Moody’s avança na criação de classificação para risco de liquidez de stablecoins em mercado em expansão
A agência de classificação de crédito Moody’s está desenvolvendo um novo modelo para avaliar o risco de liquidez das stablecoins, criptomoedas que mantêm valor estável, frequentemente vinculadas ao dólar americano. Atualmente, o mercado dessas moedas digitais ultrapassa US$ 300 bilhões, e a expectativa é que a metodologia da Moody’s ajude a transformar a forma como esses ativos são avaliados por investidores.
Com mais de um século de atuação, a Moody’s propôs um sistema que atribui classificações específicas às stablecoins, considerando a qualidade dos ativos que garantem cada token, o risco relacionado à valorização desses ativos no mercado e as proteções operacionais existentes. Essa proposta foi divulgada na última sexta-feira (12) e seguirá aberta para consultas públicas até o dia 29 de janeiro de 2026, quando pode ser oficialmente adotada.
O interesse nesse modelo surge em um momento em que as stablecoins ganham popularidade crescente, acompanhada por tentativas governamentais para regulamentar esse segmento. Nos Estados Unidos, por exemplo, a aprovação da Lei Genius em julho estabeleceu um marco regulatório para essas criptomoedas consideradas fundamentais para a liquidez no universo dos ativos digitais.
A Moody’s ressalta a importância das stablecoins para bancos, departamentos financeiros corporativos e sistemas de pagamentos, ao mesmo tempo em que busca apresentar avaliações independentes para um setor que ainda é considerado em desenvolvimento e por vezes pouco transparente.
Especialistas destacam que a liquidez na rede blockchain é crucial, especialmente em momentos de tensão no mercado, e que o novo framework da Moody’s precisa acompanhar esse dinamismo para oferecer uma avaliação adequada.
Segundo a proposta de metodologia, a Moody’s examinará a qualidade creditícia de cada ativo que compõe as reservas de uma stablecoin e fará uma média ponderada dessas avaliações. Também será levada em consideração a avaliação do valor de mercado desses ativos. O resultado final adotará o menor dos valores calculados entre essas duas análises, com os devidos ajustes para determinar a classificação final da stablecoin.
Em geral, as stablecoins são garantidas por uma mistura de dinheiro em caixa e equivalentes, como títulos do Tesouro de curto prazo, e seus emissores costumam divulgar relatórios periódicos sobre suas reservas. No entanto, nem todos os emissores são submetidos a auditorias detalhadas, o que gera discussões dentro do setor, especialmente no caso do Tether (USDT), que é a stablecoin mais amplamente utilizada no mundo.
De modo similar ao que ocorre com as avaliações tradicionais de risco de crédito, os emissores das stablecoins seriam os responsáveis por solicitar e custear o processo de classificação. Apesar de não ter confirmado se irá avaliar o Tether, a Moody’s considera essencial que dados apresentados pelos emissores sejam revisados por terceiros independentes para garantir transparência na análise.
O sistema de classificação seguirá o princípio do “elo mais fraco”, significando que a classificação final da stablecoin será limitada pelo ativo de menor qualidade dentro do conjunto de garantias do token. Para ajustar os riscos, a Moody’s aplicará descontos apropriados, considerando, entre outros aspectos, a liquidez dos ativos.
A proposta define cinco categorias de ativos líquidos, destacando que depósitos em dinheiro e títulos emitidos pelo governo central na mesma moeda garantirão as classificações mais elevadas. Outros fatores incluídos na análise são a governança da stablecoin, o ambiente regulatório vigente e possíveis cenários de crise.
A Moody’s indicou que carteiras compostas por ativos líquidos e de alta qualidade poderão receber a classificação de depósito de curto prazo P-1. Além disso, riscos tecnológicos, tais como vulnerabilidades na segurança da blockchain ou eventos como bifurcações que possam dificultar a validação de transações, também serão avaliados.
A metodologia proposta exclui stablecoins algorítmicas, aquelas que utilizam mecanismos automáticos de oferta para manter seu valor em vez de garantias reais, reconhecendo que esses tokens possuem maior risco de se desvincularem de seus ativos de referência.
A Moody’s enfatiza que essa nova classificação não deve ser utilizada para avaliar a estabilidade geral das stablecoins ou para determinar seu desempenho como investimentos, tendo como objetivo principal indicar a probabilidade de um resgate rápido da stablecoin.



