Setores da Bolsa Apontam os Destaques dos Recordes de 2025
O mercado brasileiro vive um dos seus momentos mais expressivos da década, com o Ibovespa alcançando patamares inéditos. Desde que ultrapassou os 150 mil pontos no começo de novembro, a B3 tem mantido essa linha, acumulando um avanço próximo a 30% no ano, posicionando-se entre os principais mercados globais em desempenho.
Esse movimento positivo decorre de vários fatores. A expectativa de redução dos juros nos Estados Unidos atraiu capital internacional para mercados emergentes, como o Brasil, que se destaca por sua atratividade e valorização relativa frente ao panorama econômico global.
Apesar desse rali, a valorização do Ibovespa não se deu de forma homogênea. Conforme destaca Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management, a alta foi mais um processo de reprecificação focado na economia interna, impulsionado por fundamentos locais e pelo cenário internacional favorável.
Os setores financeiro e de utilities foram cruciais nesse movimento, respondendo por cerca de 69% do ganho total do índice, segundo o estrategista-chefe do Itaú BBA, Daniel Gewehr. Já o segmento de energia, especialmente petróleo e gás, apresentou desempenho negativo, afetado pela queda nos preços das commodities.
Em relatório do terceiro trimestre de 2025, o J.P. Morgan ressaltou o desempenho sólido da própria B3 como empresa, com resultados acima das projeções, registrando receita bruta acima do esperado pelo banco.
Análise dos Setores
Embora as blue chips tenham contribuído fortemente para o desempenho geral, a maior valorização ocorreu em setores sensíveis ao ciclo de juros domésticos. A B3 possui mais de 60 índices que cobrem diversos setores e temas, incluindo sustentabilidade e governança, além de parcerias específicas.
Uma análise feita pela Quantum Finance, exclusivamente para a Forbes Brasil, apontou o setor imobiliário como o principal destaque, com valorização de 81,09% no acumulado do ano. Este grupo engloba empresas de construção e incorporação imobiliária.
Wilson Barcellos explica que a expectativa de queda da taxa Selic, reforçada pela postura conservadora do Banco Central, motivou essa valorização antecipada. A recuperação da renda, condições de crédito estáveis e a retomada do consumo também contribuíram para esse cenário.
Em seguida, aparecem os setores de utilities, que incluem energia elétrica, saneamento e gás, com alta de 61,37%, e o índice de energia elétrica (IEE), com valorização de 56,5% no período.
Ações Com Maior Valorização
A pesquisa da Quantum Finance também indicou as cinco ações que mais se valorizaram em cada índice setorial. O maior ganho ficou com a Cogna, que subiu 260,89% no ano. No terceiro trimestre de 2025, a empresa reportou lucro líquido de R$ 191,6 milhões, revertendo prejuízo do ano anterior, e acumulou R$ 405,5 milhões em lucros no ano, contra perdas em 2024. Sua alavancagem atingiu o menor patamar dos últimos sete anos.
A Movida aparece em segundo lugar, com crescimento de 206,69%, também apresentando lucro e redução da alavancagem a níveis históricos baixos. Das 35 ações analisadas, 11 apresentaram valorização acima de 100%, sendo que duas ultrapassaram os 200%. Metade das dez ações mais valorizadas pertencem ao setor imobiliário, reforçando o destaque do índice IMOB.
Influência do Mercado Externo
Grande parte da movimentação da B3 em 2025 foi influenciada por fatores externos. A desvalorização global do dólar, o redirecionamento de investimentos para mercados emergentes e o ciclo de corte de juros do Federal Reserve impulsionaram os índices desses países, com o Brasil atuando como um indicador da performance desses mercados, conforme explica Gewehr.
A entrada de capital estrangeiro foi significativa, com aportes da ordem de R$ 30 bilhões, sendo fundamental para a dinâmica da bolsa, mesmo diante do cenário desafiador para captação no mercado local. A taxa Selic manteve-se em 15% no segundo semestre, com expectativas de cortes apenas em 2026, o que gerou um ambiente que favoreceu tanto empresas defensivas, com dividendos elevados, quanto aquelas sensíveis a juros, antecipando a reprecificação.
Valuation e Programas de Recompra
Os programas de recompra de ações também foram compradores importantes em 2025, com o Brasil atingindo o número recorde de 128 programas ativos, demonstrando o uso de capital pelas próprias empresas para aumentar a liquidez no mercado.
Apesar da valorização significativa, os múltiplos da bolsa brasileira continuam atrativos em comparação ao mercado global, negociando a cerca de 9,2 vezes o preço sobre lucro (P/E), o que representa um desconto de 12% em relação à média histórica. Já o mercado mundial apresenta um prêmio de 16% sobre sua média.
Gewehr ressalta que, embora a disparidade dos múltiplos tenha diminuído em relação ao início do ano, eles ainda são interessantes diante da qualidade e retorno das grandes companhias nacionais, especialmente do setor financeiro e de utilities, que negociam com retornos reais internos entre 10% e 11%.
Assim, 2025 não só marcou recordes históricas para o Ibovespa, mas também representou uma mudança significativa na narrativa do mercado brasileiro e no comportamento dos investidores.



