OCDE prevê desaceleração econômica no Brasil e no cenário global devido ao ‘tarifaço’ de Trump
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou nesta terça-feira, 23 de setembro de 2025, um relatório que indica um crescimento mais lento para a economia mundial nos próximos anos, destacando que o Brasil se encontra particularmente vulnerável a essa tendência.
Após um avanço expressivo de 3,4% em 2024, a expectativa para o crescimento brasileiro neste ano é de apenas 2,3%, com a previsão caindo ainda mais para 1,7% em 2026, conforme aponta a OCDE. Esse cenário mais negativo está fortemente associado às medidas tarifárias implementadas pelo governo dos Estados Unidos sob Donald Trump.
Em 2025, os EUA elevaram as tarifas bilaterais para quase todos os seus parceiros comerciais, atingindo uma taxa efetiva de 19,5% sobre as importações, o valor mais alto desde 1933. Esse aumento tem causado um impacto direto e severo nas economias parceiras, como o Brasil, a China e a Índia, especialmente afetando produtos agrícolas que compõem grande parte das exportações brasileiras. Para o Brasil, as tarifas chegaram a patamares de até 50%.
O relatório da OCDE destaca que, inicialmente, as empresas têm conseguido absorver parte desse aumento nas tarifas por meio de margens de lucro maiores, mas esse cenário está próximo do fim. A tendência é que os consumidores comecem a sentir no bolso os efeitos dessas medidas, principalmente em bens duráveis que possuem alto conteúdo importado, como veículos e eletrônicos.
O País teve um impulso no crescimento no primeiro trimestre de 2025, graças a um avanço na produção agrícola, porém essa alta não se mostra sustentável. A pressão das tarifas mais elevadas afeta as cadeias de suprimentos e diminui a competitividade brasileira no mercado externo, sinalizando uma provável desaceleração gradual da economia.
Perspectivas globais e desafios para a economia mundial
Em escala global, a OCDE prevê que o crescimento, que foi de 3,3% em 2024, deverá reduzir para 3,2% em 2025 e 2,9% em 2026. Esses números representam uma ligeira melhora em comparação à projeção anterior de junho, que indicava um crescimento de 2,9% para 2025.
A desaceleração esperada resulta, em grande parte, do término do chamado “front-loading” de produção e comércio, que antecipou atividades produtivas e comerciais no primeiro semestre de 2025, antes que as novas tarifas americanas fossem implementadas.
Além disso, as incertezas políticas aliadas ao aumento das tarifas impactaram negativamente o investimento e o comércio internacional, em um contexto ainda desafiante pela recuperação da pandemia da covid-19.
A OCDE ressalta que economias emergentes, como alguns países asiáticos, têm apresentado maior resiliência do que o esperado, excedendo projeções de crescimento. Porém essa resistência pode não se manter a longo prazo, especialmente em nações como o Brasil, onde já se observa redução nas exportações e efeitos concretos nos mercados de trabalho.
Há um risco crescente de que a desaceleração seja ainda mais intensa em 2026, caso as tarifas permaneçam elevadas e as condições políticas globais continuem instáveis.
Destaques regionais: Estados Unidos, Europa e Ásia
Nos Estados Unidos, o crescimento esperado para 2025 é de 1,8%, queda significativa em relação aos 2,8% verificados em 2024. A combinação de tarifas mais altas, redução na imigração líquida e instabilidade política são apontadas pela OCDE como os principais fatores dessa desaceleração. A organização também chama a atenção para a possibilidade de aumentos adicionais nas tarifas, que podem agravar ainda mais o cenário econômico norte-americano.
Na Europa, a zona do euro deve apresentar crescimento modesto, estimado em 1,2% para 2025 e 1% para 2026, com dificuldades advindas das fricções comerciais e da instabilidade geopolítica, elementos que têm afetado a demanda interna. Apesar da existência de crédito relativamente acessível para suavizar o impacto, a falta de segurança nas políticas fiscais e as restrições comerciais colocam um limite às perspectivas de um crescimento mais robusto. Países como França e Itália enfrentam ainda desafios fiscais suplementares que podem frear sua recuperação econômica.
Na Ásia, a China deverá crescer 4,9% em 2025 e 4,4% em 2026, um ritmo inferior ao dos anos anteriores. O crescimento chinês tem sido sustentado principalmente por maiores gastos públicos e medidas fiscais, mas enfrenta pressões devido ao enfraquecimento do setor imobiliário e às tensões comerciais com os Estados Unidos.
Outros emergentes asiáticos, como Índia, México e Indonésia, apresentam perspectivas mais favoráveis. A Índia, por exemplo, projeta crescimento de 6,7% em 2025 e 6,2% em 2026, apoiado por reformas fiscais e políticas monetárias flexíveis implementadas recentemente.



