Copom Afasta Possibilidade de Redução dos Juros em Comunicado Rígido e Precavido
A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, avaliou que o comunicado divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), após a decisão de manter a Selic em 15%, não trouxe menção a melhorias no cenário econômico. Para ela, o tom duro e cauteloso demonstra a intenção do comitê de evitar debates sobre possível corte dos juros.
O documento divulgado pelo Copom justifica a manutenção da taxa no nível mais alto em quase duas décadas, devido ao caráter contracionista da política monetária vigente, diante da persistente pressão inflacionária no Brasil e incertezas no cenário global.
Análise sobre o comunicado do Copom
Rafaela Vitória qualificou o comunicado como uma repetição do divulgado em julho, destacando a ausência de referências às condições externas que melhoraram, como o recente corte de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros pelos Estados Unidos promovido pelo Federal Reserve (Fed), implementado no mesmo dia do anúncio.
Segundo a economista, embora exista um ambiente externo que poderia favorecer a redução da inflação, especialmente em segmentos como alimentos e bens industriais, tal fator não foi considerado pelo Banco Central em sua avaliação recente.
Perspectivas de ajustes futuros na Selic
O comunicado menciona que a taxa pode sofrer ajustes tanto para cima quanto para baixo, dependendo das necessidades futuras, mas não indica mudanças imediatas. Vitória destaca que, embora o cenário tenha melhorado, não há sinais claros de revisão da política monetária neste momento.
Motivação do tom mais rígido
O tom mais inflexível adotado pelo Copom é reflexo da preocupação com expectativas inflacionárias ainda não ancoradas e projeções elevadas para a inflação em 2026. Enquanto o mercado prevê uma inflação próxima de 4,3%, o próprio comitê projeta um índice menor, de 3,6%, o que gera divergência que afeta as decisões da política monetária. Além disso, o risco fiscal permanece um fator de pressão inflacionária, especialmente ao sustentar o consumo.
Risco tarifário e seus impactos
Em relação ao risco tarifário, Vitória apontou que ele tende a exercer um efeito deflacionário sobre a economia brasileira. Já o risco fiscal influencia a inflação pelo lado da demanda, podendo manter a alta do consumo e, assim, a resistência inflacionária.
Impactos para o curto prazo e expectativas de cortes dos juros
Para o curto prazo, a economista acredita que o comunicado tira espaço para cortes da Selic em dezembro, embora mantenha a expectativa de início dos cortes para o próximo ano. A dúvida permanece sobre o momento exato desse ajuste – se ocorrerá em dezembro ou será postergado para janeiro.
Vitória interpreta o tom cauteloso do Copom como uma forma de preservar a credibilidade diante de um cenário ainda desafiador, marcado por inflação elevada e mercado de trabalho aquecido.
Riscos externos
A volatilidade e a aversão ao risco por parte dos investidores, principalmente em países emergentes, são os principais riscos externos destacados. A economista ressaltou que, apesar das tarifas elevadas, a inflação norte-americana não tem pressionado significativamente, evidenciado pelo recente corte de juros do Fed. No âmbito global, as tarifas têm apresentado efeito deflacionário, com o mercado de commodities estabilizado, sem pressões inflacionárias adicionais.
Juros e restrição monetária
O patamar atual da taxa Selic, com um juro real próximo a 10%, é considerado bastante restritivo, embora o impacto sobre a atividade econômica ainda não esteja claro. O Banco Central reconhece que alguns canais de transmissão da política monetária estão comprometidos, o que pode limitar a efetividade da taxa como mecanismo para frear o crescimento. No entanto, historicamente, essa taxa real é muito elevada para os padrões brasileiros.
Influência dos cortes de juros nos EUA sobre a Selic
O corte na taxa básica dos Estados Unidos pode refletir na política monetária brasileira, principalmente por meio do câmbio. Com o dólar comercial próximo de R$ 5,30, cenários favoráveis podem surgir para a inflação, abrindo espaço para a discussão de cortes na Selic ainda em dezembro. Caso não haja surpresas positivas para os índices inflacionários, a redução tende a ser adiada para janeiro. Esses possíveis avanços estariam associados à desaceleração da atividade econômica e do crédito, ainda que não sejam esperadas quedas abruptas.
Contradições nas projeções do Banco Central
Vitória aponta uma curiosidade observada no modelo do Banco Central, que alterou a previsão do câmbio de R$ 5,55 para R$ 5,40, mais favorável, mas manteve a projeção do IPCA em 3,6%. Ela sugere que efeitos contraditórios possam ter se anulado no cálculo, e que mais esclarecimentos só deverão surgir com a publicação da ata da reunião.



