No segundo mandato, Trump adota postura mais agressiva e age com maior autonomia
Durante sua segunda gestão, Donald Trump tem demonstrado uma postura mais ousada e segue adiante em suas iniciativas mesmo diante de restrições, segundo relatos de funcionários e aliados próximos. Um exemplo disso é a construção planejada de um salão de festas na Casa Branca, que demandaria a demolição de parte da Ala Leste e prejudicaria as visitas diárias. Apesar dos alertas de assessores, Trump decidiu prosseguir com a obra, contratando os construtores diretamente.
No primeiro mandato, membros do governo costumavam conter as ações impulsivas de Trump em temas diversos, como tarifas, imigração e até no controle do Federal Reserve (Fed). Já neste segundo período, há menos interlocutores tentando moderar suas decisões, o que tem sido percebido por insiders da Casa Branca e observadores políticos.
Marc Short, antigo diretor de assuntos legislativos da presidência, afirmou que Trump entendeu que “há pouco que possa detê-lo” em suas vontades. Recentemente, ele intensificou pedidos como o fim do voto por correspondência, instituiu regras para pressionar governos locais a deixarem políticas de fiança sem dinheiro, ameaçou o envio de tropas federais para cidades como Baltimore e manifestou interesse em fazer o mesmo em Nova York e Chicago, por vezes extrapolando seus poderes.
Em uma das movimentações mais controversas, Trump tentou exonerar Lisa Cook, governadora do Federal Reserve, o que provocou atritos com a Suprema Corte, que indicou que a instituição possui proteção contra interferências políticas diretas. Algumas dessas medidas foram apoiadas por assessores, porém muitas parecem ser iniciativa exclusiva do presidente.
Além disso, desde o início do segundo mandato, Trump tem mencionado com maior frequência conceitos relacionados ao autoritarismo. Durante a campanha, chegou a declarar que seria um ditador apenas no “primeiro dia” da presidência, comentário que preocupou democratas, que indicam o ex-presidente como uma ameaça à democracia.
No Salão Oval, Trump chegou a elogiar suas próprias estratégias para o combate ao crime em Washington, declarando que “muitas pessoas dizem que talvez gostem de ter um ditador”. Embora afirme não se considerar um, a repetição desse tipo de fala evidencia sua proximidade com práticas autoritárias.
A ofensiva de Trump pela ampliação do poder federal
O atual momento é caracterizado por um flerte de Trump com um estilo de governança contrário às bases democráticas fundadoras dos Estados Unidos, com foco em expandir o poder da força federal e romper protocolos que tradicionalmente limitam a ação do presidente.
Em seu segundo mandato, Trump participa mais ativamente da gestão, tomando decisões diretas sobre demissões e nomeações em agências, conforme relatos de autoridades do governo. Desde que reassumiu em janeiro, ele cancelou acordos com universidades, escritórios de advocacia, empresas de tecnologia e veículos de imprensa, mostrou- se inflexível diante de objeções locais ao envio de fuzileiros navais para Los Angeles e assumiu o comando da força policial em Washington, enviando milhares de soldados e agentes federais às ruas.
Também dispensou uma economista responsável por um relatório mensal que não lhe agradava, ordenou a saída de funcionários de carreira em órgãos públicos e tentou demitir membros de instituições que não estão diretamente sob seu controle, como a National Portrait Gallery. Tais ações receberam pouco questionamento por parte dos assessores e foram até apoiadas.
Uma das únicas exceções são as tarifas, onde houve recuos em função do impacto nos mercados financeiros. Historicamente, Trump demonstra desejo de concentrar o controle sobre todas as instituições do país. O historiador Douglas Brinkley, da Rice University, afirma que Trump “parece querer dominar a todos, deixando claro que ele está no comando”.
Além disso, o presidente promove uma visão quase monárquica da presidência ao realizar eventos como o desfile militar em comemoração aos 250 anos do Exército dos EUA, apesar da resistência inicial de autoridades, que temiam que a celebração parecesse um espetáculo autoritário. Após a realização do desfile, Trump expressou insatisfação e indicou desejo por um evento ainda mais grandioso no outono.
Também há mudanças físicas no símbolo do poder americano: o Salão Oval foi decorado com elementos dourados semelhantes aos de palácios do Golfo, mesmo contrariando orientações de assessores. A Casa Branca ganhou novos mastros de bandeira nos jardins frontal e traseiro.
Trump distribui bonés de campanha com a inscrição “Trump 2028” a visitantes, embora a Constituição proíba que ele concorra a um terceiro mandato, e mantém esses itens em um dos escritórios da Casa Branca.
Comparações históricas em relação a presidentes anteriores
A história dos EUA registra presidentes que alteraram significativamente o cargo que ocuparam: Andrew Jackson enfrentou a elite e reforçou o populismo; Abraham Lincoln suspendeu o habeas corpus e aboliu a escravidão; Franklin D. Roosevelt criou a previdência social. A era Trump é marcada pela centralização excessiva do poder na presidência.
Trump tem declarado que “tem o direito de fazer o que quiser”, refletindo sua interpretação expansionista do cargo. Sua porta-voz, Karoline Leavitt, destacou que a habilidade política e a compreensão do presidente sobre as demandas populares fundamentam suas decisões, com a equipe escolhida por ele para implementar suas diretrizes.
Alguns funcionários admitem surpresa com a diferença entre os mandatos. William Beach, responsável pelo relatório de empregos no primeiro mandato, relatou ter mantido um relacionamento respeitoso com a equipe de Trump e nunca ter percebido interferências políticas. Antigos assessores, inclusive, costumavam tentar limitar algumas ações do presidente, como impedir a deportação para países terceiros ou advogar contra remoção da independência do Federal Reserve.
Bryan Lanza, lobista e aliado, afirmou que hoje não há mais ninguém atrás de Trump moderando suas decisões — a equipe apenas procura seguir suas diretrizes, sem tentar detê-lo, diferentemente do que ocorria no primeiro mandato.
A postura atual e os objetivos de Trump
Durante este mandato, Trump tem passado mais tempo na Casa Branca, trabalhando tarde, ouvindo música alta com portas do Salão Oval abertas e expressando diversão com o cargo. Ele compartilha com assessores insatisfações que teve no passado, como conflitos internos e investigações, mas que na época eram acompanhadas de limitações que hoje parecem inexistentes.
No primeiro mandato, ele demonstrava menos empenho em confrontar universidades e escritórios liberais e era mais receptivo a críticas. Apesar do desejo de realizar encontros globais em suas propriedades privadas, não avançava por receio da reação pública. Também escutava frequentemente que não poderia se envolver em seus negócios enquanto estivesse na presidência.
Já neste mandato, Trump tem ignorado conselhos. Por exemplo, recusou recomendações para não participar de eventos ligados a criptomoedas por possíveis conflitos de interesse, com assessores optando por não interferir. Em maio, desejaram bloquear a exibição a Trump de um vídeo alegando um “genocídio branco” na África do Sul, mas acharam melhor não agir.
A atual chefe de gabinete, Susie Wiles, não controla o uso do celular do presidente nem o metalibera na tomada de decisões, afirmando que seu papel é coordenar a equipe, não o presidente diretamente. Os demais membros do gabinete adotam postura semelhante.
Brooke Rollins, secretária da Agricultura, comparou as transformações ocorridas sob Trump a revoluções históricas, afirmando que esta seria a terceira revolução americana sob sua liderança.
Este texto foi traduzido do inglês para o português por InvestNews.