Petroleiras Chinesas Avançam No Pré-Sal Brasileiro Com Estratégia Focada

Petroleiras Chinesas Avançam No Pré-Sal Brasileiro Com Estratégia Focada

Petroleiras chinesas aumentam presença no pré-sal brasileiro

Três empresas estatais da China já representam cerca de 6% da produção de petróleo dos campos brasileiros, uma participação que cresceu significativamente, tendo sido apenas 2% em 2021.

plataforma de petróleo

A China lidera mundialmente a produção de carros elétricos como parte de sua política para reduzir dependência do petróleo. A produção chinesa diária atinge 4,2 milhões de barris, superando o Brasil, que produz 3,8 milhões de barris por dia. Entretanto, o consumo do país asiático é próximo ao dos Estados Unidos, totalizando 16 milhões de barris diariamente, ficando apenas 3 milhões atrás do consumo americano.

Diferente dos EUA, que alcançaram a autossuficiência com 20 milhões de barris produzidos diariamente, a China depende fortemente de importação para suprir suas necessidades, sendo o maior importador mundial de petróleo.

No contexto das exportações brasileiras, a China compra uma fatia expressiva: em 2024, foram 750 mil barris por dia destinados ao país asiático, representando 44% do total de 1,7 milhão de barris exportados pelo Brasil. Além disso, uma parcela crescente desse petróleo extraído em solo brasileiro é proveniente de empresas chinesas instaladas no país.

Dados recentes, de agosto de 2025, indicam que essas estatais chinesas retiraram 221,7 mil barris diários do litoral brasileiro, o que corresponde a 5,7% da produção nacional.

Embora ainda inferior à participação do Reino Unido, que detém 11% devido à presença da Shell, segunda maior concessionária no Brasil, o avanço chinês é notável, posicionando a China como a terceira maior player em território nacional, atrás apenas do Brasil e do Reino Unido.

As empresas estatais chinesas atuantes no Brasil são a Sinopec, CNPC (China National Petroleum Corporation) e CNOOC (China National Offshore Oil Corporation). Em 2021, sua participação era modesta, em torno de 2%, tendo triplicado desde então.

No entanto, a estratégia chinesa não visa apenas aumentar volume indiscriminadamente. Valorizam-se mais os campos de alta qualidade e com potencial de produção prolongada. O foco é evidente nos maiores e mais produtivos campos do pré-sal.

A estratégia chinesa e seu “mandato duplo”

Rivaldo Moreira Neto, diretor de infraestrutura da consultoria Alvarez & Marsal, descreve a abordagem chinesa como um “mandato duplo”, conceito que remete ao equilíbrio buscado pelo Federal Reserve americano entre controle de inflação e combate ao desemprego.

Para as estatais chinesas, o mandato duplo compreende:

  • Busca por retorno financeiro;
  • Garantia de segurança no acesso às reservas de petróleo.

“Segurança” aqui significa priorizar investimento em campos grandes, capazes de produzir por longos períodos. No pré-sal, embora haja 31 campos de petróleo, três deles concentram 70% da produção total.

Exatamente nestes três grandes campos as petroleiras chinesas canalizam suas operações. Em Búzios, por exemplo, detêm uma participação combinada de 11,1%: CNPC com 3,7% e CNOOC, especializada em águas profundas, com 7,4%. O restante pertence à Petrobras.

Enquanto CNOOC e CNPC atuam diretamente no Brasil, a Sinopec faz sua entrada por meio de joint ventures, como no campo de Tupi, onde possui 30% da participação em parceria com a portuguesa Galp (que detém 70%). Assim, a Sinopec tem na prática 3% do campo.

Além disso, a Sinopec participa em outros cinco campos menores via joint ventures, incluindo uma com a espanhola Repsol, totalizando presença em 12 campos, o que corresponde a aproximadamente 35% dos campos do pré-sal.

Por sua vez, CNOOC e CNPC mantêm uma postura mais focada, atuando exclusivamente nos campos gigantes Búzios e Mero, mas sua produção conjunta supera a da Sinopec.

Para contextualizar, a produção da CNOOC no Brasil excede a da Prio, a maior petroleira independente brasileira.

Nem todo avanço chinês sinaliza crescimento. A estatal Sinochem, por exemplo, deixou o mercado brasileiro ao vender sua participação de 40% no campo de Peregrino para a Prio, parte de uma operação que totalizou US$ 1,9 bilhão em setembro do ano passado. Em maio deste ano, a Prio completou a compra do campo, adquirindo os outros 60% da empresa norueguesa Equinor por US$ 3,5 bilhões.

Perfil e aprendizado: investidores financeiros não-operadores

Outro aspecto da atuação chinesa é a preferência por participar como investidores não-operadores, deixando as decisões operacionais e técnicas para a Petrobras, que opera os campos principais do pré-sal, como Búzios, Tupi e Mero.

Essa decisão está ligada a vários fatores. Grande parte da produção chinesa ocorre em terra (70%), não possuindo tradição expressiva em operações offshore como as do Brasil. Mesmo a CNOOC, criada para operações marítimas, age de forma conservadora diante da complexidade do pré-sal.

Rivaldo Moreira Neto ressalta que o pré-sal é uma província muito particular, complexa, e entrar num novo país para administrar campos dessa magnitude não é trivial. Assim, estar ao lado da Petrobras é uma forma estratégica de aprender para possivelmente, no futuro, controlar operações.

Essa postura de aprendizado reflete um padrão já visto na indústria automotiva chinesa, onde montadoras estrangeiras, entre 1980 e 2000, só conseguiam acessar o mercado local por meio de joint ventures com estatais chinesas, como SAIC-Volkswagen, Dongfeng-Peugeot, entre outras. Assim, os chineses assimilaram conhecimento e hoje lideram a produção de veículos elétricos globalmente. Espera-se que o setor petrolífero siga trajetória semelhante.

Plataforma P-74 no campo de Búzios, operado pela Petrobras com duas sócias chinesas

Foto: Divulgação/Petrobrás

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