Investidor Estrangeiro Impulsiona Recorde Do Ibovespa Enquanto Local Fica De Fora

Investidor Estrangeiro Impulsiona Recorde Do Ibovespa Enquanto Local Fica De Fora

Estrangeiros aproveitam alta histórica do Ibovespa enquanto investidores locais permanecem afastados

O índice Ibovespa acumula uma valorização de 34% no ano, beneficiando principalmente os investidores estrangeiros. Enquanto o capital externo continua entrando de forma consistente no mercado brasileiro, os investidores domésticos permanecem retraídos, retirando recursos tanto diretamente das ações quanto por meio de fundos de investimento.

Até outubro, os fundos de ações registraram resgates no valor de R$ 52,8 bilhões, um volume que já representa a maior saída da série histórica da Anbima, iniciada em 2006. Contudo, como os dados de fundos possuem um atraso de aproximadamente 30 dias para refletir os movimentos completos, esses números ainda podem sofrer alterações até o final do ano.

Dados da B3 reforçam essa tendência: mesmo durante uma forte alta de 7,7% em novembro, investidores pessoa física e institucionais reduziram suas posições no mercado acionário. Instituições financeiras e fundos, por sua vez, somam uma retirada próxima de R$ 50 bilhões em 2025.

Em contrapartida, investidores estrangeiros revertiam essa tendência em novembro ao injetar R$ 2,5 bilhões no mercado de ações. No acumulado do ano, o saldo positivo dos aportes estrangeiros chega a R$ 28 bilhões. A participação desses investidores aumentou significativamente desde 2020, subindo de 47% para cerca de 59% das negociações na bolsa. Essa mudança evidencia um contraste claro entre o interesse dos investidores locais e externos no mercado brasileiro.

Esse comportamento indica que, apesar da consecutiva quebra de recordes no mercado acionário, o investidor brasileiro ainda não demonstra entusiasmo suficiente para ampliar sua exposição à renda variável, ficando de fora do atual rali da bolsa.

Motivações do comportamento do investidor brasileiro

O principal fator que limita o engajamento do investidor nacional na bolsa de valores é a taxa básica de juros elevada, atualmente na casa de 15%, a mais elevada dos últimos 19 anos.

Com juros altos, os investimentos em renda fixa ainda oferecem remunerações atrativas, desencorajando o varejo a assumir maiores riscos na renda variável. Quando a Selic estava em 2%, em 2020, a participação do investidor pessoa física representava 21,4% do volume negociado na bolsa; hoje, essa fatia caiu para menos de 12%.

Apesar das expectativas de reduções nos juros a partir de 2026 ganharem força entre analistas e operadores, gestores ressaltam que, para que o fluxo de compradores nacionais retorne de forma consistente, é necessário que o Banco Central efetivamente inicie o ciclo de cortes na Selic ou apresente sinais mais claros nessa direção.

Pedro Rudge, diretor da Anbima, observa que o retorno do investidor local à bolsa costuma ocorrer com um atraso natural, influenciado principalmente pela concorrência dos produtos financeiros isentos de Imposto de Renda, como LCI, LCA e debêntures incentivadas, que continuam atraentes em um cenário de juros elevados.

Valuation das ações brasileiras e perspectivas

Os gestores consultados trabalham com dois indicadores-chave para avaliar o preço das ações: o P/L (preço sobre lucro) histórico da bolsa e o P/L projetado, que considera os lucros esperados para os próximos 12 meses. Essas métricas ajudam a identificar se as ações estão caras ou baratas em relação a médias históricas.

Segundo análises do BTG Pactual, mesmo após a forte valorização de 2025, as ações brasileiras ainda se apresentam com valuations razoáveis quando se considera o P/L projetado. Excluindo Petrobras e Vale, o índice está em 10,4, abaixo da média histórica de 11,9. Se as duas grandes companhias forem consideradas, o P/L do índice fica ainda menor, em 8,9.

A aproximação de 2026 traz também a perspectiva de início do ciclo de redução da Selic, o que tende a impulsionar os lucros das companhias, especialmente aquelas com maior endividamento, oferecendo um estímulo adicional para a busca pela renda variável.

Continuidade dos aportes estrangeiros

O ingresso de capital estrangeiro no mercado brasileiro provavelmente continuará nos próximos meses, impulsionado pela demanda por mercados emergentes mais atraentes, especialmente diante da queda na taxa de juros nos Estados Unidos, principal referência para o fluxo global de dinheiro.

Os juros americanos iniciaram 2025 entre 4,25% e 4,50% ao ano, e a previsão é que terminem dezembro entre 3,50% e 3,75% ao ano. Com a redução da rentabilidade nos títulos de renda fixa dos EUA, investidores buscam alternativas com maior potencial de retorno no mercado de ações e em outras economias emergentes.

Esse fenômeno não afeta somente o Brasil, mas também outras bolsas emergentes e países da América Latina, como México, Colômbia e Chile, que vêm apresentando desempenho positivo. O fundo negociado em bolsa iShares MSCI Emerging Markets, que acompanha ações de mercados emergentes, registra uma valorização de 29% no ano.

A valorização do real frente ao dólar tem aumentado ainda mais o retorno para os investidores estrangeiros em ações brasileiras, já que, na moeda americana, o Ibovespa acumula alta superior a 50% em 2025. Considerando que o índice em dólar ainda teria espaço para alcançar a marca de 238 mil pontos para atingir novos recordes, há potencial para ganhos adicionais para esses investidores, embora o cenário futuro para essa valorização seja incerto.

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