Seguro Não Autoriza Riscos Imprudentes Nos Investimentos

Seguro Não Autoriza Riscos Imprudentes Nos Investimentos

Ter um seguro não significa autorização para assumir riscos imprudentes

O conforto proporcionado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) tem sido amplamente considerado pelos investidores como uma espécie de salvo-conduto para realizar escolhas sem a devida avaliação dos riscos envolvidos.

Por Ana Leoni — São Paulo

24/11/2025 07h21 Atualizado agora

Confesso que não sou adepta dos esportes radicais, nem mesmo daqueles mais leves; nem montanha-russa, nem velocidade me atraem. Sou da equipe que prefere ficar no seguro no chão, observando com estranhamento quem se lança na aventura por puro prazer de enfrentar o medo. Para mim, onde muitos veem diversão, resido no temor do perigo.

Embora às vezes reconheça estar exagerando, não consigo esconder meu pouco apreço por sensações extremas. Tento me habituar, mas definitivamente não é minha praia.

Essa aversão se estende para minha abordagem diante dos investimentos. Não significa que eu evite riscos, mas que os avalio com extremo cuidado e não me eximo de assumir a responsabilidade por eles. Contudo, essa lógica do risco que parece tão clara, infelizmente, ainda é ignorada por muitos.

O recente caso do Banco Master dominou as notícias e trouxe mais um capítulo previsível de uma crise gerada pela combinação entre ignorância e ganância. Um espetáculo em que as decisões erradas foram tabuletas jogadas para outra parte, e a responsabilidade foi diluída entre todos os envolvidos.

O amparo oferecido pelo FGC aos clientes investidores foi tratado equivocadamente como uma espécie de carta branca para arriscar sem medir as consequências.

É fundamental entender que nenhum investimento deve ser desassociado da responsabilidade, da análise criteriosa e da ponderação, inclusive quando existe algum respaldo de proteção. Quando alguma aplicação oferece rendimentos muito superiores à média do mercado, ela jamais deve ser considerada livre de risco, mesmo com a proteção do FGC.

Em um cenário onde o investidor prioriza a taxa de retorno, depois o prazo, e apenas eventualmente considera o risco de crédito — e os distribuidores focam no curto prazo enquanto as instituições estão mais preocupadas com os números — acontecimentos como o do Banco Master deveriam servir como um marco para reflexão e mudança de postura.

O FGC assegura o dinheiro investido, mas não garante a segurança de estratégias que se mostram inadequadas.

Contra isso, só é possível se proteger com bom senso, oferta consciente e um alto grau de autoconhecimento baseado nos objetivos pessoais de cada investidor.

Embora o FGC seja uma ferramenta importante para dar estabilidade ao sistema financeiro e trazer confiança ao mercado, ele não funciona como um “seguro de vida” que permite saltar de penhasco sem consequências, tampouco como uma barreira que justifica ultrapassar limites perigosos, como dirigir a 200 km/h em uma estrada sinalizada para 80 km/h.

Minha preferência segue sendo estar seguro, na “equipe da terra”. Minha rejeição à adrenalina desnecessária mantém essa posição. Porém, diferentemente das experiências extremas como montanha-russa, descidas geladas em cachoeiras pendurado por corda ou escaladas ao Everest, o mercado financeiro exige que escutemos o medo, reconheçamos nossos limites e façamos uso das devidas proteções.

Acima de tudo, não podemos nos isentar da responsabilidade de sempre verificar o “paraquedas”, conferir os equipamentos de segurança e saber se teremos fôlego para retornar após alcançar o cume da montanha.

Ana Leoni — Foto: Arte/Valor

Ana Leoni — Foto: Arte/Valor

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