Ciclo de cortes nos juros dos EUA eleva otimismo dos gestores com investimentos no Brasil
O Ibovespa alcançando a marca de 145 mil pontos, estabelecendo um novo recorde histórico, evidencia o clima positivo que domina o mercado brasileiro. Esse entusiasmo está relacionado à expectativa de diminuição dos juros nos Estados Unidos, iniciada na última quarta-feira (17), com o Federal Reserve (Fed) promovendo seu primeiro corte na taxa básica em vários anos, reduzindo-a em 0,25 ponto percentual.
Essa queda nos juros americanos aponta para um crescimento do apetite por risco entre investidores globais, especialmente em mercados emergentes, o que tem impulsionado o desempenho da Bolsa brasileira e indica uma tendência que deve persistir.
De acordo com pesquisa mensal do BTG Pactual com gestores de carteiras, a parcela de investidores otimistas quanto ao Brasil aumentou de 44% em agosto para 66% em setembro. Tal movimento está relacionado não só ao cenário internacional, mas também à expectativa doméstica. Apesar do Comitê de Política Monetária (Copom) ter mantido a taxa Selic em 15% ao ano, há a perspectiva de início do ciclo de flexibilização monetária em 2026, animando o mercado.
Esse contexto tem gerado um sentimento de “FOMO” (“fear of missing out”, ou medo de ficar de fora), levando investidores locais a não quererem perder a oportunidade de um possível rali no mercado, motivado pelos cortes de juros ou condições políticas favoráveis. Segundo o BTG, isso mantém a elevada alocação em ativos brasileiros mesmo com o Ibovespa próximo de sua máxima histórica.
Na pesquisa, apenas 12% dos investidores planejam reduzir sua exposição à Bolsa brasileira depois do recente pico. Além disso, 59% dos gestores agora esperam que o índice termine o ano entre 140 mil e 150 mil pontos, alta em relação a 46% do mês anterior. Enquanto isso, o grupo mais otimista, que acredita em fechamento acima de 150 mil pontos, cresceu de 4% para 23%.
Suporte para esse otimismo é confirmado por análise da equipe de research da XP Investimentos, que verificou o desempenho das ações brasileiras em ciclos passados de afrouxamento monetário nos EUA. No primeiro ano após o começo dos cortes da taxa americana, o Ibovespa registrou retorno médio de 32,1% em reais e 41,2% em dólares, superando índices de outros mercados emergentes, globais e também a renda fixa local.
Como gestores estão reposicionando seus investimentos
O entusiasmo com os investimentos no Brasil também pode ser observado na estratégia adotada por grandes gestores do país. As recentes cartas de gestão indicam um consenso em meio a movimentos de realocação de fundos dos EUA para mercados emergentes, incluindo o Brasil.
Além do aumento gradual da exposição à Bolsa brasileira por algumas gestoras, o destaque do momento nas carteiras tem sido a moeda nacional.
A Necton Investimentos compilou posições relevantes de 15 gestoras em setembro, como Ibiuna, Legacy, Occam, Kinea, ASA, Armor, Quantitas, Itaú Janeiro, Opportunity, Novus, Itaú Artax, Vinland, Adam, Bahia e Kinitro.
Dentre elas, cinco – Kinea, Quantitas, Itaú Janeiro, Vinland e Kinitro – mantêm posições compradas em real, enquanto seis – Ibiuna, Legacy, ASA, Itaú Janeiro, Vinland e Bahia – estão vendidas em dólar. Também ganham espaço apostas favoráveis ao euro.
Na carta mensal da gestora Itaú Janeiro, sediada na Faria Lima e liderada pelo ex-diretor do Banco Central Bruno Serra, é enfatizada a convicção no enfraquecimento do dólar frente às moedas globais principais, especialmente euro, iene e real. Quanto à Bolsa, mantêm posição comprada no Ibovespa, confiando na continuidade do cenário favorável.
Sobre a Bolsa brasileira, a Bahia Asset é uma das poucas com postura vendida, enquanto a maioria das gestoras assume posição neutra. A Kinitro destaca preferência por capturar momentos favoráveis aos mercados emergentes por meio de exposição cambial ao invés de ações domésticas.
Na análise da Kinitro, a economia americana pode surpreender positivamente no segundo semestre, limitando cortes agressivos da taxa pelo Fed, e a estratégia é reduzir posições em índices americanos que parecem caros, apesar dos bons fundamentos do setor de tecnologia. Na frente cambial, preferem compras em moedas com carry alto, como o real, e vendas em moedas com carry baixo, como o euro e franco suíço, mantendo otimismo nos ativos locais, mas com redução tática das exposições diante da expectativa por eventos políticos relevantes.
O julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de estado, assim como potenciais surpresas da atividade econômica brasileira impulsionadas por medidas fiscais, são vistos como fontes de volatilidade no curto prazo. Embora não interrompam o processo de desaceleração econômica atual, podem justificar a manutenção dos juros em patamares elevados até o segundo trimestre de 2026, conforme avaliado pela Kinitro.



