Cúpula COP30 firma acordo climático desafiador que omite combustíveis fósseis
A presidência brasileira da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, conseguiu finalizar um acordo que aumenta o financiamento destinado às nações mais vulneráveis ao aquecimento global. Contudo, o texto aprovado não trouxe menção alguma aos combustíveis fósseis, que são os principais responsáveis pela crise climática.
O Brasil buscou enfatizar a união internacional para enfrentar os impactos das mudanças do clima, especialmente considerando que os Estados Unidos, maior emissor histórico, optaram por não enviar uma delegação oficial ao encontro.
Depois de semanas de negociações intensas, realizadas na cidade de Belém, no coração da Amazônia, o pacto revelou profundas divergências entre os países participantes, principalmente sobre os métodos e medidas futuras para o combate às alterações climáticas.
Ao concluir o acordo, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, destacou o desafio que foram as negociações. Segundo ele, algumas nações possuíam expectativas mais ambiciosas sobre os temas discutidos.
Alguns países manifestaram insatisfação com a ausência de compromissos mais firmes para conter as emissões de gases do efeito estufa ou para enfrentar diretamente a questão dos combustíveis fósseis. Entre os que expressaram críticas, estavam países vizinhos do Brasil, como Colômbia, Panamá e Uruguai, que pediram revisões durante as sessões plenárias, levando Corrêa do Lago a suspender temporariamente os trabalhos para consultas adicionais.
Após cerca de uma hora, a plenária foi retomada e as decisões adotadas foram mantidas, apesar da controvérsia. A negociadora colombiana destacou que, tendo em vista o papel predominante dos combustíveis fósseis no agravamento do aquecimento global, não seria possível aceitar um acordo que deixasse de lado os dados científicos.
“Um consenso forçado sob a negação da crise climática é um pacto malsucedido”, afirmou a representante da Colômbia.
Os três países latino-americanos mencionados não discordavam do acordo político geral elaborado na COP30, mas sim de um documento técnico adicional que deveria ser aprovado junto com o principal, contendo medidas específicas.
Essas nações alinharam-se à União Europeia na exigência de que o texto incluísse explicitamente a transição para a redução do uso de combustíveis fósseis, uma posição que encontrou resistência de um grupo liderado pela Arábia Saudita, maior exportador global de petróleo, que vetou qualquer referência ao tema.
Após longas e tensas negociações noturnas, a União Europeia concordou, na manhã do último sábado, em não impedir a aprovação do acordo final, embora tenha deixado claro seu descontentamento com o resultado.
Segundo o comissário de clima da UE, Wopke Hoekstra, o texto representa ao menos um avanço, mesmo que insuficiente, e merece apoio por estar numa direção correta.
Antes da decisão final, o negociador do Panamá, Juan Carlos Monterrey, declarou que seu país não ficou satisfeito com o consenso alcançado, criticando o fato de o pacto evitar o uso do termo “combustíveis fósseis”. Para ele, essa omissão não representa neutralidade, mas sim cumplicidade diante do problema climática, qualificando o processo como além de uma simples falha de gestão.
Aumento do financiamento para países em desenvolvimento
O acordo da COP30 estabelece uma iniciativa voluntária que visa acelerar os esforços climáticos para que as nações possam cumprir as metas já assumidas de redução de emissões. Além disso, o pacto pede que os países mais ricos aumentem pelo menos três vezes a quantia destinada a auxiliar os países em desenvolvimento na adaptação às mudanças climáticas até o ano de 2035.
As nações em desenvolvimento argumentam que precisam de recursos urgentes para responder aos efeitos já observados, tais como elevação do nível dos oceanos, aumento das ondas de calor, secas, enchentes e tempestades severas.
Avinash Persaud, assessor especial do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, instituição voltada para a América Latina e Caribe, ressaltou a relevância da prioridade ao financiamento no acordo, dado o aumento dos impactos climáticos.
Porém, ele alertou para a dificuldade de obter rapidamente a liberação desses fundos aos países mais afetados, destacando a urgência de se alcançar esse objetivo.
Durante a plenária final, algumas autoridades, como delegados de Serra Leoa, manifestaram oposição contra a flexibilização dos indicadores que medem questões como segurança alimentar, afirmando que a lista acordada não refletia adequadamente suas realidades e experiências.
Texto paralelo sobre combustíveis fósseis e florestas
O impasse entre a União Europeia e o Grupo Árabe a respeito da menção aos combustíveis fósseis atrasou as discussões, que só foram concluídas após negociações durante toda a noite que antecedeu o encerramento.
Para contornar essas divergências, a presidência da COP30 informou que publicaria um texto paralelo separado, que abordaria os combustíveis fósseis e a proteção das florestas. Esse documento ficou fora do acordo principal devido à falta de consenso entre os países.
No entanto, os organizadores convocaram os governos a manterem abertas as discussões sobre essas questões cruciais nos próximos períodos.
Além disso, o acordo prevê o estabelecimento de um processo para que organizações relacionadas ao clima analisem formas de alinhar o comércio internacional às ações contra a crise ambiental, em resposta às preocupações de que barreiras comerciais possam estar dificultando a adoção de tecnologias limpas.



