O pós-COP30: a transição energética precisa de um caminho equilibrado, alerta Ricardo Mussa
Durante a 30ª Conferência do Clima (COP30), realizada em Belém, um dos tópicos centrais foi o desenvolvimento de um roteiro estratégico para que as nações reduzam gradualmente o uso dos combustíveis fósseis. Apesar desse plano não constar no documento final, o presidente do evento, André Corrêa do Lago, afirmou que o Brasil irá assumir a liderança nessa iniciativa.
Ricardo Mussa, responsável pelo SB COP30, uma iniciativa empresarial ligada à conferência, destacou que a transição energética não acontecerá de forma abrupta ou imediata. Segundo ele, o avanço dependerá de inovações tecnológicas, desenvolvimento e, naturalmente, viabilidade econômica.
O executivo ressaltou que posturas extremas atrapalham o diálogo e enfatizou que o setor dos combustíveis fósseis ainda possui muitas ineficiências, seja na produção ou nas tecnologias de propulsão. Para Mussa, uma melhora significativa na eficiência e o reconhecimento das diferenças na intensidade das emissões entre os fósseis já representariam um avanço importante. Ele também alertou que é impraticável desconsiderar países que dependem muito do petróleo e não dispõem de alternativas energéticas viáveis, enfatizando que a imposição de metas irreais prejudica as negociações.
A responsabilidade econômica e o papel dos créditos de carbono
Mussa considera equivocada a ideia de que as nações mais ricas assumirão integralmente o custo da transição para os países em desenvolvimento. Ele defende que é necessário um equilíbrio econômico e políticas públicas que consigam reduzir esse gap. Como exemplo positivo, citou a China, que há duas décadas investiu em energia solar e baterias quando essas tecnologias ainda não eram viáveis comercialmente, contando com apoio governamental para se tornar líder mundial no segmento.
O executivo reforçou a importância de identificar tecnologias promissoras para investimentos públicos que possibilitem a ampliação das alternativas energéticas, facilitando também a inclusão daqueles países dependentes de petróleo como parceiros, e não adversários.
Ele ressaltou que os combustíveis fósseis ainda desempenham papel essencial hoje e que as empresas do setor possuem recursos financeiros, know-how tecnológico e capacidade de escala para contribuir com soluções como o sequestro e armazenamento de carbono (CCS). Mussa destacou que a discussão deve ser pautada exclusivamente na redução das emissões, apoiando qualquer tecnologia que alcance esse objetivo, independentemente de preconceitos ambientais.
Para setores onde a descarbonização é mais complexa, o líder do SB COP30 propõe que seja mais viável que esses segmentos adquiram créditos de carbono de regiões onde a redução é mais econômica, ao invés de forçar mudanças caras e difíceis. No entanto, ele observou que isso só é possível quando há um mercado de carbono funcional, o que ainda é um desafio.
Crescimento das renováveis na China e na Arábia Saudita
Mussa citou os casos da China e da Arábia Saudita, países com forte dependência dos combustíveis fósseis, mas que estão avançando na expansão das energias renováveis. A China, especialmente, tem apostado de forma estratégica em fontes como a solar e a eólica com baixo custo, demonstrando forte engajamento na transição energética durante a COP30, onde o seu pavilhão funcionava quase como um centro de negócios nesse campo.
Quanto à Arábia Saudita, particularmente dependente do petróleo, o executivo destacou os passos significativos do país rumo às renováveis, com a meta de que até 2030, mais da metade da energia consumida internamente seja proveniente dessas fontes. Ele explicou que, apesar de ser o maior produtor de petróleo de baixo custo do mundo, o país já reconhece a viabilidade econômica da geração solar e eólica, um movimento motivado pelo custo crescente da produção dos combustíveis fósseis, mesmo que o avanço ocorra em ritmo mais lento do que o desejado.



