Startup Brasileira De IA Revoluciona Diagnóstico Neurológico Com R$ 17 Milhões

A healthtech brasileira Neurogram utiliza uma inteligência artificial inovadora para monitorar o cérebro, acelerando diagnósticos neurológicos em hospitais públicos e privados do país.

A Neurogram é uma startup fundada por dois neurocientistas paranaenses, Daniele De Mari e Heitor Ettori, que visa modernizar o processo tradicional e fragmentado de exames de eletroencefalograma (EEG), fundamental para análise da atividade elétrica cerebral.

Os laudos de EEG no Brasil ainda são muitas vezes entregues por meios antiquados, como Dropbox, HDs externos ou sistemas que não conversam entre si, dificultando diagnósticos, elevando custos operacionais e limitando avanços tecnológicos.

A plataforma da Neurogram digitaliza todo o processo dos exames, desde a captação dos sinais até a emissão do laudo, utilizando um sistema compatível com qualquer equipamento do mercado, o que representa um avanço técnico e uma facilidade para hospitais e clínicas.

Recentemente, a startup assegurou um investimento de R$ 17 milhões em uma rodada seed liderada pela Headline, fundo do ex-CEO do Buscapé, Romero Rodrigues. Este aporte marca a fase de expansão da Neurogram, que pretende processar 100 mil exames ainda em 2025.

Além de conquistar contratos com grandes instituições, como o Instituto Estadual do Cérebro, o maior centro de pesquisa neurológica do Brasil, a empresa iniciou também a validação clínica de suas IAs junto à renomada Mayo Clinic, referência mundial em medicina. A rodada anterior, fase pré-seed, foi de US$ 1,4 milhão, captada no Vale do Silício.

Daniele, CEO da empresa, explica que já criaram um produto robusto, validado por médicos, com efeitos positivos em assistência, pesquisa e eficiência clínica, e que a parceria com a Headline é ideal para potencializar o impacto sem comprometer a segurança ou o detalhamento técnico.

Com o novo investimento, a Neurogram planeja expandir sua equipe técnica e reforçar seu setor de P&D para criar uma infraestrutura nacional digitalizada para exames neurológicos, inexistente até então no Brasil, capaz de reduzir em até 60% o tempo de análise dos EEGs mesmo antes do uso da inteligência artificial.

A trajetória de Daniele De Mari

Desde a infância, Daniele frequentava hospitais acompanhando a avó em tratamentos contra o câncer, e foi nessa vivência que percebeu, mais do que a doença, as condições precárias dos sistemas hospitalares mesmo nas instituições de maior porte.

Motivada por essas experiências, aos 22 anos fundou a Neurogram. Hoje, com 25 anos, ela lidera uma empresa que já analisou mais de 50 mil exames neurológicos, possuindo contratos com clínicas e hospitais tanto no Brasil quanto no exterior.

A startup revolucionou o mercado comparando o antigo modelo de armazenamento de exames a guardar sangue em “caixas de papelão”, enquanto eles criaram o “primeiro tubo de ensaio” digital e modernizado.

Funcionamento da plataforma

A solução da Neurogram digitaliza integralmente a jornada do exame, permitindo o envio para a nuvem e elaboração dos laudos remotamente. Além disso, mantém o histórico do paciente, incluindo medicamentos e anamnese, eliminando o uso de HDs externos e planilhas separadas.

Daniele alerta que o envio de exames via Dropbox, prática ainda corrente em algumas clínicas, é ilegal e vulnerável à LGPD, colocando em risco a privacidade dos pacientes.

Foi pioneira em oferecer laudos de EEG em nuvem e a única capaz de interpretar exames produzidos por qualquer equipamento, com integração a prontuários eletrônicos e sistemas hospitalares de gestão.

Esse sistema reduziu o tempo médio de emissão dos laudos de 23 para 9 minutos, sem necessidade inicial da inteligência artificial, gerando uma economia de aproximadamente 60% no tempo.

Com a aplicação dos algoritmos de IA, a redução no tempo é ainda mais expressiva.

Modelo de negócio

A Neurogram atua sob o modelo SaaS (software como serviço), com cobrança baseada no uso. As clínicas pagam pela plataforma e também pelos exames laudados. A empresa já processou dezenas de milhares de exames e projeta multiplicar esse volume por dez até o final do ano de 2025.

Paralelamente, está desenvolvendo um marketplace de algoritmos que permitirá a pesquisadores publicarem suas próprias inteligências artificiais na plataforma, com o propósito de transformar pesquisas científicas em soluções clínicas acessíveis.

Daniele explica que existem criadores de algoritmos valiosos que ficam anos engavetados, e a ideia é ser um serviço equivalente ao “Netflix desses algoritmos”.

Cristhian Cagliari Carniel, CMO da Neurogram, complementa que a startup financia projetos internos e busca parcerias com universidades e centros de pesquisa renomados.

Desafios para a expansão

Segundo Daniele, o maior desafio não está na inteligência artificial propriamente dita, mas no tratamento dos dados.

Organizar informações, padronizar formatos e garantir a engenharia dos dados são trabalhos complexos, comparando ao sucesso do Spotify em permitir a reprodução imediata da música desejada.

Exames de EEG são gerados em pelo menos sete formatos distintos, incompatíveis entre si, e muitas vezes o transporte dos dados entre hospitais depende até de entregas físicas feitas por motoboys com HD.

Para superar essas barreiras, a Neurogram criou uma base de dados unificada de exames e fechou parcerias com fornecedores que detêm 70% do mercado brasileiro desses equipamentos.

Aplicação da inteligência artificial

A startup lançou seu primeiro algoritmo orientado para exames de sono, capaz de analisar até 800 telas de um exame de oito horas em aproximadamente dois minutos, quando um técnico humano precisaria de mais de 40 minutos para a mesma tarefa.

A tecnologia recebeu aprovação da Anvisa e, juntamente com a Unifesp, está sendo usada para agilizar e diminuir as filas de exames no SUS.

Além disso, está sendo desenvolvido um sistema de IA para monitoramento neurológico em unidades de terapia intensiva, cuja validação é realizada pela Mayo Clinic. Atualmente, apenas 1% dos pacientes em UTI são monitorados neurologicamente, com essa tecnologia é possível alcançar 100% do monitoramento em tempo real.

Impactos do investimento da Headline

A rodada de investimento não só trouxe capital, mas também reforçou o conselho da empresa com nomes experientes: Romero Rodrigues, sócio da Headline, atua como advisor ao lado de executivos como Fabio Katayama, ex-CEO do Hospital Samaritano, e Paula Jereissati Gentil, ex-vice-presidente global da Johnson & Johnson.

Romero destaca que a Neurogram enfrenta um problema real com uma solução tecnicamente sofisticada e escalável, combinando conhecimento científico, visão de produto e adesão clínica.

Com o aprimoramento da regulamentação sobre dados de saúde, a startup acredita que uma infraestrutura digital consolidada para EEG será essencial não apenas para laudos, mas também para avanços em pesquisas, prevenção e desenvolvimento de novos tratamentos.

Daniele finaliza afirmando que o objetivo principal é simplificar a neurologia, ajudando os profissionais a oferecer diagnósticos mais rápidos, precisos e contextualizados.

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