Seguro Rural: Risco de 95% da Área Plantada Ficar Desprotegida

Seguro Rural: Risco de 95% da Área Plantada Ficar Desprotegida

Buraco de R$ 3 Bilhões: Quase 95% da Área Plantada no Brasil Pode Encerrar 2025 sem Seguro Rural

Um levantamento inédito da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) revela que o Brasil poderá finalizar 2025 com a cobertura de seguro rural em níveis semelhantes aos registrados há dez anos, caso o atual ritmo de contratação das apólices persista.

O agronegócio brasileiro, que representa cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, enfrenta hoje um dilema preocupante. A área plantada está em expansão, atingindo 97 milhões de hectares, mas a proteção financeira contra riscos diminui de forma drástica.

O orçamento previsto para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) seria de R$ 4 bilhões, porém, atualmente, ele não ultrapassa R$ 1 bilhão, configurando um déficit de cerca de R$ 3 bilhões nas contas do programa.

Até o mês de julho de 2025, apenas 2,2 milhões de hectares estavam protegidos por seguro, o que corresponde a apenas 2,3% da área plantada nacionalmente. O PSR foi instituído pelo governo federal através do Decreto nº 5.121, de 2004, que regulamentou a Lei nº 10.823 de 2003, tendo sido operado a partir de 2005 como projeto-piloto e consolidado em 2006.

Para comparação, nos Estados Unidos, cerca de 90% da área plantada das principais culturas é coberta pelo programa federal de seguro, no qual o governo financia em média 60% do valor do prêmio.

O economista Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, destaca que “a área protegida no Brasil ainda permanece muito reduzida, expondo milhares de produtores ao risco de sofrer perdas totais em uma única safra”. Segundo ele, o seguro rural é uma ferramenta crucial para garantir a resiliência e a sustentabilidade dos agricultores frente a eventos climáticos adversos.

Com a média mensal atualizando-se na ordem de 6,7 mil apólices pelo PSR, a projeção aponta para o encerramento de 2025 com cobertura para apenas 4 a 5 milhões de hectares, um índice que o país já possuía em 2015.

Naquele ano, o Brasil cultivava 78,1 milhões de hectares, tendo segurado 2,6 milhões, o equivalente a 3,3% da área plantada. Em 2025, apesar do aumento da área cultivada em 24,2%, para 97 milhões de hectares, o seguro rural cobriu até julho apenas 2,2 milhões de hectares, ou seja, 2,3% da área.

A instabilidade orçamentária prejudica o seguro rural

Essa regressão no seguro rural é reflexo direto da instabilidade orçamentária e da indefinição na concessão dos subsídios públicos. Em relação a 2024, estima-se que o número de contratos via PSR fique 40% menor, e 62% inferior ao auge registrado em 2021, quando foram emitidas mais de 200 mil apólices.

A diminuição do subsídio tem compelido produtores, que lidam com margens financeiras estreitas e acesso a crédito mais oneroso, a segmentar suas coberturas, contratando seguros para áreas menores ou priorizando culturas consideradas de alto risco, como o milho safrinha.

Glaucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), alerta que a escassez de subvenções acaba atingindo justamente os produtores mais vulneráveis, deixando-os desprotegidos. Por outro lado, agricultores com maior capital continuam adquirindo seguros mesmo sem o apoio governamental.

Ele ressalta que “sem essa proteção, entra-se em um círculo vicioso: o produtor quebra, o governo precisa criar programas emergenciais para renegociar dívidas, o que acaba drenando os cofres públicos”. Toyama acrescenta que esse cenário pode desestimular a sucessão familiar no campo, com as novas gerações desistindo da atividade devido à percepção de insustentabilidade.

O impasse na política de subvenções, combinado à restrição na liberação de crédito rural, provoca um ciclo de fragilização. A queda na cobertura do seguro representa não só um risco econômico individual, mas também uma ameaça à segurança alimentar do país e à capacidade produtiva no longo prazo.

De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), seriam necessários cerca de R$ 4 bilhões para suprir adequadamente as demandas dos agricultores pelo seguro rural, um valor que contrasta fortemente com o modelo praticado em outras nações agrícolas de destaque.

Dyogo Oliveira destaca que “o atual modelo de financiamento do PSR está sob forte restrição orçamentária e não é mais viável. Muitas vezes, os recursos previstos sequer são efetivamente aplicados, comprometendo a proteção dos pequenos e médios produtores, os que mais dependem dessa cobertura”.

Entre janeiro e agosto de 2025, o seguro rural sofreu uma queda de 6,7% na arrecadação, totalizando R$ 8,7 bilhões, além de uma retração de 7,4% no pagamento de indenizações, que somaram R$ 3,1 bilhões. Esses dados confirmam uma fragilização da ferramenta, refletindo diretamente na renda e na estabilidade financeira dos produtores rurais.

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