Patria Investimentos muda foco após forte expansão; 2026 será dedicado à reorganização, afirma Rodrigo Abbud

Nos últimos três anos, a Patria Investimentos realizou uma das maiores consolidações já vistas no mercado de fundos imobiliários (FIIs) no Brasil, mas agora a empresa pretende adotar uma nova postura estratégica.

Desde 2021, a gestora expandiu seu volume de ativos sob gestão de R$ 700 milhões para R$ 38 bilhões. Para 2026, a prioridade definida é integrar suas plataformas, simplificar suas estruturas e retomar o crescimento de maneira orgânica, conforme explicou Rodrigo Abbud, responsável pela área de real estate do Patria no Brasil, em entrevista ao Money Times.

“Nosso enfoque em 2026 será no crescimento orgânico. Precisamos realizar nossas captações internas e organizar a estrutura, analisando setor por setor, avaliando quantos fundos temos e definindo ações estratégicas”, declarou Abbud.

Origem da expansão

Abbud destacou que esse crescimento acelerado não foi casual, mas parte de um planejamento elaborado a partir de 2021, logo após a abertura de capital da empresa na Nasdaq, nos Estados Unidos.

“O objetivo do Patria era retomar com força sua presença no mercado imobiliário, buscando assumir uma posição dominante. Almejávamos consolidar uma gestora de investimentos alternativos de destaque na América Latina, com presença sólida e consistente”, afirmou.

O primeiro passo decisivo foi a aquisição da VBI Asset, que já contava com uma plataforma completa de FIIs de tijolo e papel, com atuação em setores como shopping centers, escritórios, logística e varejo. Segundo o executivo, essa combinação foi bastante estratégica.

Em 2022, a integração entre Patria e VBI foi concluída. Abbud, que havia fundado a VBI, passou a ser sócio do Patria. Antes dessa união, a Patria geria cerca de R$ 700 milhões em ativos, mas com a fusão esse montante subiu para R$ 6 bilhões.

A aquisição do Credit Suisse

Na sequência, o Patria deu continuidade à sua estratégia com a aquisição da divisão de real estate do antigo Credit Suisse no final de 2023, pouco antes de sua incorporação pelo UBS. Abbud classificou essa operação como um “golaço”, pois além dos ativos, trouxe conhecimento especializado à gestora.

“Finalizamos 2024 com R$ 24 bilhões em ativos sob gestão, um avanço significativo. Essa evolução decorreu de uma expansão estruturada que envolveu VBI, Credit Suisse, compras de gestoras menores e captação interna. Já estávamos disputando espaço para ser uma das maiores gestoras do país”, explicou.

Compras da Vectis e Genial

Apesar do cenário desafiador de juros elevados em 2025, com a Selic alcançando 15% ao ano, a Patria deu início ao estágio final de seu plano.

No primeiro semestre, a aquisição da Vectis Gestão de Recursos, especializada em fundos de papel e multifamily, permitiu equilibrar o portfólio, que estava bastante concentrado em fundos de tijolo.

“Antes da compra da Vectis, 80% da carteira era em fundos de tijolo e 20% em crédito. Essa operação nos ajudou a corrigir essa desproporção”, afirmou Abbud.

Outra movimentação importante foi a compra de seis fundos da Genial Investimentos, que somaram R$ 2,5 bilhões em ativos, incluindo o MALL11, um dos maiores fundos de shopping do país.

“Nossa motivação para adquirir os fundos da Genial foi diferente. Embora tenhamos comprado vários FIIs, o mais relevante foi o de shopping center. Antes, não tínhamos um veículo desse segmento e o MALL11 era um ativo muito importante para nosso portfólio”, acrescentou.

Última aquisição: RBR Asset

A mais recente etapa da estratégia da Patria foi a compra da divisão de fundos listados da RBR Asset, que administra R$ 8 bilhões em ativos. Essa operação, realizada em apenas dois meses, elevou o montante gerido pela empresa para R$ 38 bilhões, posicionando-a como a maior gestora independente de investimentos imobiliários do Brasil.

“Todos os fundos da RBR tinham sinergia com ativos que já administrávamos. Foi realmente uma combinação perfeita”, comentou Abbud.

Importância do tamanho e foco futuro

Questionado sobre o motivo de buscar ser uma das maiores do mercado, Abbud ressaltou que essa decisão vai além do prestígio, tratando-se de uma questão estratégica para competir com gestoras ligadas a grandes bancos.

“Não é questão de ego. O mercado é dominado por gestoras filiadas a bancos com canais de distribuição robustos que nós não possuímos. Gestoras menores têm dificuldade para captar recursos, pois não possuem espaço nessa dinâmica”, explicou.

Além disso, fundos maiores garantem mais estabilidade e resistência no mercado. “Fundos imobiliários grandes sofrem menos flutuação nas cotas, oferecem maior liquidez diária e não dependem de poucos ativos para preservar seu valor”, disse.

Abbud também destacou o interesse em manter fundos grandes e setoriais para assegurar diversificação geográfica, de crédito e de locatários, proporcionando resultados mais consistentes para os investidores.

Nova fase em 2026: integração e organização

Para o próximo ano, a Patria pretende reduzir o ritmo de aquisições e dedicar esforços à consolidação dos fundos adquiridos, simplificação da estrutura e fortalecimento do time interno.

“Tínhamos 20 fundos imobiliários e somamos mais 12 com as compras recentes. Agora, com 32 fundos, precisamos organizar a casa e retomar o crescimento pelo nosso próprio esforço”, afirmou o executivo.

Abbud acredita que a tendência de consolidação será mais ampla no setor de real estate. “O mercado requer porte, volume e escala. Gestoras de médio porte precisarão se reorganizar. A indústria caminha para fundos grandes dominantes e fundos menores voltados a nichos específicos.”

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