Como Elie Horn aprendeu a lidar com a derrota e gerenciar o crescimento da Cyrela
O período de efervescência dos IPOs no setor imobiliário entre 2005 e 2007 impulsionou o crescimento da incorporadora Cyrela, mas também trouxe uma importante lição para seu fundador, Elie Horn. Durante esse boom, o caixa da empresa saltou de US$ 10 milhões para US$ 1 bilhão, o que levou a companhia a expandir suas operações para várias regiões do Brasil, incluindo cidades como Porto Alegre, Recife, Natal, Vitória e Salvador.
No entanto, Horn percebeu que essa expansão acelerada estava fora de controle. Como resultado, a empresa encerrou suas atividades em 74 das 80 cidades onde havia começado a atuar. Apesar do custo alto, essa decisão foi crucial para preservar a saúde financeira da Cyrela e demonstrou a importância de reconhecer os próprios erros, algo que Horn define como “aceitar a derrota”.
Essa experiência é relatada no livro “Fora da Nova Curva”, organizado por Florian Bartunek, Giuliana Napolitano e Pierre Moreau. A obra reúne depoimentos de 13 investidores e empreendedores brasileiros relevantes que compartilham suas trajetórias diante das transformações políticas, econômicas e sociais recentes no país. Além de Elie Horn, outros nomes como Alex Behring, Andrea Pinheiro, Luiz Barsi e Paulo Guedes também participam do livro.
Depoimento exclusivo de Elie Horn em “Fora da Nova Curva”
Aceitar a derrota como caminho para a sobrevivência
Horn relembra que durante o boom dos IPOs imobiliários as empresas enfrentaram a pressão de crescimento contínuo por parte dos investidores. Incentivados por jovens do mercado financeiro, ele expandiu as operações da Cyrela para cerca de 80 cidades e iniciou aproximadamente 200 obras simultaneamente. O crescimento do caixa, de US$ 10 milhões para US$ 1 bilhão, deu a ele uma sensação de controle absoluto, mas logo percebeu as dificuldades da rápida expansão.
Ele destaca as particularidades regionais do país – o jeito do paulistano, do nordestino, do carioca e do sulista são diferentes –, o que dificultava a padronização do negócio. Quando identificou a perda do controle, tomou a decisão difícil de fechar as operações em 74 das 80 cidades, ação que implicou alto custo. Essa postura, admite, foi fundamental para proteger a marca Cyrela e o caixa da empresa, diferentemente de concorrentes que não reconheceram seus erros e acabaram falindo. Para Horn, assumir publicamente a responsabilidade pela falha foi o fator decisivo para a recuperação.
Processo de sucessão e gestão familiar
Sobre a continuidade da empresa, Horn enfatiza a importância de uma gestão qualificada, independentemente do caráter familiar do negócio. O fundador acredita na possibilidade de criar uma companhia sólida fora do ambiente familiar, embora destaque que a ganância pode ser um fator que compromete o sucesso.
Ele relata ter tido a sorte de contar com dois filhos, Efraim e Raphael, que possuem competências complementares e foram fundamentais para a continuidade da Cyrela. Antes de levá-los para a empresa, Horn tentou contratar executivos externos, sem sucesso. Sua decisão também foi influenciada pelo avanço da doença de Parkinson, que acelerou o processo de transição.
Efraim destaca-se nas relações humanas e gestão financeira, enquanto Raphael traz uma visão criativa. Horn compara as qualidades dos filhos às suas próprias, distribuídas entre eles, o que tem contribuído para a prosperidade do negócio.
Durante essa fase, Horn teve o apoio de importantes colaboradores, como Sergio Foguel, ex-Odebrecht, e ressalta que sempre praticou a humildade, buscando aprender com diversas pessoas. Hoje, ele não está mais envolvido diretamente na empresa, respeitando a vontade dos filhos.
Um conselho que recebeu há 15 anos marcou sua postura na sucessão: “Deixe seus filhos aprenderem a trabalhar enquanto você ainda está vivo, porque na morte não há mais como corrigir”. Assim, depois de deixar a presidência, Horn aceitou a transição e permitiu que os filhos assumissem o controle, mesmo sendo uma pessoa controladora, compreendendo que essa era a melhor decisão para a companhia.
Informações sobre o livro
Fora da Nova Curva, organizado por Florian Bartunek, Giuliana Napolitano e Pierre Moreau, será lançado em 5 de novembro (quarta-feira), às 19h, na Livraria da Travessa – Shopping Iguatemi, em São Paulo (Av. Brig. Faria Lima, 2232, piso 3).
O livro estará disponível na versão física por R$ 89,90 e em formato digital por R$ 39,90, sob o selo Portfolio-Penguin.



