Acordo Ganha-Ganha para Gás de Vaca Muerta Entre Brasil e Argentina

Diplomata brasileiro define como “ganha-ganha” acordo sobre gás de Vaca Muerta

Autoridades, especialistas e representantes de empresas do Brasil e da Argentina estiveram reunidos recentemente em Buenos Aires com o objetivo de avançar nas negociações para viabilizar o fornecimento de gás proveniente de Vaca Muerta, um recurso estratégico para ambos os países. Organizado pela Câmara de Comércio, Indústria e Serviços Argentino-Brasileira (Cambras), o encontro focou em resolver pendências e implementar a cooperação para a exportação do gás natural.

Durante a reunião, Julio Bitelli, embaixador brasileiro na Argentina, ressaltou que, mesmo diante das diferenças políticas entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei, os dois governos estão colaborando em temas de interesse mútuo e estratégicos. Ele observou que a Argentina está passando por transformações estruturais significativas que criam oportunidades, embora os investidores brasileiros mantenham cautela enquanto aguardam maior clareza sobre o cenário geral. Bitelli enfatizou que a relação com a Argentina é fundamental para o Brasil e supera eventuais divergências entre as administrações.

Importância de Vaca Muerta para os dois países

Situada na região da Patagônia argentina, Vaca Muerta é reconhecida como uma das maiores reservas mundiais não convencionais de gás e petróleo. Para a Argentina, a exploração desta reserva representa uma fonte de receita em dólar essencial para sua economia. Já o Brasil enxerga esse recurso como uma solução para diversificar e fortalecer seu abastecimento de gás, o que pode favorecer a reindustrialização do país.

No mesmo evento, Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, destacou que algumas empresas brasileiras já iniciaram a produção na Argentina visando exportações para os Estados Unidos, motivo pelo qual buscam alternativas diante das tarifas de até 50% impostas pelo governo Trump ao Brasil.

Desafios e propostas para viabilizar o acordo

Entre os tópicos debatidos estavam a necessidade da criação de regras claras, a definição de preços justos e a remoção de barreiras para a entrada de novos investidores, além da integração de um marco regulatório que ofereça segurança ao mercado. Mauricio Abi-Chahin, coordenador-geral de Política Setorial do Ministério de Minas e Energia do Brasil, mencionou que essa estrutura regulatória poderia proporcionar um ambiente estável tanto para compradores brasileiros quanto para investidores argentinos.

Uma das propostas para fomentar o desenvolvimento desse marco regulatório inclui a assinatura de um Memorando de Entendimento e a formação de um grupo de trabalho que abrangeria também países vizinhos, como Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, para estudar as melhores rotas de fornecimento de gás na região.

Condições e demanda do mercado

Para que a Argentina possa ampliar suas vendas de gás para o Brasil, a TotalEnergies apontou a necessidade de redução dos custos para atingir um preço competitivo em torno de US$ 7 (aproximadamente R$ 38) por MBTU, o que demandará cooperação entre todas as partes envolvidas, segundo Soledad Lysak, diretora-geral da empresa.

Gabriela Aguilar, gerente geral da Excelerate Energy, enxerga o Brasil como um mercado potencialmente grande para Gás Natural Liquefeito (GNL), especialmente durante períodos de seca, quando a demanda por energia tende a crescer.

Representantes das empresas Transportadora de Gas del Norte e IBP Brasil apontaram que o sucesso das vendas de gás argentino ao Brasil dependerá de preços competitivos, contratos firmes e garantias de fornecimento, especialmente para o segmento de energia elétrica que requer estabilidade contínua.

Pablo Erias, gerente comercial da Transportadora de Gas del Norte, explicou que, embora o gás canalizado ofereça preços mais baixos, ele exige compromissos contratuais de longo prazo, entre 15 e 20 anos, para justificar os investimentos em infraestrutura. Segundo ele, a Argentina ainda necessita ampliar sua infraestrutura para atender cidades como Rosário, Córdoba, Santa Fé, Tucumán e Salta, e que planejar essa expansão visando o mercado regional poderia reduzir os custos em 20% a 30%.

Contexto e perspectivas do acordo

Localizada na província argentina de Neuquén, Vaca Muerta é a segunda maior reserva de gás de xisto do planeta, descoberta em 1931, mas sua exploração comercial só começou por volta de 1980, utilizando a técnica de fraturamento hidráulico (fracking), que permite a liberação do gás e petróleo contidos nas rochas.

Em novembro do ano anterior, o Brasil firmou um acordo para facilitar a importação do gás natural da Argentina. O objetivo principal do país é reduzir sua dependência do gás boliviano, cuja produção tem diminuído, e, com isso, impulsionar a reindustrialização, beneficiando setores importantes, como fertilizantes, vidro, cerâmica e petroquímica.

Para a Argentina, ter o Brasil como parceiro comercial representa a possibilidade de aumentar sua receita em dólares e avançar rumo à autossuficiência energética.

A meta brasileira, anunciada no final do último ano, estabelecia o transporte de 2 milhões de metros cúbicos de gás por dia no curto prazo, podendo atingir até 30 milhões de metros cúbicos até 2030. Contudo, apenas em abril deste ano foi registrada a primeira importação, correspondente a 500 mil metros cúbicos, transportados via gasoduto boliviano.

O acordo também prevê estudos para viabilizar o transporte do gás por rotas alternativas que passem pelo Paraguai, Uruguai e pelo estado do Rio Grande do Sul.

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