Moody’s apresenta proposta para classificação do risco de liquidez de stablecoins em mercado em expansão

A Moody’s Ratings, empresa com 116 anos no setor de classificação de risco de crédito, anunciou um novo modelo para avaliar o risco de liquidez de stablecoins, o que poderá transformar a forma como esse segmento, avaliado em cerca de US$ 300 bilhões, é analisado por investidores.

O método, divulgado em 12 de dezembro de 2025, considera três aspectos principais para atribuir classificações: a qualidade dos ativos que suportam cada token, os riscos associados ao valor de mercado desses ativos e as salvaguardas operacionais existentes. A Moody’s está aceitando contribuições públicas a respeito dessa proposta até o final de janeiro de 2026, para possível implementação após esse período.

O surgimento dessa classificação ocorre em meio ao crescimento da adoção das stablecoins e à introdução de regulamentações específicas nos principais mercados globais. Um exemplo foi a aprovação da Lei Genius nos Estados Unidos, em julho de 2025, que criou um arcabouço legal para essas criptomoedas, consideradas fundamentais para garantir liquidez consistente no universo dos ativos digitais, pois costumam manter seu valor atrelado ao dólar.

Em uma declaração oficial, a Moody’s ressaltou que as stablecoins vêm ganhando importância crescente para bancos, tesourarias corporativas e sistemas de pagamento. A proposta tem o propósito de oferecer uma avaliação independente em um mercado que ainda é dinâmico e muitas vezes pouco transparente.

Consultores especializados, como Robert Franklin III da RFS Consulting, destacam que a metodologia atual é apenas uma base inicial e que é imprescindível evoluir para melhor avaliar, especialmente, a liquidez dentro das próprias cadeias de blockchain, o que se torna crucial em momentos de estresse financeiro.

Com o novo modelo, a Moody’s analisará a qualidade do crédito dos ativos que compõem as reservas das stablecoins, realizando uma média ponderada para determinar sua solidez. Simultaneamente, o valor de mercado desses ativos também será avaliado. O menor resultado entre o crédito dos ativos e o valor de mercado servirá de base para ajustes e para a atribuição final da classificação.

De modo geral, as stablecoins contam com garantias formadas por caixa e equivalentes, como títulos públicos de curto prazo, sendo que os emissores costumam divulgar relatórios detalhados sobre suas reservas. Entretanto, nem sempre essas reservas passam por auditorias independentes, um aspecto que gerou debates no setor, incluindo casos de emissores como o Tether (USDT), que é a stablecoin mais utilizada globalmente.

Semelhante às avaliações tradicionais de risco de crédito, a Moody’s exigirá que os emissores solicitem e custeiem a obtenção da classificação. Apesar de não ter confirmado se avaliará o Tether, a proposta considera a importância da revisão por parte de terceiros independentes dos dados disponibilizados pelos emissores.

A classificação final das stablecoins será limitada pelo ativo mais fragilizado entre as reservas, ou seja, o chamado “elo mais fraco”. Além disso, a Moody’s prevê aplicar um desconto baseado em métricas de risco que envolvam a liquidez desses ativos.

O modelo define cinco categorias de ativos líquidos, destacando que depósitos em dinheiro e títulos governamentais denominados na mesma moeda recebem as melhores classificações. Outros pontos levados em conta serão a governança das stablecoins, o quadro regulatório aplicável e a resistência em cenários de estresse.

Portfólios com cotas de ativos líquidos considerados de alta qualidade poderão receber a classificação de depósito de curto prazo P-1, conforme indicado pela instituição.

Além disso, o modelo avaliará riscos ligados à tecnologia das stablecoins, como possíveis falhas de segurança em blockchains ou eventos de bifurcação que possam dificultar a validação das transações.

É importante destacar que stablecoins algorítmicas, que mantêm seu valor por meio de mecanismos automatizados de controle de oferta em vez de garantias reais, estão excluídas do escopo da Moody’s. Essas moedas, no histórico, tendem a perder a paridade com seus ativos de referência de forma mais frequente.

A Moody’s reforça ainda que sua classificação não deve ser interpretada como uma avaliação da estabilidade intrínseca das stablecoins ou como indicativo de performance para investimento, mas sim como uma indicação da probabilidade de que os tokens possam ser resgatados de maneira eficiente em prazos adequados.

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