Três mulheres lideram empresa que movimenta R$ 1,5 bilhão no litoral catarinense
O portfólio atual dessa construtora inclui prédios que chegam a 62 andares, além de grandes projetos comerciais na região.
A J.A. Russi, construtora premium sediada em Itapema (SC), encerrou o ano de 2025 com um Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 1,5 bilhão, posição destacada no mercado imobiliário do litoral de Santa Catarina. Essa região é reconhecida por possuir os metros quadrados mais caros do Brasil, especialmente em Balneário Camboriú, cidade vizinha de Itapema.
O comando do grupo está nas mãos de três irmãs: Suzana Russi assume a presidência, Joana Russi Reis ocupa o cargo de vice-presidente, enquanto a mãe, Rose Russi, atua como conselheira. As três deram continuidade ao legado de João Amadeu Russi, fundador da empresa, após seu falecimento precoce.
Desde então, a empresa não apenas manteve seu ritmo de crescimento, mas acelerou os negócios. Entre seus ativos mais notáveis estão edifícios residenciais com até 62 andares e a gestão de importantes empreendimentos comerciais. O grupo possui ainda um landbank avaliado em R$ 1 bilhão, que consiste em terrenos à beira-mar estratégicos para futuros projetos.
Suzana Russi comenta sobre a transição: “Nosso pai faleceu numa sexta-feira, e na terça-feira de carnaval estávamos todos trabalhando. Cada uma já tinha uma área específica e a estrutura estava organizada. Apenas continuamos a trabalhar arduamente. A diferença agora é que precisamos acelerar, pois muitos concorrentes entram no mercado com belas apresentações, mas sem o capital necessário para sustentar as fundações”.
Até 2026, a empresa prevê a entrega de quatro grandes empreendimentos e desenvolve lançamentos em Itapema, Balneário Camboriú e Bombinhas. Além disso, há no planejamento um condomínio de casas e um open mall gastronômico, que também abrigará a nova sede da companhia.
“Com o landbank deixado como herança, temos hoje o privilégio de selecionar onde e como trabalhamos. Nosso foco é transformar esses ativos em produtos de excelência”, reforça Suzana.
A trajetória da família Russi
A construtora J.A. Russi foi fundada em 1989 por João Amadeu Russi, que decidiu abrir seu próprio negócio após atuar como sócio na Russi Russi, empresa familiar. Inicialmente, a companhia desenvolvia pequenos edifícios de quatro a cinco andares, destinados principalmente a turistas que buscavam uma opção para as férias de verão.
Naquele período, as áreas de lazer limitavam-se principalmente à proximidade da praia, contando no máximo com uma vaga na garagem e alguma feira sazonal.
A virada decisiva para o negócio foi o lançamento do projeto Splendor of the Seas, uma obra que levou dez anos para ser finalizada e estabeleceu novos padrões para imóveis na região. Inspirado em navios de cruzeiro, esse empreendimento oferecia piscinas, quadras esportivas, uma capela, bar molhado, academia e ocupava um terreno de uma quadra inteira em frente ao mar.
“Na época, muitos achavam que meu pai estava exagerando, mas o conceito de home resort que ele criou virou referência. Até hoje, ninguém superou o que o Splendor proporciona em termos de lazer”, destaca Suzana.
Enquanto os projetos iam crescendo, a família Russi também se formava. As irmãs Suzana e Joana tiveram contato com a empresa desde muito jovens, frequentando obras e circulando pelos departamentos desde os 14 anos. Quando João Amadeu adoeceu em 2018, a sucessão já estava planejada e em curso.
“Nosso pai tinha uma personalidade muito forte e exigente, tanto no âmbito pessoal quanto profissional. Ele se preparou para que nós, suas filhas, assumíssemos o negócio, não deixando brechas e cobrando muita dedicação acadêmica e prática da gente”, relembra Suzana.
Foco na qualidade e frente para o mar
Até hoje, a construtora já entregou mais de 490 mil metros quadrados em construções e aproximadamente 1.400 unidades residenciais. Atualmente, há quatro torres em construção, destacando-se o High Tower, com 52 andares, e o Harmony, que terá 62 pavimentos, ambos em Balneário Camboriú.
“Nosso objetivo não é construir o prédio mais alto, mas sim investir na qualidade. Já rejeitamos alguns projetos que consideramos grandiosos demais. Preferimos desenvolver com cuidado e realizar um estudo detalhado para garantir uma vida confortável e de alto padrão”, explica Suzana.
As vendas continuam aquecidas, com compradores adquirindo imóveis até seis meses antes das obras começarem.
Suzana destaca: “Muitas pessoas nos perguntam se o investimento vai se valorizar, e sempre respondo que todos sonham em morar de frente para o mar. Pode existir gosto pelo campo ou por ambientes naturais, mas, quando o assunto é férias, a preferência por sol, mar e lancha é unânime. Imóvel frente-mar nunca perde valor”.
Grande parte dos clientes vêm de estados como Mato Grosso, Goiás e interior de São Paulo, regiões fortemente ligadas ao agronegócio, onde há geração de renda que estimula a busca por imóveis para lazer e moradia na praia.
Contudo, entre os desafios para manter o ritmo de crescimento, Suzana aponta o aumento de empresas pouco preparadas que tentam ingressar no mercado local.
“É comum ver concorrentes que possuem vídeos muito bem elaborados, renderizações impressionantes e comerciais com inteligência artificial, mas que não têm capacidade financeira para fazer a fundação necessária. Por exemplo, apenas para executar os três subsolos do Sani, um de nossos novos prédios, foram investidos R$ 50 milhões. Isso exige estrutura sólida, não apenas uma bela ideia”, enfatiza.
Os investimentos atuais da J.A. Russi giram em torno de R$ 2,5 milhões por mês em cada obra. “Embora o faturamento seja alto, o capital também sai rapidamente. Por isso, mostrar os números concretos é fundamental para transmitir confiança aos clientes quanto à solidez da empresa”, afirma Suzana.
Mulheres na liderança e no canteiro de obras
Apesar da construção civil ser tradicionalmente dominada por homens, Suzana relata que nunca enfrentou resistência no ambiente de trabalho.
“Minha equipe me respeita e nunca presenciei brincadeiras desrespeitosas nas obras”, conta.
A cultura da J.A. Russi é diversa, com presença de mulheres engenheiras, técnicas de segurança e integrantes do setor comercial.
No início da gestão, entretanto, houve certa desconfiança por parte do mercado externo, devido ao prestígio e histórico do pai na região.
“Tivemos que provar que não chegamos para assumir o controle de forma inesperada, mas que já estávamos integradas ao negócio e preparadas para essa responsabilidade”, comenta Suzana.
Sobre sua atuação pessoal na obra, ela é direta: “Quando vou aos canteiros, visto minha botina, jeans e camiseta, e falo sobre a construção. E isso basta”.



