Investor Day da B3 destaca estratégias para expansão em 2026, IPOs, stablecoin e novos derivativos
Durante o encontro com investidores realizado nesta terça-feira (16), o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, apontou que o mercado de renda variável brasileiro está se aproximando de um novo ciclo de crescimento. A empresa está se preparando para aproveitar essa janela favorável quando ela se concretizar.
A estratégia da B3 está dividida em duas frentes principais. A primeira foca na antecipação do desenvolvimento de novas ferramentas e produtos que devem ser demandados num cenário econômico positivo, incluindo avanços em tecnologia, melhoria na estrutura tarifária, aumento da liquidez e gestão de riscos. A segunda frente busca aumentar as receitas recorrentes da companhia por meio de negócios relacionados à renda fixa, duplicatas, dados e serviços tecnológicos.
Gilson Finkelsztain destacou que o mercado de capitais brasileiro possui grande potencial de crescimento e reforçou que a diversificação das atividades ao redor do negócio principal da B3 é fundamental para tornar a receita menos dependente da volatilidade da taxa de juros.
Perspectiva para o volume de negociações e IPOs
Na área de renda variável, a B3 apresentou estudos que simulam diferentes cenários para a evolução do volume médio diário de negociações (ADTV). Esses cenários consideram aumentos na participação dos investidores pessoa física, internacionais e institucionais locais. Atualmente, o ADTV está em cerca de R$ 24,6 bilhões, mas conforme as análises, em condições favoráveis, o volume poderia variar entre R$ 49 bilhões e R$ 71,7 bilhões.
O BTG Pactual, em relatório recente, ressaltou que qualquer recuperação no volume médio diário pode ser significativamente mais acentuada do que o que a maioria dos analistas prevê. O banco destaca que um cenário com volumes de negociações de ações mais que dobrando pode surgir se houver um ambiente macroeconômico e fiscal mais estável.
Sobre ofertas públicas iniciais (IPOs), a B3 revelou que existem atualmente no Brasil cerca de 121 mil empresas com faturamento superior a R$ 300 milhões e em crescimento, 3,5 mil com faturamento acima de R$ 500 milhões e crescendo, e aproximadamente 1 mil companhias com potencial para listagem no mercado.
Além disso, está previsto para o próximo ano a implementação do Regime Fácil pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que propõe simplificar as exigências e reduzir os custos para facilitar o ingresso de pequenas e médias empresas no mercado de capitais. Empresas com faturamento bruto anual menor que R$ 500 milhões poderão utilizar um formulário simplificado para abertura de capital, substituindo o tradicional Formulário de Referência.
A B3 contabiliza ainda 54 empresas registradas na CVM que aguardam o momento adequado para realização do IPO, e para 2026, o CEO Finkelsztain vê uma janela promissora para o lançamento dessas ofertas, principalmente por companhias grandes de setores mais estáveis, como saneamento, energia e infraestrutura.
Tokenização e stablecoin da B3
A B3 está avançando no desenvolvimento de uma depositária tokenizada, que permitirá a operação paralela ao sistema tradicional usando tokens, que são representações digitais de ativos financeiros. Essa infraestrutura possibilitará a negociação entre ações tradicionais e tokenizadas de maneira integrada, facilitando a transição e a coexistência dos dois mercados.
Para que essa inovação funcione plenamente, a bolsa planeja lançar uma stablecoin própria, lastreada em reais, que poderá operar em redes privadas e públicas. Esse projeto tem como objetivo estabelecer a base tecnológica para futuras operações, como negociações de tokens 24 horas por dia, sete dias por semana.
Novos produtos derivativos em desenvolvimento
Em 2025, a B3 lançou 19 novos produtos derivativos. A previsão para 2026 e 2027 inclui o lançamento de vários novos instrumentos, sujeitos à aprovação regulatória. Entre eles estão opções binárias, opções 0DTE (com vencimento no mesmo dia da negociação), contratos futuros de petróleo, opções semanais de bitcoin cotadas em dólar, derivativos de minério de ferro, futuros e opções sobre o ETF HASH11, futuros de títulos públicos americanos com vencimentos de 2, 5 e 30 anos, opções de inflação, futuros de bitcoin em dólar, contratos baseados em eventos financeiros e preços de ativos como bitcoin, Ethereum, Solana, dólar e índice Bovespa.
Também estão previstos contratos ligados a dados macroeconômicos, incluindo o IPCA mensal e o PIB trimestral, além de opções semanais com vencimento diário para dólar, Ethereum e Solana.
Mercados de previsão e cobrança para fundos
A B3 tem monitorado o crescimento dos chamados mercados de previsão (prediction markets), plataformas onde investidores negociam contratos baseados na probabilidade de eventos futuros, como resultados eleitorais. O interesse nessa área cresceu após a brasileira Luana Lopes Lara se tornar a bilionária “self-made” mais jovem do mundo com seu empreendimento Kalshi, empresa que atua em mercados de previsão.
No encontro, a B3 revelou que vem dialogando com reguladores e participantes do mercado para compreender e fomentar o desenvolvimento desse segmento no Brasil.
Outro anúncio foi a decisão de iniciar a cobrança pelo uso dos índices da B3 em fundos não listados. Atualmente, essa cobrança existe para ETFs, mas a partir de 2026 ela será estendida, gerando uma nova fonte de receita para a bolsa.
Aplicativo para investidores e monetização
A empresa lançou recentemente um aplicativo gratuito para os investidores acompanharem suas aplicações em renda fixa e variável em múltiplas corretoras. O próximo passo é ampliar suas funcionalidades e implementar assinaturas para serviços premium, proporcionando uma nova forma de monetização.
Projeções financeiras para 2026
Na última sexta-feira (12), a B3 divulgou suas expectativas financeiras para 2026. Os desembolsos totais são estimados entre R$ 3,17 bilhões e R$ 3,61 bilhões, superando o intervalo previsto para 2025, que é de R$ 2,84 bilhões a R$ 3,22 bilhões.
As despesas operacionais ajustadas devem variar de R$ 2,4 bilhões a R$ 2,6 bilhões, acima das projeções para 2025 que variam de R$ 2,26 bilhões a R$ 2,45 bilhões. Esses valores não incluem itens como depreciação, amortização, programas de incentivo de longo prazo com ações, provisões e despesas vinculadas ao faturamento.
Os investimentos estão previstos entre R$ 260 milhões e R$ 350 milhões para 2026, levemente superiores ao que foi estimado para 2025. Já as despesas associadas ao faturamento deverão ficar entre R$ 510 milhões e R$ 660 milhões, acima do intervalo de R$ 340 milhões a R$ 440 milhões projetado para 2025.
A alavancagem financeira, medida pela relação entre dívida bruta e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente, está projetada em até 2,2 vezes para o próximo ano, versus até 2,1 vezes em 2025.
Sobre política de retorno aos acionistas, a faixa permanece de 90% a 110% do lucro líquido distribuído em forma de juros sobre capital próprio (JCP), dividendos, recompra de ações ou instrumentos equivalentes para 2026 e 2025.
O BTG Pactual avaliou que as despesas operacionais ficaram geralmente alinhadas às suas projeções, embora as despesas vinculadas à receita tenham sido um pouco maiores. O capex, ou gastos com investimentos, deve apresentar leve acréscimo em relação ao esperado.
Já o Safra considerou neutras as projeções da B3, apontando que o crescimento das despesas ajustadas está acima da inflação e indicando alguma aceleração no ritmo dos gastos.



