Preço Do Café Nos EUA Sobe E Congresso Quer Revogar Tarifas

Preço Do Café Nos EUA Sobe E Congresso Quer Revogar Tarifas

Preço do Café Sobe nos EUA e Parlamento Busca Contornar Medidas de Trump

Dois parlamentares americanos, um do Partido Republicano e outro do Democrata, apresentaram uma proposta bipartidária intitulada “No Coffee Tax Act” que visa eliminar imediatamente as tarifas sobre o café nos Estados Unidos.

É provável que muitas pessoas comecem o dia com uma ou duas xícaras de café, uma bebida consumida em aproximadamente 2,25 bilhões de xícaras diariamente ao redor do mundo. O café é a segunda commodity mais valiosa comercializada globalmente, ficando atrás apenas do petróleo. Quase 120 milhões de pessoas dependem direta ou indiretamente do cultivo e comercialização do café para seu sustento econômico.

No entanto, devido principalmente às tarifas impostas durante o governo Trump, o preço do café nos EUA tem aumentado significativamente, com uma alta de 38,73% em relação ao ano anterior, segundo analistas dos contratos futuros do mercado de café.

Além dos efeitos climáticos adversos e problemas na cadeia de suprimentos que pressionaram os preços para cima, as tarifas sobre importações de dois grandes produtores mundiais — Brasil e Vietnã — são apontadas como fatores que podem ampliar ainda mais o custo do café para os consumidores americanos.

Impacto e função das tarifas sobre o comércio de café

As tarifas representam impostos aplicados sobre bens importados, geralmente utilizadas pelos países para arrecadação ou para proteger setores industriais locais contra concorrência estrangeira. A lógica dessas tarifas é que, ao encarecer produtos externos, as importações diminuem e o consumo de bens nacionais aumenta, quando disponíveis.

Embora sejam consideradas eficientes para impulsionar a fabricação local em setores que podem ser desenvolvidos internamente — como a indústria automobilística — as tarifas não são eficazes para produtos que não são viáveis de serem produzidos em território americano, como é o caso do café.

O cultivo do café depende de condições ambientais específicas, caracterizadas por climas tropicais amenos, solos férteis e bem drenados, alta umidade e baixa incidência de pragas. Essas características fazem parte do chamado Cinturão do Café, situado entre os trópicos de Câncer e Capricórnio. Países como Brasil, Colômbia, Etiópia e México compõem essa região produtora, com o Brasil respondendo por cerca de 33% da produção mundial.

Nos Estados Unidos, apenas o estado do Havaí está situado dentro desse cinturão, possibilitando uma produção de café reduzida que corresponde a menos de 1% da produção global. Portanto, os EUA não possuem capacidade para produzir café suficiente que atenda sua demanda interna.

Isenções e disputas legais em torno das tarifas

Em 5 de setembro, o ex-presidente Trump assinou uma ordem executiva atualizando o sistema tarifário, incluindo um anexo extenso que lista produtos considerados como “recursos naturais indisponíveis”, que podem ser excluídos de futuras tarifas recíprocas. O café está incluído nessa lista, embora sujeito a negociações posteriores.

Apesar disso, atualmente o café ainda enfrenta tarifas que podem alcançar até 50%, assim como outros produtos brasileiros como carne bovina, açúcar, soja e laranja. Curiosamente, ao contrário da maioria dos países afetados pelas tarifas, o Brasil apresenta superávit comercial em relação aos Estados Unidos.

As tarifas abrangentes foram contestadas na Justiça, tendo um tribunal federal em Washington declarado ilegal em agosto o uso da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) por parte de Trump para impor tais medidas. O tribunal entendeu que o poder para impor tarifas cabe exclusivamente ao Congresso americano, conforme estipula a Constituição. Trump recorreu à Suprema Corte, que deverá julgar o caso na primeira semana de novembro, mantendo as tarifas vigentes até lá.

O projeto “No Coffee Tax Act” e os argumentos dos parlamentares

Sem aguardar a decisão da Suprema Corte, os deputados Don Bacon, republicano de Nebraska, e Ro Khanna, democrata da Califórnia, apresentaram o “No Coffee Tax Act”, uma proposta que pretenderia revogar as tarifas que incidem sobre os produtos relacionados ao café desde 19 de janeiro de 2025, excetuando substitutos que contenham café.

Don Bacon ressaltou que o crescimento do preço do café — já 21% mais caro no mercado americano — pesa no bolso das famílias, e que a taxação de um produto não cultivado em escala comercial nos EUA apenas agrava a situação. Segundo ele, as tarifas funcionam como um imposto direto ao consumidor e não contribuem para criação de empregos ou aumento da produção doméstica. Bacon destacou ainda que a Constituição atribui ao Congresso a competência para definir tarifas e que o projeto visa reestabelecer essa prerrogativa legislativa.

Ro Khanna utilizou uma analogia histórica ao lembrar da Revolução Americana, desencadeada em parte por impostos sobre o chá importado. Ele argumenta que as tarifas, que elevaram significativamente o valor do café em um ano, geram insatisfação entre os consumidores, especialmente porque o café é uma bebida essencial para muitos americanos diariamente. O projeto bipartidário busca eliminar essas tarifas para reduzir os preços aos consumidores.

Histórico e importância cultural do café nos Estados Unidos

Embora não tenha sido tão popular no século XVIII, o café acabou superando o chá como a bebida preferida nos EUA. Em 2024, dados da National Coffee Association indicam que 66% dos adultos americanos consomem café diariamente, um índice superior ao consumo de chá, suco, refrigerante e água engarrafada, com uma média de três xícaras por pessoa por dia.

Em meio ao aumento no custo do produto, o hábito pode pesar no orçamento: um café médio no Starbucks custa cerca de US$ 3,25 por 473 ml, enquanto cafeterias independentes cobram em torno de US$ 4,00 pelo mesmo volume. O mercado de cafeterias nos EUA movimenta mais de US$ 68 bilhões por ano.

A descoberta do café remonta ao século IX, quando um pastor de cabras chamado Kaldi percebeu que seus animais ficavam mais enérgicos após comerem os frutos vermelhos do cafeeiro. A bebida foi gradativamente se espalhando, chegando a Veneza no século XVI, onde inicialmente enfrentou resistência de religiosos até que o Papa Clemente VIII aprovou seu consumo após experimentá-la.

Embora a cafeína seja a principal característica associada ao café, a versão descafeinada conquista cerca de 12% dos consumidores americanos diários. O café descafeinado foi inventado acidentalmente em 1903 por Ludwig Roselius, um importador alemão que percebeu que uma carga danificada pela água havia perdido a maior parte da cafeína sem alterar muito o sabor.

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