O surpreendente crescimento das ações brasileiras
Nos últimos três anos, os investidores em ações americanas obtiveram retornos mais do que o dobro em comparação aos que aplicaram em empresas brasileiras, isso considerando a variação cambial e uma carteira diversificada. Enquanto as ações americanas valorizaram cerca de 80% em dólar, as brasileiras cresceram aproximadamente 35% no mesmo período.
Apesar da forte valorização da bolsa dos EUA, o mercado brasileiro também registrou desempenho significativo. No entanto, um aspecto que merece destaque é a composição dos ganhos obtidos.
Investir em ações pode gerar lucro de duas formas principais. A primeira é o ganho de capital, que corresponde à diferença entre o valor atual da ação e o preço pago na compra. A segunda está relacionada aos rendimentos periódicos pagos pelas empresas aos acionistas, conhecidos como dividendos, que representam uma parte dos lucros repassada a quem possui as ações.
Empresas consolidadas geralmente distribuem mais dividendos, enquanto aquelas em crescimento tendem a reinvestir maior parte dos lucros para expandir os negócios. Para acompanhar a valorização das ações, índices de mercado como o S&P 500 nos EUA e o MSCI Brazil para o Brasil são utilizados, trazendo uma visão que engloba tanto ganhos de capital quanto dividendos recebidos, como ocorre no Ibovespa.
Esses índices assumem que os dividendos são reinvestidos nas mesmas ações, o que geralmente é verdade para quem investe através de fundos no Brasil, mas nem sempre acontece para investidores que operam diretamente no mercado.
Razões para a diferença entre os mercados americano e brasileiro
Para evidenciar as diferenças, o S&P 500 e o MSCI Brazil possuem indicadores que isolam o retorno apenas pela valorização das ações, desconsiderando os dividendos, chamados de retorno do preço. Nos EUA, esse retorno foi responsável por 90% do ganho total, enquanto no Brasil correspondeu a apenas 30%.
Isso indica que os dividends têm um papel fundamental no desempenho das ações brasileiras, ao contrário das americanas, onde o ganho vem principalmente da alta dos preços das ações.
Alguns fatores explicam essa disparidade. A diferença dos juros entre os países poderia ser uma causa, mas o retorno dos títulos brasileiros em dólar foi apenas 25% maior que os americanos, insuficiente para justificar a participação maior dos dividendos no Brasil.
Outro fator é a maior taxa de desconto aplicada ao fluxo futuro de lucros das empresas brasileiras, resultado dos juros elevados no país, o que leva investidores a preferir receber retornos imediatos através dos dividendos do que esperar ganhos futuros mais valorizados.
Além disso, a composição setorial dos índices brasileiros influencia: faltam empresas de tecnologia relevantes no Brasil, predominando aquelas da chamada “velha economia”, mais maduras e distribuindo mais dividendos.
Esses aspectos fazem com que, no Brasil, o risco principal para o investidor esteja ligado a uma possível redução dos dividendos pagos. No exterior, a principal ameaça reside em uma mudança nas expectativas de crescimento das empresas, que pode afetar o preço das ações.
Por outro lado, uma diminuição da taxa de desconto no Brasil pode promover uma forte valorização das ações locais, enquanto um cenário positivo de lucros futuros ou programas de recompra de ações tendem a beneficiar o mercado americano.
Portanto, conhecer as características específicas de cada mercado é crucial para os investidores avaliarem riscos e oportunidades adequadamente.
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