De CEO a CVO (Chief Visionary Officer): A habilidade de deixar o volante e continuar conduzindo

Enquanto o CEO é responsável pelas demandas do presente, o CVO se dedica ao futuro. Esse executivo cria a visão futura, identifica indícios que ainda não se consolidaram como tendências, fortalece a cultura organizacional e mantém o propósito da empresa. Em vez de se focar no “como fazer”, concentra-se no “por que fazer”.

Decidir sair das funções operacionais e passar o comando da liderança executiva não indica fraqueza, mas sim demonstra maturidade do negócio. Deixar a posição de CEO não significa perder influência, mas reposicionar a forma de liderança.

A transição do cargo de CEO para CVO revela uma transformação profunda, que ultrapassa a troca de título. É uma mudança de mentalidade alicerçada na compreensão de que a companhia não deve girar exclusivamente em torno do fundador. A organização precisa desenvolver autonomia, escalabilidade, visão a longo prazo e superar o ego pessoal.

Essa alteração exige desprendimento, humildade e coragem. Significa compreender que o papel do fundador não é controlar cada detalhe, e sim assegurar que tudo siga funcionando mesmo na sua ausência. É confiar em profissionais mais capacitados para determinadas funções e, acima de tudo, entender que o valor do legado está na sobrevivência da empresa independentemente da presença do fundador.

Enquanto o CEO lida com as questões imediatas, o CVO atua na construção do que está por vir. Ele cria a visão estratégica, conecta tendências emergentes, fortalece a cultura interna e mantém o foco no propósito maior. Sai da execução prática para refletir sobre os motivos e valores que norteiam a organização.

Muitos fundadores resistem a essa mudança por confundirem sua identidade com o próprio funcionamento do negócio. Porém, essa identidade fundida com a operação é um dos principais obstáculos ao crescimento. Quando o fundador se torna o centro da empresa, o negócio fica refém da sua disponibilidade de tempo e energia.

Sou um exemplo desse processo. Em 2023, transferi a liderança da Bossa Invest para Paulo Tomazela, que assumiu a chefia operacional como CEO. Eu permaneci como CVO, encarregado da visão, desenvolvimento de futuros produtos, parcerias estratégicas e preparação da organização para ciclos vindouros.

Embora tenha sido desafiador inicialmente, com quase dois anos, percebo com clareza que essa foi uma das decisões mais acertadas que tomei. A companhia ganhou força, governança e amadurecimento; eu, por minha vez, obtive mais tempo e clareza para atuar onde realmente agrego valor. Hoje, frequentemente brinco que me tornei mais um CDO (Chief Disnecessary Officer) do que propriamente um CVO.

No Brasil, essa transição ainda é pouco comum. O que predomina, em geral, é o fundador migrar para o conselho, geralmente como Chairman.

Um caso é o de Hugo Rodrigues, que deixou o cargo de CEO da WMcCann para assumir a presidência do conselho, concentrando-se em cultura e posicionamento estratégico. Ele reconheceu o momento de deixar a linha de frente sem se afastar do jogo. Para que a mudança tenha êxito, é essencial possuir estrutura adequada: governança definida, plano de sucessão, comitês atuantes, processos claros e líderes capacitados.

Assumir uma função mais estratégica, como a de CVO, ainda é uma trajetória pouco trilhada no Brasil. O fundador não desaparece do cenário empresarial, mas se reposiciona. Troca o trabalho exaustivo pela visão panorâmica, atuando mais em conselhos, reuniões estratégicas e no planejamento do futuro. Essa mudança é como substituir uma enxada por um drone: em vez de cavar o solo com as próprias mãos, passa a enxergar toda a extensão do terreno.

Diferenças entre CEO e CVO

CEO (Chief Executive Officer):

  • Responsável pela gestão geral da empresa e execução do planejamento estratégico.
  • Focado em resultados de curto e médio prazo, cumprimento de metas financeiras e operações diárias.
  • Lidera a equipe executiva e toma decisões cruciais em todos os níveis da organização.

CVO (Chief Visionary Officer):

  • Define a visão de longo prazo e a direção estratégica da companhia.
  • Identifica novas oportunidades de mercado e tendências emergentes.
  • Estimula a inovação e a criatividade dentro da organização.
  • Oferece suporte ao CEO para garantir que a execução operacional esteja alinhada com a visão futura.

Esse processo pode ser desconfortável, especialmente para quem sempre liderou o controle direto da empresa. Contudo, a maioria que fez essa transformação relata que é libertador.

Muitos negócios só conseguiram crescer significativamente quando os fundadores confiaram na nova liderança e saíram da linha de frente. Outros passaram a atrair talentos de alto nível, ganharam velocidade e transformaram-se em organizações mais sustentáveis. Quando realizado de forma adequada, o movimento não enfraquece o fundador, pelo contrário, amplia seu impacto e fortalece sua autoridade.

Ser CVO é assumir papel de arquiteto: deixar de construir tijolo por tijolo para planejar a construção de novos andares. Abandonar o centro operacional para ser o centro da visão. Empresas guiadas por uma visão clara tendem a ter longevidade, crescimento e capacidade transformadora maiores. Porque, ao largar o volante, mas mantendo o mapa em mãos, o fundador faz a jornada ser mais longa, coletiva e significativa.

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