Do Big Brother Brasil à Universidade de Chicago: Gil do Vigor fala sobre economia do crime e educação
Gilberto Nogueira, conhecido popularmente como Gil do Vigor, ganhou destaque nacional em 2021 ao participar do Big Brother Brasil, mas sua história de vida e acadêmica é muito anterior a essa fama. Em entrevista exclusiva, ele compartilhou detalhes sobre sua trajetória, desde a formação sólida em economia até os estudos avançados e seus planos futuros, especialmente envolvendo o campo da educação.
Formado em economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde também realizou mestrado e iniciou o doutorado, Gil foi aprovado para o doutorado (PhD) na Universidade da Califórnia em Davis, referência global na área. Durante seu doutorado, participou de um intercâmbio acadêmico na Universidade de Chicago, departamento notório por ter um ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 2024.
Com mais de cinco artigos científicos publicados, entre pesquisas individuais e colaborativas, Gil também atua como revisor do Journal of Development Economics, revista reconhecida mundialmente em economia do desenvolvimento.
Temas de pesquisa de Gil do Vigor
Durante o mestrado, a pesquisa de Gil enfocou a economia do crime, com atenção especial para a violência relacionada ao mercado de drogas e o papel da educação como instrumento protetor para jovens vulneráveis.
Ele desenvolveu um modelo matemático que esclarece como a violência surge a partir da intervenção policial nesse mercado ilícito, apresentando um paradoxo identificado na literatura acadêmica: parte dos estudos defende a repressão como necessária, enquanto outros apontam que a ilegalidade por si só causa a violência. A conclusão de Gil é que a repressão deve direcionar-se aos grandes traficantes, os chamados “colarinho branco”, que raramente são presos, em vez de focar no varejo, onde a substituição de traficantes é rápida.
No estágio de doutorado, aprofundou o estudo sobre violência no mercado ilegal de drogas, voltando-se para o impacto da educação na prevenção do aliciamento de jovens pelo crime. Pesquisa realizada revelou que adolescentes que retornam à escola após cumprirem medidas socioeducativas têm 17% menos probabilidade de serem assassinados em comparação aos que não retornam.
Para Gil, a educação não é apenas um lema bonito, mas um dado concreto e comprovado que salva vidas, ao reduzir significativamente a continuidade dos jovens no crime.
Influências econômicas e referências
Durante a entrevista, Gil destacou sua admiração pelo economista John Maynard Keynes, especialmente pelo conceito do multiplicador keynesiano, que demonstra como o dinheiro em mãos dos mais pobres tem impacto econômico maior do que nas mãos dos mais ricos, que tendem a economizar ao invés de consumir.
Gil explicou que o modelo keynesiano revela que fornecer recursos financeiros para a população de baixa renda estimula o consumo, dinamiza a economia e gera emprego, o que é fundamental em períodos de recessão. Essa visão é central em sua compreensão econômica.
Perspectivas e planos futuros
Após ter defendido sua tese com sucesso na Universidade da Califórnia em Davis, Gil prepara-se para depositar seu trabalho em março de 2026 e participar da cerimônia de formatura em junho na mesma instituição. Em seguida, no mês de agosto, iniciará um pós-doutorado na Universidade de Chicago, onde continuará seus estudos.
Simultaneamente, Gil mantém o projeto social “Alô do Vigor”, que visa ampliar o acesso à educação para jovens em diferentes regiões do Brasil, com planos de expansão para novos estados.
Além da carreira acadêmica, ele também atua como “economista artista”, participando regularmente de programas de televisão, como o Mais Você, Encontro e telejornais, além de ter sido confirmado como coapresentador do programa “Bate Papo BBB” em 2026, que entrevista eliminados do reality show.
Principais trechos da entrevista com Gil do Vigor
InfoMoney: A maioria das pessoas conhece você por causa do BBB, mas qual foi sua motivação para entrar no reality?
Gil do Vigor: A fama não era meu objetivo. Estava aplicando para o doutorado e queria apenas dinheiro para estudar. Um momento decisivo foi quando minha mãe contraiu Covid e não tínhamos plano de saúde. Foi doloroso ver que, mesmo trabalhando e estudando, não conseguia pagar um plano para ela. Queria mostrar que a ciência salva vidas e defender a valorização da educação e da ciência. Meu objetivo no programa era esse: conseguir recursos para estudar e conscientizar sobre a importância desses temas.
InfoMoney: Depois de sair do programa e perceber sua fama, considerou abandonar o doutorado? Isso afetou seus estudos?
Gil do Vigor: Nunca cogitei abandonar. Eu me preparei para enfrentar o frio nos EUA mesmo sem dinheiro, imaginando que seria aprovado no doutorado. Quando soube da aprovação, fiquei muito feliz. Sempre tive claro que dinheiro não compra conhecimento, e não valeria a pena abrir mão da minha educação por dinheiro.
InfoMoney: Pode falar sobre sua formação acadêmica?
Gil do Vigor: Sou economista formado pela UFPE, onde também fiz mestrado e comecei o doutorado. Depois, fiz o PhD na Universidade da Califórnia em Davis e participei de pesquisa na Universidade de Chicago. Tenho mais de cinco artigos publicados, alguns premiados, e sou revisor do principal periódico da área. Também possuo conhecimento em programação para análise de dados.
InfoMoney: Você atua com econometria. Pode explicar o que é isso?
Gil do Vigor: A econometria utiliza dados e modelos para responder questões econômicas e sociais. Por exemplo, comparo grupos de jovens que retornam ou não à escola após traumas para analisar impactos educacionais e comportamentais. É uma ferramenta importante para compreender fenômenos complexos.
InfoMoney: Quais são os maiores erros dos brasileiros na gestão financeira?
Gil do Vigor: O maior problema está na estrutura educacional do país. Falta ensino de educação financeira eficaz desde cedo, tanto na escola quanto em casa. É fundamental aprender a administrar recursos, economizar e investir para proteger o patrimônio contra a inflação. Muitas pessoas não sabem o que fazer com o dinheiro que sobra, e isso precisa ser mudado.
InfoMoney: O consumo excessivo é um problema cultural no Brasil? Há necessidade de mudança?
Gil do Vigor: Existe a necessidade real e o consumo desnecessário. Muitas pessoas gastam por necessidades básicas, mas há gastos supérfluos que demandam controle. É importante identificar necessidades reais, estabelecer metas de economia e evitar gastos excessivos.
InfoMoney: Quais temas econômicos deveriam ser discutidos pela população?
Gil do Vigor: Precisamos falar sobre a escassez não apenas de dinheiro, mas de oportunidades. A meritocracia não funciona no Brasil porque as condições não são iguais. Políticas públicas inclusivas são essenciais para que o esforço seja recompensado. A desigualdade social desmotiva mesmo pessoas preparadas por falta de oportunidades justas.
InfoMoney: Sua trajetória comprova a meritocracia?
Gil do Vigor: Não considero que comprove. Enfrentei muitas dificuldades e dificuldades. A desigualdade cria barreiras para muitos que precisam se esforçar mais. Sou uma exceção e não é justo que as pessoas tenham que passar por tanto sofrimento. Políticas públicas foram fundamentais para que eu pudesse sonhar e continuar estudando.
InfoMoney: A fama não cansa?
Gil do Vigor: Não me cansa, pois vejo que posso ajudar muitas pessoas com meu conteúdo. Sem a fama, não teria alcance para falar sobre educação, ciência e finanças. Mostrar que ter medo e sentir impostor é normal, mas seguir em frente, é importante para muitos. O conhecimento é libertador e ninguém pode tirar isso de mim.
InfoMoney: Você já multiplicou o valor do prêmio do BBB com seus investimentos?
Gil do Vigor: O que chega ao bolso é diferente, devido a impostos e agenciamentos. Mas investi e adquiri imóveis que geram renda. Já comprei uma casa para minha mãe à vista e tenho estabilidade financeira.
InfoMoney: Você administra seu dinheiro? É investidor?
Gil do Vigor: Sim, cuido do meu dinheiro e atualmente sou um investidor conservador.
InfoMoney: Quais seus planos para o futuro?
Gil do Vigor: Quero expandir o projeto “Alô do Vigor”, levando educação a mais jovens em vários estados. Após depositar a tese em março e colar grau em junho, iniciarei pós-doutorado na Universidade de Chicago em agosto. O desafio é equilibrar minha carreira acadêmica com a artística e de apresentador, sempre construindo projetos sólidos para ajudar jovens.
