Ouro ou dólar: qual investimento oferece hoje rentabilidade sem abrir mão da proteção
O debate sobre investir em ouro ou dólar ressurgiu com intensidade entre investidores recentemente. Após uma queda superior a 6% na semana passada, o ouro recuperou parte dos seus valores devido ao aumento das tensões geopolíticas no início desta semana, reafirmando seu papel como ativo seguro em momentos de instabilidade. O metal chegou a ser cotado em US$ 4.381 por onça, alcançando um recorde histórico, mas depois voltou para próximo de US$ 4.050, em razão de uma redução temporária das tensões entre EUA e China, diminuindo assim a demanda por proteção.
Paralelamente, o dólar americano apresentou volatilidade significativa. Depois de atingir R$ 6,26 em dezembro de 2024, a moeda oscilou entre R$ 5,50 e R$ 5,70 ao longo do ano, mas recentemente caiu para patamares abaixo de R$ 5,40. Na última segunda-feira (27), por exemplo, o dólar à vista encerrou em baixa frente ao real, influenciado pela desvalorização perante outras moedas e pela repercussão da reunião entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente dos EUA Donald Trump, durante uma nova fase das negociações comerciais entre os dois países.
De acordo com especialistas, a escolha entre os dois ativos não deve ser encarada como uma competição para apontar um vencedor. Welinton dos Santos, conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), destaca que o dólar oferece liquidez e acesso ao mercado financeiro global mais dinâmico, enquanto o ouro funciona como uma espécie de seguro, valorizando-se justamente quando os investimentos mais arriscados perdem valor.
O ouro permanece como um porto seguro clássico em momentos de crise, ainda que suas recentes flutuações tenham motivado investidores a reconsiderar suas posições. Por sua vez, o dólar, mesmo sofrendo com sinais de desaceleração econômica nos EUA, continua sendo o ativo de proteção preferido em períodos incertos. “A decisão sobre onde investir deve levar em consideração não apenas o contexto atual, mas também as projeções futuras para a economia mundial e para a inflação”, afirma Welinton.
Leonardo Andreoli, analista da Hike Capital, observa que o ouro apresenta atualmente uma ligeira vantagem diante do aumento dos riscos globais. O metal acumula alta de aproximadamente 50% até outubro de 2025, impulsionado pela busca por proteção contra a inflação, desvalorização das moedas e fragilidade dos sistemas financeiros.
O dólar ainda representa cerca de 58% das reservas oficiais internacionais em 2024 e 2025, mantendo seu status como moeda de reserva global. No entanto, sinais de desgaste vêm aparecendo, como a queda do índice DXY, perda de confiança e movimentos de dedolarização. Segundo Andreoli, para quem opta por concentrar seus investimentos em um único ativo diante da instabilidade atual, o ouro surge como alternativa mais segura no curto e médio prazo, oferecendo proteção contra a desvalorização das moedas e a perda de confiança nos mercados, sem que isso signifique abrir mão completamente do dólar.
Ouro e dólar: oportunidades exigem cautela
Andreoli também destaca que o ouro tem apresentado sensibilidade ao sentimento dos mercados, abrindo oportunidades para quem acredita na continuidade das tensões geopolíticas e pressões inflacionárias, mas alerta para a necessidade de prudência, já que o curto prazo pode trazer oscilações acentuadas. Relatórios recentes indicam que a correlação entre ouro, dólar e ativos de risco tem se enfraquecido, dificultando a previsão do momento ideal para comprar.
O dólar, embora ainda seja o principal refúgio global, exibe sinais de enfraquecimento. Segundo o analista, a moeda domina o comércio internacional, as reservas dos bancos centrais e o mercado de dívida, mas a sua queda de 10% a 11% na primeira metade de 2025, a maior em décadas, levanta preocupações.
Em episódios de estresse, o dólar chegou a cair simultaneamente com ações e títulos, questionando a ideia de proteção absoluta. Para investidores, entende-se que é fundamental conhecer essas nuances para equilibrar segurança e oportunidade na carteira.
“Embora o dólar mantenha seu status técnico, sua função como proteção pura depende de condições excepcionais e em crises severas (fiscais, políticas ou monetárias) ele tende a oscilar. Para os investidores brasileiros, é preciso considerar a dependência cambial, o risco-país e a inflação local”, avalia Andreoli.
Posicionamento do investidor brasileiro entre ouro e dólar
Para investidores do Brasil, o confronto entre ouro e dólar reforça a importância de manter uma carteira com exposição a ativos denominados em moedas fortes, especialmente o dólar. Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, frisa que investir em dólar vai além da compra direta da moeda, incluindo também ações, títulos e fundos imobiliários (Reits) listados nos Estados Unidos, todos precificados na moeda americana.
Ele destaca que os EUA possuem o maior mercado financeiro mundial e são sede de grandes empresas globais e setores avançados em inovação. Participar desse mercado permite diversificação e potencial de valorização no longo prazo.
Além disso, os ativos cotados em dólar funcionam como proteção natural contra a alta do custo de vida e da inflação brasileira, além de servirem para mitigar riscos políticos, fiscais e institucionais, que incidem principalmente por meio do câmbio.
Shahini aponta que é possível combinar ouro e dólar numa mesma carteira. O ouro, que pertence à categoria dos ativos alternativos, atua como complemento à alocação tradicional em ações e títulos, oferecendo uma camada de proteção em momentos de instabilidade.
Para investidores mais conservadores, a decisão depende do modelo adotado na composição da carteira, visto que o ouro tem volatilidade histórica semelhante à dos índices acionários de países desenvolvidos, como o S&P 500. “Se o investidor conservador não possui renda variável, o ouro provavelmente também não terá espaço”, comenta.
Em carteiras que já incluem ativos de renda variável, o ouro pode funcionar como complemento desse segmento. “Nos meus modelos, costumo reservar cerca de 5% da parte destinada a renda variável para ouro. Assim, um investidor com 40% em renda variável poderia alocar 35% em ações e 5% em ouro”, conclui.



