Moody’s propõe classificação para risco de liquidez em stablecoins, mercado em expansão

A Moody’s, renomada agência de classificação de risco de crédito com mais de um século de atuação, desenvolveu uma nova metodologia destinada a avaliar o risco de liquidez das stablecoins, um segmento que já alcança cerca de US$ 300 bilhões em valor de mercado. A iniciativa pretende oferecer um padrão que auxilie investidores na análise desses ativos digitais que vêm ganhando destaque.

Divulgada em 12 de dezembro de 2025, a proposta da Moody’s sugere a atribuição de classificações às stablecoins, focando na qualidade dos ativos que sustentam cada token, nos riscos relacionados ao valor de mercado e nas estruturas operacionais que dão suporte aos emissores. Após um período aberto para contribuições públicas, que termina em 29 de janeiro de 2026, a agência planeja implementar esse novo modelo.

Esse avanço ocorre em meio a um momento de adoção crescente das stablecoins e o surgimento de regulações específicas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a aprovação da Lei Genius em julho reforça a regulamentação dessas criptomoedas que têm papel fundamental na liquidez dos mercados digitais, por manterem seu valor estreitamente vinculado ao dólar americano.

A Moody’s destacou que as stablecoins se mostram cada vez mais importantes para instituições financeiras, tesourarias corporativas e sistemas de pagamentos. A ideia é proporcionar uma avaliação independente, corrigindo a opacidade e a constante evolução desse mercado.

Robert Franklin III, da RFS Consulting, ressaltou que, embora a metodologia atual seja funcional, há necessidade de um aprimoramento, principalmente para analisar a liquidez no ambiente blockchain, fator essencial em momentos de crise.

A avaliação proposta pela Moody’s envolverá a análise da qualidade de crédito dos ativos que formam o respaldo da stablecoin, utilizando uma média ponderada para os diferentes componentes das reservas. Além disso, será considerada a avaliação do valor de mercado desses ativos para garantir uma visão abrangente.

Para alcançar a classificação final, a metodologia selecionará o menor valor entre a análise da qualidade do crédito e a avaliação do valor de mercado, aplicando os ajustes pertinentes. Normalmente, as stablecoins são respaldadas por caixa, equivalentes de caixa e títulos públicos de curto prazo. Apesar disso, nem todas as emissoras passaram por auditorias completas, o que levanta debates na indústria, incluindo casos como o Tether (USDT), uma das stablecoins mais difundidas.

Como nas classificações tradicionais de crédito, os emissores devem solicitar e custear a avaliação. A Moody’s também indicou que levará em conta se os dados fornecidos pelos emissores foram revisados por terceiros independentes, fator que pode influenciar positivamente a classificação.

Outro ponto relevante no modelo de avaliação é a regra do “elo mais fraco”, onde a nota final fica limitada pelo ativo com pior classificação dentro das reservas de cada stablecoin. Além disso, a Moody’s pretende aplicar um haircut, ou desconto, baseado em critérios de risco como liquidez e qualidade do ativo.

O plano da agência divide os ativos em cinco categorias, conferindo notas mais altas para depósitos em dinheiro e títulos governamentais na mesma moeda da stablecoin. Também serão considerados aspectos regulatórios, governança da stablecoin e a reação sob cenários de estresse financeiro.

Se os ativos que compõem a reserva forem de alta liquidez e qualidade, a stablecoin poderá receber uma classificação de depósito de curto prazo P-1, segundo a Moody’s.

A metodologia ainda prevê analisar riscos tecnológicos, incluindo vulnerabilidades no blockchain e eventuais problemas como bifurcações que possam dificultar a validação das transações.

Importante destacar que a Moody’s exclui das avaliações as stablecoins algorítmicas, que mantêm seu valor por meio de mecanismos automatizados de oferta e demanda, em vez de serem lastreadas por ativos físicos, dado seu histórico de instabilidade.

A agência também ressalta que a classificação não deve ser interpretada como um indicativo da estabilidade da stablecoin ou sua performance como investimento, mas sim como uma medição da probabilidade da moeda ser resgatada pontualmente.

Novo modelo de classificação Moody's para stablecoinsFonte

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