Operação Carbono Oculto revela vulnerabilidades no sistema financeiro; entenda a fraude envolvendo fundos de investimento e orientações para investidores
Especialistas alertam que a ação realizada na região da Faria Lima abala a “indústria da confiança” que sustenta o mercado de investimentos.
No último dia 28 de agosto de 2025, a Polícia Federal realizou uma operação contundente no coração da indústria de investimentos do Brasil, localizada na Avenida Faria Lima, São Paulo. A denominada Operação Carbono Oculto revelou a atuação do crime organizado infiltrado na economia formal, utilizando postos de combustíveis, fintechs e fundos de investimento para articular fraudes e lavagem de dinheiro envolvendo bilhões de reais. Ainda que a investigação tenha focado em fundos fechados e empresas diretamente responsáveis pelo esquema, o impacto chegou ao investidor comum, gerando questionamentos sobre a segurança e a transparência do mercado.
Especialistas recomendam cautela e estratégias para investidores
O caso evidencia que inclusive fundos e instituições financeiras digitais podem ser utilizados para práticas ilícitas. Entretanto, especialistas destacam que é possível adotar medidas para proteger o patrimônio. Wellinton Depaoli, especialista em alocação da Manchester Investimentos, afirma que os investidores devem optar por instituições sólidas, preferencialmente ligadas a bancos tradicionais, e desconfiar de fundos fechados que não fornecem clareza sobre seus investimentos.
Depaoli reforça a importância de diversificação e da manutenção de liquidez no portfólio, sugerindo investimentos em aplicações simples, com fácil acesso aos recursos, como o Tesouro Direto, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos por grandes bancos e fundos de liquidez. Ele ressalta que sempre é fundamental verificar a gestão, auditoria e administração dos fundos antes de investir.
Complementando, o economista Danilo Coelho recomenda que o investidor privilegie instituições maiores para suas aplicações e tenha atenção ao histórico dos fundos, preferindo aqueles com gestão clara e crescimento gradual em vez dos que atingem rapidamente bilhões em ativos sob gestão. Ele observa que surpresas negativas foram vistas principalmente em empresas pequenas, à exceção da Genial.
A Genial divulgou nota informando que tomou conhecimento do caso apenas pela imprensa, não recebeu notificações oficiais e que as acusações se referem ao Radford Fundo de Investimento Financeiro Multimercado Crédito Privado – Responsabilidade Limitada. A instituição esclareceu que o fundo foi herdado em 2024 após análise criteriosa dos ativos e dos investidores e anunciou a renúncia da administração do fundo até que a situação seja esclarecida.
Para a psicóloga Ana Paula Hornos, o investidor deve preservar a serenidade, evitando decisões precipitadas baseadas em medo ou euforia. Ela destaca que a confiança no mercado depende da ética e do cumprimento rigoroso das normas e regulamentos, enfatizando a necessidade de disciplina e planejamento.
Fundos fechados sob suspeita e riscos para o mercado
A Polícia Federal detalhou que os fundos envolvidos na operação são fechados e ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa investigada no esquema. No entanto, também existe o risco de contaminação de fundos abertos, o que gera opiniões divergentes.
Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa, avalia que o investidor do varejo não sofrerá prejuízos diretos, mas o impacto é sistêmico, afetando a credibilidade do mercado, algo fundamental para seu funcionamento. Ele alerta ainda para o possível envolvimento de autoridades americanas, que podem classificar essas organizações criminosas como terroristas devido a ligações com o narcotráfico, complicando ainda mais o cenário.
Danilo Coelho ressalta que o maior risco pode vir do efeito dominó nas operações financeiras, com gestores obrigados a vender ativos para limpar as estruturas, o que poderia depreciar o valor do crédito privado e de ações, adicionando instabilidade ao mercado.
Apesar das preocupações, a Bolsa de Valores brasileira fechou o dia 28 de agosto com valorização de 1,23%, com o índice Ibovespa registrando 141.049 pontos.
A operação questiona práticas ESG e reforça a necessidade de regulação mais rígida
Para Silva, a crise revela fragilidades na indústria de investimentos, especialmente quanto às práticas ESG (ambiental, social e governança), que frequentemente são utilizadas como mera imagem, sem impedir grandes escândalos. Ele exemplifica com a Reag Investimentos, uma das gestoras citadas na investigação, que faz parte do Novo Mercado da B3, segmento considerado de alta governança. O especialista aponta que estar no Novo Mercado não garante confiança, citando casos passados como IRB e Americanas que envolvem fraudes.
Síntese do problema é a ameaça à chamada “indústria da confiança”, base do sistema financeiro.
Possíveis desdobramentos regulatórios
O especialista Danilo Coelho aponta que o impacto de imagem pode ser minimizado caso órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banco Central e a B3, atuem com rigor para restaurar a confiança. A expectativa é que a falcatrua deflagre maior fiscalização, exigindo compliance mais rigoroso, o que pode aumentar os custos das gestoras e provocar a fusão das menores delas.
Em nota, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) destaca a solidez do sistema financeiro brasileiro, seu rigor regulatório e o empenho das entidades públicas e privadas no combate a irregularidades.
Por sua vez, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) ressaltou que a operação contribui para distinguir quais agentes estão alinhados ao crime organizado.
Como estratégia imediata, o governo determinou que fintechs passem a transmitir à Receita Federal o mesmo tipo de informações exigidas dos grandes bancos, aumentando a fiscalização tributária. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que as fintechs serão consideradas instituições financeiras a partir do dia seguinte à operação, ampliando o poder de fiscalização sobre elas.
O economista Tiago Velloso avalia que essa medida traz maior transparência, porém pode aumentar as tarifas para os clientes e restringir inovações no mercado, pois o custo do compliance mais rigoroso tende a ser repassado aos usuários.
Pontos ainda em aberto e dúvidas sobre o alcance da operação
A operação Carbono Oculto, iniciada em 28 de agosto, ainda possui diversas questões a serem esclarecidas. Entre os aspectos pendentes, destacam-se a origem dos recursos ilícitos e a forma como o dinheiro foi incorporado às gestoras investigadas.
Especialistas também questionam o alcance das novas regras impostas, o tratamento dos dados recolhidos e as exigências de capital que serão requeridas às instituições reguladas após o episódio.
Wellinton Depaoli lembra que os investidores afetados ainda desconhecem a lista completa dos fundos de investimento atingidos, quando terão acesso aos recursos bloqueados e de que maneira receberão informações oficiais referentes à operação.