Volume negociado em debêntures, CRIs e CRAs registra crescimento de 21%
Os investimentos em títulos de crédito privado, como debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), alcançaram um volume recorde de negociações no terceiro trimestre deste ano, conforme levantamento da Pop BR, empresa especializada em precificação de ativos de crédito vinculada à LUZ Soluções Financeiras. Durante esse período, tais papéis movimentaram R$ 327 bilhões no mercado secundário, evidenciando um avanço de 21% em comparação ao trimestre anterior e um crescimento de 26% frente ao mesmo período do ano passado.
Ao todo, foram registradas aproximadamente 1,2 milhão de operações de compra e venda, o que representa um aumento próximo a 10% em relação ao segundo trimestre. No detalhamento, as debêntures registraram 592,4 mil negociações, os CRAs chegaram a 372,5 mil operações, e os CRIs somaram 238,8 mil transações.
Observando a média de papéis por operação, as debêntures mostraram crescimento ao saltar de 3.300 unidades no segundo trimestre para 5.600 no terceiro. Segundo Aruã Torigoe Kalmus, analista responsável pelo estudo na Pop BR, esse movimento sugere uma volta mais forte dos investidores institucionais, que geralmente realizam menos operações, porém com maior volume em cada uma delas. Esse padrão indica uma concentração das negociações entre participantes com maior capacidade financeira e estratégias mais sofisticadas.
Kalmus destaca ainda que, apesar de pessoas físicas poderem adquirir diretamente esses ativos, a complexidade dessas aplicações requer um alto grau de conhecimento. Isso porque a análise envolve avaliação do risco de crédito, garantias, estrutura do título, fluxo de pagamentos e cláusulas contratuais específicas. Além disso, identificar se o preço do papel está justo ou se há uma boa oportunidade demanda experiência e acesso a informações nem sempre disponíveis ao investidor comum. Por esse motivo, muitos optam por investir nesse segmento via fundos especializados que contam com equipes profissionais dedicadas à análise desse tipo de ativo.
Principais ativos negociados no terceiro trimestre
De acordo com o levantamento da Pop BR, as debêntures mais negociadas no período estiveram concentradas em empresas dos setores tradicionalmente considerados mais seguros, como utilities (serviços públicos). Abaixo estão os dez papéis com maior volume financeiro movimentado:
- ENGIA8 (Energisa S.A.): R$ 6,34 bilhões – Rentabilidade DI + 1,6% – Não incentivada
- SBSPF3 (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp): R$ 5,6 bilhões – IPCA + 7,38% – Incentivada
- NTSD18 (Nova Transportadora do Sudeste S.A.): R$ 4,98 bilhões – DI + 0,8% – Não incentivada
- PASS12 (Compass Gás e Energia S.A.): R$ 4,1 bilhões – DI + 1,55% – Não incentivada
- CHSF13 (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf): R$ 3,96 bilhões – IPCA + 6,77% – Incentivada
- VALEB0 (Vale S.A.): R$ 3,69 bilhões – IPCA + 6,44% – Incentivada
- EQPA18 (Equatorial Para Distribuidora de Energia S.A.): R$ 3,68 bilhões – IPCA + 7,75% – Incentivada
- EUFA17 (Eurofarma Laboratórios S.A.): R$ 3,64 bilhões – DI + 1,3% – Não incentivada
- EQTL17 (Equatorial Energia S.A.): R$ 3,56 bilhões – DI + 0,72% – Não incentivada
- IRJS15 (Iguá Rio de Janeiro S.A.): R$ 3,53 bilhões – IPCA + 7,13% – Incentivada
Quanto aos CRIs, os títulos imobiliários mais movimentados no terceiro trimestre são:
- 21F0097589 – R$ 2,01 bilhões – Pulverizado – IPCA + 6,5%
- 13I0049561 – R$ 1,63 bilhão – BTG Pactual Serviços Financeiros S.A. DTVM – 96% do CDI
- 24J2539865 – R$ 1,38 bilhão – Axis Solar XI Empreendimentos e Participações S.A. – IPCA + 7,42%
- 25B3110439 – R$ 1,33 bilhão – Iguatemi PPPH Participações Ltda – 99% do CDI
- 22L1465644 – R$ 1,09 bilhão – Anima Holding S.A. – DI + 1,65%
- 24F1532998 – R$ 997 milhões – Yuny Incorporadora Holding S.A. – DI + 3,7%
- 24L2814870 – R$ 860 milhões – Helbor Empreendimentos S.A. – DI + 3%
- 24H1938840 – R$ 812 milhões – Lux 600 Vila Nova Conceição Empreendimento Imobiliário SPE Ltda – DI + 3,5%
- 25B3099731 – R$ 776 milhões – Iguatemi PPPH Participações Ltda – 96% do CDI
- 24L1567349 – R$ 662 milhões – Lumini FII – IPCA + 8%
Entre os CRAs, os papéis com maior volume financeiro foram:
- CRA024009Q4 – R$ 2,11 bilhões – Marfrig Global Foods S.A. – IPCA + 7,37%
- CRA024004H7 – R$ 1,88 bilhão – São Martinho S/A – 100% do CDI
- CRA022008NB – R$ 1,07 bilhão – Raízen Energia S.A. – IPCA + 6,59%
- CRA023007VD – R$ 1,02 bilhão – Engelhart CTP (Brasil) S.A. – 101% do CDI
- CRA019003V3 – R$ 989 milhões – Raízen Energia S.A. – IPCA + 3,6%
- CRA020001P8 – R$ 885 milhões – Raízen Energia S.A. – IPCA + 5,8%
- CRA025003PJ – R$ 871 milhões – Seara Alimentos S.A. – IPCA + 7,8%
- CRA02400AHZ – R$ 737 milhões – Refrescos Bandeirantes Indústria Comércio Ltda – IPCA + 7,41%
- CRA02400AYP – R$ 723 milhões – Minerva S.A. – 14,68%
- CRA025005V5 – R$ 697 milhões – Minerva S.A. – 104,5% do CDI
O que são esses ativos?
Debêntures, CRIs e CRAs são categorias de investimentos conhecidos como crédito privado, onde o investidor está emprestando recursos para empresas. No caso das debêntures, as companhias emitem títulos de dívida para captar recursos visando financiar projetos, como expansão de fábricas ou lançamento de produtos. Quem adquire essas debêntures recebe o valor emprestado acrescido dos juros acordados ao final do período determinado.
Já os CRIs e CRAs são emitidos por securitizadoras para financiar setores específicos: imobiliário e agronegócio, respectivamente. Essas entidades transformam créditos originários de recebíveis, como duplicatas e notas promissórias, em títulos com lastro garantido por bens como imóveis ou maquinário. Assim, esses ativos contam com garantias que sustentam seu valor.
Importante esclarecer que o volume reportado se refere ao mercado secundário, ou seja, negociações de papéis já emitidos e que circulam entre investidores, não representando captações iniciais pelas empresas.