Moody’s desenvolverá sistema para avaliar risco de liquidez de stablecoins em expansão no mercado

A agência de classificação de risco de crédito Moody’s está avançando no desenvolvimento de uma metodologia para avaliar o risco de liquidez das stablecoins, criptoativos cujo mercado já chega a US$ 300 bilhões. Essa iniciativa pode transformar a maneira como investidores analisam esses ativos digitais.

A proposta da Moody’s foi divulgada na última sexta-feira, 12 de dezembro, e sugere uma classificação baseada na qualidade dos ativos que garantem cada token, no risco associado ao valor de mercado dessas reservas e nas políticas operacionais adotadas pelos emissores. A implementação do modelo está prevista para o final de janeiro de 2026, após a coleta e consideração de contribuições públicas, que poderão ser enviadas até 29 de janeiro.

Esse avanço na avaliação ocorre justamente em um momento em que a adoção das stablecoins cresce significativamente, enquanto diversos governos ao redor do mundo criam regulação específica para este mercado. Nos Estados Unidos, por exemplo, a recente Lei Genius estabelece diretrizes para essas criptomoedas, destacadas por funcionarem como uma fonte sólida de liquidez no universo de ativos digitais ao manterem um valor estável, geralmente lastreado no dólar americano.

Na avaliação da Moody’s, as stablecoins assumiram uma importância crescente para instituições financeiras, tesourarias corporativas e sistemas de pagamentos, porém ainda operam em um ambiente muitas vezes pouco transparente e em processo de maturação. Assim, a agência pretende oferecer uma avaliação independente capaz de fornecer maior clareza aos investidores.

Especialistas do setor, como Robert Franklin III da RFS Consulting, apontam que a metodologia atual para avaliar esses ativos precisa evoluir para refletir a importância da liquidez diretamente na blockchain, especialmente em momentos de estresse no mercado.

De acordo com o método proposto, a avaliação da Moody’s será baseada na análise detalhada da qualidade de crédito de cada ativo que compõe o fundo de reservas das stablecoins, calculando uma média ponderada. Além disso, o valor de mercado desses ativos será considerado para definir a classificação final, que será atribuída a partir do menor entre a avaliação da qualidade de crédito e do valor de mercado, com ajustes para o risco de liquidez.

Normalmente, as stablecoins são lastreadas por uma combinação de dinheiro em caixa e equivalentes, como títulos públicos de curto prazo. Os emissores costumam divulgar relatórios regulares sobre essas reservas, porém nem todos passam por auditorias completas, gerando controvérsias no mercado. Isso é o caso do Tether, criador da stablecoin USDT, a mais utilizada globalmente.

O modelo da Moody’s prevê que a avaliação seja solicitada pelos próprios emissores, que devem arcar com os custos da classificação, e que terceiros independentes possam revisar as informações apresentadas. Ainda, as classificações refletirão o “elo mais fraco” entre os ativos que compõem as garantias do token, ou seja, o de menor qualidade.

Além disso, a proposta inclui a aplicação de um desconto (haircut) baseado em diversos fatores de risco, incluindo a liquidez dos ativos. Cinco categorias de ativos líquidos são indicadas, sendo que depósitos em dinheiro e títulos governamentais denominados na mesma moeda da stablecoin receberiam as melhores classificações.

A metodologia também levará em conta aspectos de governança das stablecoins, o ambiente regulatório vigente e possíveis cenários adversos. Em contas com ativos líquidos de alta qualidade, a classificação atribuída poderá ser equivalente à nota de depósito de curto prazo P-1.

Aspectos tecnológicos, como vulnerabilidades de segurança da blockchain e possíveis bifurcações que dificultem a validação de transações, serão avaliados como parte do risco tecnológico.

Destaca-se que stablecoins algorítmicas, que mantêm seu valor por mecanismos automatizados e não por garantias reais, estão fora do escopo dessa classificação, pois historicamente são mais propensas a se desestabilizar.

A Moody’s ressalta que esta nova classificação tem o propósito exclusivo de indicar a probabilidade de resgate eficiente da stablecoin e não deve ser interpretada como uma avaliação da estabilidade do ativo ou uma recomendação de investimento.

Fonte

Rolar para cima