A dinâmica de oferta também desperta alerta. A grande procura por financiamento pelas “big techs” — com US$ 75 bilhões em novas emissões nos últimos dois meses — elevou em 44% o custo do CDS (seguro contra calote) de cinco anos da Oracle em um mês, de acordo com a Refinitiv. O aumento do custo do crédito privado, aliado à chegada de novas emissões, força as empresas a pagarem mais para captar recursos, o que pode diminuir suas margens e atrasar planos de expansão.

Algumas instituições que ainda mantêm posições nesse segmento adotam uma postura cautelosa. A State Street permanece investida em crédito corporativo, mas alerta que os preços têm pouca margem para suportar uma piora nos indicadores econômicos. A Amundi, maior gestora da Europa, recomenda reduzir um pouco a exposição, enquanto a Russell Investments observa que, para seus clientes, o problema não é o risco, mas sim que o ativo tornou-se caro demais para justificar o retorno no estágio atual do ciclo econômico.

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Mercado mostra sinais de alerta

A preocupação acerca do mercado de crédito corporativo intensifica-se pelo fato de que, apesar dos bons resultados recentes das empresas de tecnologia, os sinais de preços elevados e aumento do risco de crédito geram cautela entre gestores e investidores que movimentam trilhões de dólares.

A volatilidade e o receio de uma correção no mercado são reforçados pelo aumento das emissões de dívidas para financiar a expansão, principalmente no setor de inteligência artificial, onde investimentos em infraestrutura têm sido vultosos.

O episódio recente da limitação de resgates pela Blue Owl serviu para destacar o nervosismo no segmento de crédito privado, que tem impacto relevante em toda a economia financeira global.

Considerações finais

Embora o mercado de tecnologia continue apresentando resultados sólidos, a escalada do crédito voltado a investimentos em inteligência artificial e infraestrutura gerou preocupações que não se limitam ao mercado de ações, atingindo também o setor de crédito corporativo.

Gestores globais têm adotado uma postura mais defensiva, reduzindo posições e buscando alternativas para mitigar riscos inerentes a eventuais correções ou desacelerações econômicas futuras.

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