Papéis que surpreenderam e os que decepcionaram nos dividendos em 2025
O mercado de dividendos apresentou um desempenho atípico em 2025. A taxa Selic mantida em 15% ao ano durante boa parte do ano, combinada com a antecipação das distribuições de proventos por parte das empresas em razão das mudanças na tributação que entram em vigor em 2026, impulsionaram os valores pagos, projetando um recorde histórico na distribuição de dividendos.
Estima-se que a reforma do Imposto de Renda tenha gerado entre R$ 42 bilhões e R$ 85 bilhões em dividendos extraordinários apenas neste ano. Em meio a esse cenário, houve surpresas positivas em certos papéis, enquanto alguns decepcionaram investidores acostumados a dividendos elevados nos últimos anos.
Destaques positivos do setor financeiro
O setor financeiro voltou a liderar os maiores dividendos. Segundo Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, o Itaú Unibanco (ITUB4) superou sua holding, Itaúsa (ITSA4), em termos de resultado operacional, o que gerou um excesso de capital considerável no banco, possibilitando um aumento significativo nos dividendos distribuídos. Esse movimento fortaleceu também a remuneração da Itaúsa, refletindo em um aumento no dividend yield das duas ações durante 2025.
A BB Seguridade (BBSE3) também se destacou positivamente. Após um ano de 2024 marcado por eventos climáticos adversos e efeitos da seca, havia uma expectativa modesta para 2025, mas o cenário melhorou ao longo do ano, com resultados mais sólidos que devem favorecer a retomada dos dividendos.
Outros setores que se destacaram
No setor imobiliário, a Cyrela (CYRE3) teve um desempenho superior ao do ano anterior, com sua melhora operacional e financeira garantindo uma distribuição mais expressiva de proventos.
Na indústria, empresas como Vulcabras (VULC3) e Unipar (UNIP6) se sobressaíram com crescimento nas vendas, resultados operacionais robustos, baixa alavancagem e, em alguns casos, pagamento de dividendos extraordinários, mantendo elevados percentuais de payout.
A Marcopolo (POMO4) aproveitou o bom desempenho até meados do ano para realizar distribuição dos lucros acumulados. Já a ISA Energia (ISAE4) pagou um dividendo atípico, superior à média histórica, beneficiada pelos projetos de transmissões que serão iniciados nos próximos dois anos, o que ajudará na redução do endividamento e permitirá manter a política de remuneração sem comprometer sua estrutura financeira.
O Fleury (FLRY3) também apareceu entre os bons pagadores, apoiando-se na captura das sinergias decorrentes de aquisições e na melhoria do desempenho operacional, segundo avaliação dos analistas.
Empresas que decepcionaram os investidores
A Petrobras (PETR3/PETR4) foi um dos casos mais notórios de decepção, ainda que continue sendo a maior pagadora de dividendos da bolsa, com cerca de R$ 37 bilhões distribuídos até setembro e dividend yield em torno de 11% neste ano. O Plano Estratégico 2026–2030 da estatal, que prevê menor espaço para dividendos extraordinários em favor de maiores investimentos, reforçou a percepção de normalização, afastando parte dos investidores que esperavam altos retornos.
O Banco do Brasil (BBAS3) também decepcionou após anos de ampla distribuição de proventos. O banco enfrentou queda nos lucros, aumento da inadimplência no agronegócio e revisou para baixo suas projeções, reduzindo o payout previsto para 30% do lucro e chegando a adiar pagamentos, frustrando investidores que se baseavam no histórico recente.
A Ambev (ABEV3) ficou aquém das expectativas, com retorno estimado cerca de 8%, impactada pela pressão nas margens e necessidade de investimentos.
Perspectivas para 2026
Para o próximo ano, espera-se que setores como bancos, seguradoras, energia elétrica e saúde continuem figurando entre os maiores pagadores de dividendos, enquanto segmentos que demandam elevados investimentos de capital (capex) devem adotar uma postura mais cautelosa.
A tributação de dividendos que entrará em vigor a partir de janeiro de 2026 traz uma nova dinâmica para o mercado. Embora os dividendos continuem isentos de imposto até o limite de R$ 50 mil por mês por empresa, valores que ultrapassarem esse montante sofrerão uma tributação de 10% de Imposto de Renda. Essa mudança impulsionou os anúncios de proventos em 2025, mas a médio prazo pode reduzir a rentabilidade líquida para grandes investidores e incentivar ajustes nas políticas de distribuição.
Belitardo destaca como a principal lição de 2025 o fato de que o dividend yield observado no ano foi inflado por fatores excepcionais. Ele alerta que, daqui em diante, considerar apenas o percentual pode ser um erro, pois a sustentabilidade do payout, geração de caixa, nível de endividamento e política de capital devem ganhar importância crucial para distinguir as empresas que realmente oferecem bons dividendos daquelas que frustram expectativas no novo ciclo.



