A Alta do Petróleo Tem Fundamento, Mas Sua Recuperação Ainda É Longe
A alta do petróleo é um tema relevante para investidores, especialmente após uma queda significativa dos preços nos últimos dois anos. Embora haja expectativa de recuperação, esse cenário requer paciência e implica custos de oportunidade que não podem ser ignorados.
O Ciclo das Commodities e a Paciência Necessária
Investidores frequentemente tentam manter suas apostas mesmo após perdas, convencidos de que suas operações de curto prazo são, na verdade, posições de longo prazo. Nos mercados de commodities, isso é ainda mais comum devido à sua natureza cíclica, com períodos de alta e baixa alternados inevitavelmente. Assim, na expectativa de uma retomada, a paciência e a capacidade de suportar perdas temporárias são essenciais.
Nos últimos dois anos, o petróleo recuou quase 20%, mas diversos investidores continuam otimistas, como indica a popularização da frase “We remain bullish” nas redes sociais, apesar do pessimismo predominante entre instituições financeiras para 2026.
Visão Histórica e Desafios para a Recuperação
Ali Al-Naimi, ex-ministro do Petróleo da Arábia Saudita, exemplificou bem as oscilações do setor ao relatar que, em suas sete décadas na indústria, viu preços variando de menos de US$ 2 a US$ 147 o barril. Esse histórico de volatilidade permanece atual.
Porém, esperar pela recuperação é um processo longo e oneroso, sobretudo para quem adquiriu petróleo quando os preços superavam US$ 100 o barril, já que atualmente o valor gira em torno de US$ 65. A situação se agrava para investidores em ações de pequenas e médias empresas petrolíferas, cujos preços despencaram significativamente entre 2022 e 2023.
Um exemplo evidente desse desafio foi o período entre setembro de 2014, quando o petróleo Brent perdeu a faixa dos três dígitos, até fevereiro de 2022, quando novamente atingiu esse patamar, totalizando quase oito anos de espera para retorno aos níveis anteriores.
Expectativas Moderadamente Otimistas para os Próximos Anos
É possível vislumbrar um cenário de melhora já em 2027, com potencial aumento mais expressivo para 2028 e 2029, sustentado por dois fatores principais. Primeiro, o crescimento da demanda global por petróleo continua saudável, próximo à média histórica de expansão de 1,1 milhão de barris por dia ao longo das últimas duas décadas. A menos que haja uma recessão global, o ponto mais baixo desse crescimento de demanda provavelmente já foi atingido.
Em segundo lugar, os preços baixos atuais prejudicam os investimentos, o que pode reduzir a produção futura fora do grupo Opep+. Por exemplo, a indústria de xisto nos Estados Unidos, sensível a preços baixos, já sinaliza uma estabilização, com previsões de queda inevitável na produção caso as perfurações sejam interrompidas.
Projeções recentes indicam que analistas começaram a revisar para baixo as estimativas de produção global para 2026 e 2027, sugerindo a possibilidade de um ponto de inflexão. Além disso, o aumento da produção pela Opep+ está reduzindo a capacidade excedente, o que costuma pressionar os preços para cima. Os estoques globais de petróleo também estavam baixos antes de os excedentes atingirem o mercado, limitando o armazenamento disponível.
Fatores Externos e Potenciais Impactos
Além desses fatores, incertas variáveis podem influenciar os preços, como desastres naturais que afetem a produção, mudanças climáticas severas aumentando a demanda ou conflitos em países produtores. A atuação política de figuras como Donald Trump também pode impactar o mercado, especialmente se sanções contra países como Irã e Rússia forem efetivadas, ampliando ou reduzindo a oferta.
Embora uma alta do petróleo acima de US$ 75 a US$ 80 por barril em 18 a 24 meses seja plausível, alcançar US$ 100 parece improvável, assim como atingir preços recordes acima de US$ 150. Curiosamente, alguns fatores que poderiam impulsionar essa alta requerem primeiro uma queda maior nos preços, em torno de US$ 50 a US$ 60, para forçar cortes nos investimentos e esgotar a capacidade excedente da Opep+.
Desafios Estruturais e a Lenta Transformação do Mercado
Embora a demanda ainda seja robusta, sua taxa de crescimento está diminuindo devido a mudanças estruturais na economia chinesa, melhoria na eficiência de veículos a gasolina e crescimento dos carros elétricos. Esse cenário prolonga a chegada do ciclo otimista e pode limitar o aumento dos preços.
A produção fora da Opep+ pode surpreender positivamente, especialmente em regiões como Guiana, Brasil, Canadá, Uganda, Noruega e China, onde projetos continuarão gerando barris extras nos próximos anos, independentemente da cotação.
Portanto, apostar em alta no contrato futuro Brent para dezembro de 2027 exige disposição para suportar possíveis perdas no curto prazo, já que os preços deverão permanecer baixos nos próximos meses, principalmente após o fim da demanda sazonal do verão no hemisfério norte.
Com o tempo, os preços baixos criarão as condições para uma nova recuperação cíclica, embora essa realidade ainda esteja distante e exija paciência e cautela.