Como investir o décimo terceiro salário: recomendações de especialistas
A primeira parcela do décimo terceiro salário já foi depositada, e a segunda, prevista para até 19 de dezembro, está próxima. Surge a dúvida: qual a melhor forma de aplicar esse recurso extra?
Se o recurso não for necessário para quitar dívidas ou cobrir gastos imediatos, o décimo terceiro pode ser uma excelente ferramenta para organizar as finanças e avançar nos investimentos. Com a taxa Selic ainda em patamares elevados, próxima a 12,5% projetada para 2026 pelo Boletim Focus, o cenário continua favorável para a renda fixa.
Para orientar a melhor utilização desse dinheiro, esta reportagem ouviu Nayra Sombra, planejadora financeira e CFP pela Planejar, e Holger Breh, sócio-fundador da Logus Capital e consultor financeiro. Eles sugerem um caminho em etapas: começar pela reserva de emergência, seguir protegendo as contas do início de 2026 e então, com o que sobrar, diversificar em investimentos de médio e longo prazos, tanto na renda fixa quanto em ativos de maior risco.
A importância de criar uma reserva de emergência
Segundo Nayra, o passo inicial deve ser formar uma reserva de emergência. Essa quantia serve para cobrir imprevistos e situações difíceis sem precisar recorrer a créditos caros. Para trabalhadores com carteira assinada (CLT), o ideal é acumular pelo menos o equivalente a seis meses de despesas fixas; para autônomos, com renda menos estável, a recomendação sobe para doze meses.
Ela ressalta que esse fundo não deve ser mantido na poupança, que não rende o suficiente para proteger contra a inflação. Em vez disso, indica aplicações com liquidez imediata, que permitam sacar o dinheiro em um ou dois dias e ofereçam rentabilidades superiores à inflação. Algumas opções são CDBs com liquidez diária que paguem cerca de 100% do CDI, Tesouro Selic e fundos DI simples, que investem principalmente em títulos públicos e evitam riscos maiores do crédito privado.
Holger também enfatiza essa precaução, alertando que quem precisa do décimo terceiro para cobrir gastos urgentes ou emergenciais deve priorizar investimentos mais seguros e líquidos, evitando riscos desnecessários.
Preparando as finanças para o início de 2026
Com a reserva garantida, o próximo foco deve ser planejar o pagamento das despesas sazonais dos primeiros meses do ano seguinte, como IPVA, IPTU, matrículas escolares e material didático, que costumam surpreender quem termina o ano sem reservas.
Nayra aconselha reservar uma parte do décimo terceiro para cobrir esses gastos, aproveitando descontos por pagamento à vista quando possível, ou parcelando dentro do limite que o orçamento permita para não concentrar todas as contas em um único mês.
Ela organiza o uso do décimo terceiro em diferentes categorias: reserva de emergência, despesas de início do ano, custos de lazer e bem-estar da família (como ceia de Natal, presentes e viagens) e desenvolvimento pessoal. Só o que sobra depois dessas prioridades deveria ser destinado a investimentos de prazo maior e ativos com maior risco, como ações e fundos imobiliários.
Aproveitando a renda fixa em um cenário de juros altos
Quando as urgências estão cobertas, vale analisar como extrair melhor rendimento neste momento com juros elevados. Nos anos recentes de alta da Selic, investimentos simples como CDBs atrelados ao CDI foram vantajosos e dificilmente superados por fundos multimercados ou renda variável.
Holger pontua que, com a política monetária chegando ao ápice da taxa Selic e iniciando um ciclo de cortes, investimentos em títulos públicos indexados à inflação, como Tesouro IPCA+, e papéis prefixados de prazo mais longo ganham relevância. As taxas reais dessas aplicações têm se mantido atraentes, na casa de 7,6% a 8% ao ano, percentual que se soma ao IPCA, podendo gerar valorização, especialmente em um cenário de queda gradual dos juros e da inflação.
Ele destaca que títulos prefixados com rendimentos próximos a 13% ao ano para prazos maiores apresentam uma oportunidade interessante, oferecendo ganhos adicionais se os juros continuarem a recuar.
No entanto, a escolha do investimento ideal depende do perfil, necessidades e situação de cada investidor. Para quem precisa do dinheiro logo, Holger recomenda priorizar investimentos pós-fixados de liquidez diária para preservar capital e obter bons rendimentos, enquanto clientes conservadores podem manter a renda fixa pós-fixada como base, suportando taxas elevadas de juros sem grande preocupação.
Nayra reforça que ainda há vantagem em aplicar em dezembro em títulos prefixados para aproveitar as taxas atuais antes do início do ciclo de redução da Selic. Ela sugere destinar parte do capital para renda fixa indexada à inflação, garantindo uma rentabilidade real de cerca de 5% a 7% da carteira, além da correção pelo IPCA.
Renda fixa segue sendo o investimento principal
Mesmo com a expectativa de redução gradual dos juros, os especialistas concordam que a renda fixa continuará tendo papel essencial, sobretudo para quem tem o décimo terceiro como ponto inicial para investir. Para investidores com maior experiência ou assessoramento, Nayra recomenda considerar também títulos isentos de Imposto de Renda, como LCI e LCA, que oferecem rentabilidades líquidas atraentes.
Na vertical da renda fixa indexada à inflação, ela cita produtos como CRA, CRI e debêntures incentivadas, embora ressalte que esses instrumentos têm maiores riscos de crédito e não são indicados para iniciantes.
Holger complementa que diversificar dentro da renda fixa é fundamental, equilibrando aplicações pós-fixadas para liquidez com prefixadas e indexadas à inflação de prazos mais longos. Ele comenta que, em 2025, a renda fixa prefixada rendeu entre 16% e 18%, superando CDBs que pagaram entre 13,3% e 13,8% ao longo do ano, o que reforça o valor deste segmento.
Considerações sobre o apetite a risco e diversificação
Após garantir a proteção mínima com a renda fixa, surge a possibilidade de alocar parte dos recursos em ativos de maior volatilidade, em especial após a previsão de queda gradual da Selic. Nayra salienta que, mesmo para perfis moderados e agressivos, a renda fixa em patamares elevados de juros deve permanecer como a base da carteira, garantindo segurança.
Ela recomenda incluir ações, fundos imobiliários, uma parcela pequena em ouro para proteção, e, de forma bastante controlada, criptoativos — sugerindo que estes não ultrapassem de 1% a 5% do capital devido à sua alta volatilidade e imprevisibilidade.
Quanto aos fundos multimercados, que combinam diversos ativos, Nayra observa que muitos vêm apresentando rentabilidade inferior à Selic, desmotivando alguns investidores. Ela espera crescimento moderado nessas aplicações em 2026, ainda que com certa cautela do mercado devido a perdas anteriores.
Holger reforça a prudência, especialmente para o décimo terceiro. Ele aconselha direcionar esse dinheiro para investimentos mais arriscados, como ações e fundos imobiliários, apenas se a quantia for pequena, que não comprometa o orçamento de curto prazo. Caso contrário, a preferência deve ser por produtos simples e seguros, mesmo que com menor potencial de ganho, para evitar surpresas que forçariam o resgate antecipado com prejuízo.
Iniciando investimentos em ações e fundos imobiliários
Para quem deseja usar parte do décimo terceiro para ingressar na bolsa, Nayra indica começar de maneira simples, diversificando em uma pequena carteira com pelo menos cinco ações de setores distintos, como financeiro, elétricas e consumo, priorizando empresas com histórico estável de pagamento de dividendos.
No caso dos fundos imobiliários, o ideal é diversificar entre fundos de papel, que aplicam em títulos de crédito imobiliário, e fundos de tijolo, que investem em imóveis físicos como galpões, prédios comerciais e shoppings.
Um indicador importante para esses fundos é o índice de vacância: quanto menor a porcentagem de unidades desocupadas, maior a probabilidade de fluxo constante de aluguel e distribuição de rendimentos regulares aos investidores. Nayra sugere buscar fundos com taxa de ocupação em torno de 80% a 90%, dados disponíveis em sites especializados.
O principal conselho dos especialistas é organizar as prioridades conforme o planejamento: usar primeiro para formar reserva de emergência, depois garantir o pagamento das despesas do começo do ano e, finalmente, investir em ativos mais arriscados conforme o perfil e a sobra de recursos.
Holger comenta ainda que essa estratégia deve se manter válida nos próximos meses, já que o mercado está focado menos em se haverá cortes de juros pelo Banco Central, e mais em quando e como esses cortes ocorrerão.



