Tarifas permanecem para alguns produtos do agronegócio brasileiro nos EUA

Ainda vigora uma tarifa de 50% nos Estados Unidos para determinados produtos brasileiros do setor agropecuário, como café solúvel, uva, mel e pescados, que não foram incluídos nas recentes isenções anunciadas pelo governo americano. Enquanto medidas adotadas em novembro eliminaram tarifas adicionais para centenas de mercadorias, esses produtos seguem sujeitos a taxas elevadas.

Essas decisões recentes aliviaram o peso das tarifas para itens importantes das exportações brasileiras, como o café em grão e a carne bovina, principais produtos vendidos pelo agronegócio ao mercado dos EUA, ficando atrás apenas dos produtos florestais. Contudo, os produtos que continuam tarifados, embora tenham menor participação nas vendas totais, ainda consideram os Estados Unidos um mercado relevante para suas operações.

Situação específica de cada produto

Café solúvel

O segmento brasileiro do café solúvel ainda busca explicações sobre o motivo pelo qual o produto não foi incluído nas recentes isenções tarifárias dos EUA, conforme relata Aguinaldo Lima, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics). Em 2024, as exportações de café solúvel para os EUA responderam por 10% do total exportado pelo setor cafeeiro nacional, enquanto o restante foi composto por café em grão, agora livre da tarifa adicional.

Historicamente, o café solúvel do Brasil tem forte presença nas prateleiras americanas, chegando a representar 38% das importações dos EUA em 2024, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Desde a imposição da sobretaxa de 40% em julho pelo governo Trump, as exportações para os EUA caíram aproximadamente 50% nos meses de agosto a outubro de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Lima alerta para o risco crescente de perder espaço nas gôndolas americanas, já que os importadores norte-americanos estariam ainda consumindo estoques antigos, mas podem migrar para outros fornecedores como México, Colômbia, Vietnã e Europa, caso a tarifa permaneça. A Abics e o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) seguem em negociações com os governos brasileiro e americano, além de empresas nos EUA, para buscar a retirada da tarifa. Está marcada para o final de novembro uma reunião entre o setor e o Itamaraty, além dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento.

Uva

Nos Estados Unidos, a uva brasileira segue sujeita à tarifa de 50%, apesar de o governo americano ter excluído várias frutas frescas das sobretaxas. Em 2024, os EUA representaram 12% da exportação total de frutas frescas do Brasil, com o faturamento da uva alcançando US$ 41,5 milhões, segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Dados do Ministério da Agricultura indicam que 23% da uva exportada no ano foram para os Estados Unidos.

De outubro a novembro, houve uma redução de 73% das vendas de uvas para o mercado americano em relação ao mesmo período de 2024. A exclusão da uva da lista de isenção ocorreu mesmo diante da inclusão da categoria “frutas frescas” nas exceções pelo governo americano, conforme confirmado pela Abrafrutas junto à embaixada americana. A justificativa atribuída por Eduardo Brandão, diretor-executivo da associação, é a expectativa de uma supersafra de uvas nos EUA, que também importam muito do Chile e do Peru.

Apesar da queda na demanda dos EUA, os cachos deixaram de ser exportados para os Estados Unidos e foram redirecionados para mercados na Europa e América do Sul. No entanto, a redução da procura nos EUA atuou contra o poder de negociação dos exportadores brasileiros, impactando os preços.

Mel

O mel brasileiro está sujeito a uma tarifa adicional de 50% nos EUA, que se soma a uma taxa pré-existente de 8,04%. Renato Azevedo, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), informa que os esforços continuam para negociar uma redução dessa sobretaxa junto aos governos brasileiro e americano. Sitônio Dantas, diretor da Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis), destaca que, embora as compras devam continuar, espera-se uma queda nos preços, cujo percentual ainda é incerto.

Os contratos atuais de exportação para os EUA estão garantidos até dezembro de 2025, mas há preocupação quanto à renovação desses acordos. Segundo dados do AgroStat do Ministério da Agricultura, quase 80% do mel natural exportado pelo Brasil em 2024 teve os Estados Unidos como destino.

Pescados

A exclusão dos pescados da lista de produtos beneficiados pelas isenções tarifárias foi motivo de decepção para o setor, de acordo com Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca). Ele enfatiza que o governo brasileiro ainda não tem dado a devida prioridade ao tema nos diálogos com os EUA.

O mercado dos pescados é significativo para o Brasil, gerando cerca de US$ 300 milhões anuais nas exportações para os Estados Unidos, que responderam por quase metade das vendas externas do segmento em 2024. A atividade tem papel importante na economia de comunidades costeiras e ribeirinhas, envolvendo muitas pequenas e médias empresas, para as quais o impacto das tarifas é especialmente sensível.

Lobo defende a necessidade de estratégias e reciprocidade nas negociações bilaterais para recolocar o pescado brasileiro como prioridade, destacando que a cada rodada de negociação em que o setor é esquecido, o país perde terreno para concorrentes internacionais no mercado americano, essencial para o Brasil.

Fonte

Rolar para cima