Sucesso no Cumprimento das Metas Climáticas Poderá Incrementar R$ 6,7 Trilhões no PIB do Brasil
Um estudo realizado em colaboração entre a Secretaria Nacional de Planejamento do Ministério do Planejamento e Orçamento (Seplan/MPO) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) revelou que limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC até o final do século poderia adicionar R$ 6,7 trilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até 2050. Para efeito de comparação, o PIB do Brasil em 2024 foi de R$ 11,7 trilhões.
Essa pesquisa inédita foi divulgada durante os últimos dias da COP30, que se encerra nesta sexta-feira (21). O evento reuniu duas semanas de negociações focadas no financiamento de iniciativas verdes, proteção de florestas e outros mecanismos que visam reduzir os danos ambientais e econômicos decorrentes do aquecimento global.
Estratégias para Alcançar as Metas e Seus Benefícios Econômicos
Para atingir o limite de 1,5ºC, será fundamental uma ação rápida e coordenada mundialmente. Entre as medidas com maior potencial de retorno socioeconômico estão a eficiência energética nos setores industrial, de transporte e de edificações, que podem elevar o PIB em 4,7% e aumentar a produtividade total em 10 pontos percentuais.
Além disso, o investimento em práticas agrícolas de baixo carbono, como integração entre lavoura, pecuária e floresta, recuperação de pastagens e uso sustentável do solo, também emergem como importantes estratégias. Construir uma infraestrutura resiliente, adaptada a condições extremas de calor, seca e enchentes, deverá contribuir para o aumento da produtividade.
O estudo destaca que, caso todos os países adotem metas de redução de emissões compatíveis com o cenário de 1,5ºC — semelhante às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) já estabelecidas pelo Brasil na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima —, o PIB do país poderia crescer 57% acima do total registrado em 2024. Isso se traduziria em um ganho econômico anual médio de R$ 268 bilhões até 2050, valor equivalente a aproximadamente 5% do orçamento federal.
Impactos Regionais e Oportunidades de Desenvolvimento
Os estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste seriam os principais beneficiados, com aumentos no PIB projetados em 50%, 39% e 34%, respectivamente. Essas áreas também abrigam os maiores biomas brasileiros, tornando a reversão dos ganhos econômicos em políticas ambientais, agrícolas e sociais uma ferramenta para fortalecer a mitigação, a produtividade, o acesso à alimentação e a redução das desigualdades regionais.
Os resultados indicam, ainda, a geração potencial de cerca de 1 milhão de empregos até 2050, principalmente nas áreas florestal e agropecuária. A demanda por alimentos poderia ser atendida com preços aproximadamente 0,64% menores, facilitando o acesso da população.
Para viabilizar essas ações adaptativas, o estudo estima investimentos anuais de cerca de R$ 5,2 bilhões.
Consequências de um Cenário Climático Mais Hostil
O cenário ideal pressupõe o aumento da temperatura global em até 1,5ºC. Caso esse aumento seja de 2ºC, com esforços moderados na contenção das emissões e redução do desmatamento, o custo anual para adaptações subiria para R$ 10,4 bilhões, e os benefícios econômicos seriam menores.
Entretanto, um aumento de 4ºC, proveniente da inação climática, teria impactos devastadores. Nesse caso, as perdas no PIB brasileiro poderiam atingir até R$ 17,1 trilhões até 2050 em comparação ao cenário de 1,5ºC, e R$ 10,3 trilhões em relação ao cenário de 2ºC. As regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste seriam as mais afetadas.
O mercado de trabalho também sofreria um abalo significativo, com a previsão de até 4,4 milhões de empregos perdidos nas próximas duas décadas e meia. Culturas essenciais, como cana-de-açúcar, café, feijão, milho, soja e laranja, enfrentariam sérios riscos de inviabilização, enquanto a escassez de água se generalizaria, provocando um desequilíbrio entre oferta e demanda energética. Estima-se que o custo de acesso à água poderia subir 25%.
Um ambiente macroeconômico mais instável, caracterizado por inflação elevada e desafios fiscais, impactaria negativamente a produtividade geral, o capital humano e as taxas de investimento. Para se adaptar nesse cenário adverso, seriam necessários gastos anuais de R$ 51,6 bilhões, quase dez vezes superiores ao cenário mais otimista.



