Por que voos curtos de ponte aérea exigem maior esforço dos motores dos aviões?
Os aviões que operam em trechos curtos, conhecidos como voos de ponte aérea, demandam mais atenção na manutenção devido à maior exigência sobre os motores. Esse tipo de operação é comum em rotas que conectam cidades próximas, como São Paulo e Rio de Janeiro, que encurtam distâncias, porém aumentam o desgaste das peças mecânicas, fazendo com que as aeronaves precisem passar com maior frequência por revisões técnicas.
A principal explicação para essa maior demanda está na decolagem, fase do voo que exige o máximo desempenho dos motores. Segundo Luiz Froes, vice-presidente de Relações com Governos da GE Aerospace para América Latina, os motores devem operar na capacidade máxima durante esse momento para garantir a saída segura da pista.
A GE Aerospace, uma das líderes globais na fabricação desses motores, realiza manutenção em instalações localizadas no estado do Rio de Janeiro, tendo recebido cerca de 600 motores apenas em 2024 em suas oficinas brasileiras.
Ao contrário de veículos comuns, os motores a jato têm sua manutenção baseada na quantidade de ciclos, que correspondem a uma decolagem seguida por um pouso. “Um motor pode suportar até 20 mil ciclos antes de precisar de manutenção”, explica Froes. No caso de voos curtos, é possível que a aeronave complete até 10 ciclos em um único dia, provocando uma necessidade mais frequente de revisões.
Para minimizar o desgaste contínuo dos motores, uma das estratégias adotadas consiste em alternar as aeronaves utilizadas nesses trajetos. Por exemplo, um avião pode operar no voo São Paulo-Rio em um dia e realizar um voo mais longo, como para Recife, no dia seguinte, alternando o uso para reduzir o impacto nas peças.
Manutenção e inspeções constantes
Em geral, motores são submetidos a revisões de rotina a cada cinco ou seis anos. Contudo, esse intervalo pode ser antecipado caso ocorram imprevistos, como impactos de pássaros ou indícios de avarias em componentes específicos.
As companhias aéreas fazem inspeções diárias nos motores, realizando reparos simples em suas próprias oficinas. Quando surgem problemas mais graves ou chega a hora das revisões periódicas, os motores são desmontados e enviados aos fabricantes para uma análise completa, onde todas as peças internas passam por avaliação criteriosa.
Segundo Froes, o funcionamento dos motores a jato pode ser comparado ao de um aspirador: eles sugam uma grande quantidade de ar, comprimem-no, misturam com o combustível e produzem a combustão necessária para gerar o empuxo que permite a decolagem e o voo.
Durante as fases seguintes do voo, o esforço dos motores diminui. Após alcançar cerca de 10 mil pés de altitude, a resistência do ar torna-se menor e as rotações do motor caem. No momento do pouso, os motores podem ativar a função reversa para auxiliar na frenagem, mas essa operação também demanda menos esforço comparado à decolagem.