Master e BRB: relembre a operação mais controversa do mercado financeiro

Na última quarta-feira, 3 de setembro de 2025, o Banco Central rejeitou a proposta de aquisição do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). Após mais de cinco meses de avaliação, a autarquia decidiu indeferir a operação, que havia sido anunciada em 28 de março deste ano. O BRB tinha a intenção de comprar uma participação majoritária no Banco Master, mas a autorização regulatória necessária não foi concedida.

Proposta e contexto da aquisição

O Banco de Brasília surpreendeu o mercado ao informar, no final de março, sua intenção de adquirir parte do Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro, pretendendo obter 58% do capital da instituição. A ideia era formar um novo conglomerado financeiro sob controle estadual, integrando as operações das duas instituições. Contudo, a proposta suscitou dúvidas quanto à qualidade dos ativos do Banco Master, que se destacava por atrair recursos com taxas muito acima da média do mercado, oferecendo rendimentos de até 140% do CDI em seus CDBs.

O BRB esclareceu que, embora a intenção fosse a fusão, as empresas manteriam estruturas separadas, aproveitando governança compartilhada, sinergias e coordenação estratégica. O banco público continuaria focado em crédito imobiliário, setor público, meios de pagamento, seguros e investimentos, enquanto o Master contribuiria com operações de cartão de crédito consignado, câmbio, mercado de capitais e atacado.

Desdobramentos ao longo da operação

Compra aprovada internamente e necessidade de aval regulatório

Em 28 de março, o BRB anunciou que o conselho de administração aprovou por unanimidade a compra do Banco Master, mas ressaltou que a operação dependia das aprovações do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Na avaliação divulgada, o novo conglomerado buscaria ampliar sua atuação, oferecendo uma gama completa de serviços financeiros e mantendo solidez regulatória, capital, liquidez e rentabilidade adequadas ao porte da fusão.

Resultados financeiros do Banco Master

Em 1º de abril, o Banco Master divulgou seus resultados de 2024, com lucro líquido de R$ 1,068 bilhão, mais que o dobro do valor registrado em 2023, que foi de R$ 532 milhões. O patrimônio líquido passou de R$ 2,382 bilhões para R$ 4,74 bilhões, e os ativos de crédito aumentaram para R$ 40,31 bilhões. O retorno sobre o patrimônio (ROE) encerrou 2024 em 28,5%, comparado a 29,1% em 2023. As demonstrações financeiras foram auditadas pela KPMG.

Redução nas taxas dos CDBs do Master

Logo após o anúncio da proposta de aquisição, no dia 2 de abril, o Banco Master anunciou uma redução nas taxas dos seus Certificados de Depósito Bancário (CDBs). As taxas pré-fixadas foram diminuídas em pelo menos 0,3 ponto percentual em todos os prazos. Por exemplo, um CDB prefixado com vencimento em 30 dias passou de 14,2% para 13,9% ao ano. Nos CDBs pós-fixados, as reduções chegaram a 3 pontos percentuais, com o título de um ano reduzindo de 110% para 107% do CDI.

Agências de rating colocam ratings em observação

A agência Fitch Ratings colocou as notas de crédito do BRB e do Banco Master em observação devido a incertezas e desafios na conclusão da fusão. A S&P Seguradora adotou postura semelhante, afirmando que ainda era difícil mensurar o impacto da aquisição no perfil financeiro e no capital do BRB, além de exigir mais clareza sobre a reorganização societária do Master.

Imbróglio judicial e autorização do Cade

No fim de abril, a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público (Prodep) moveu uma ação civil pública contestando a operação por irregularidades, como a ausência de uma assembleia de acionistas do BRB para aprovar a compra e a falta de autorização legislativa da Câmara Legislativa do Distrito Federal, conforme previsto na Constituição Federal e na Lei Orgânica local.

Em 6 de maio, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) inicialmente suspendeu o contrato definitivo de aquisição. Porém, três dias depois, o desembargador João Egmont Leôncio Lopes suspendeu essa decisão, permitindo a continuidade do processo, por entender que o bloqueio poderia prejudicar uma operação estratégica antes mesmo da avaliação dos órgãos reguladores.

Em 17 de junho, o Cade aprovou a aquisição sem restrições, deliberando que não haveria prejuízo à concorrência com a operação. Segundo o processo, o BRB ficaria com 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Banco Master, totalizando 58,04% do capital social, detido anteriormente pela Master Holding Financeira S.A. e DV Holding Financeira S.A., controladas por Daniel Vorcaro.

A decisão ainda indicava que, antes do fechamento do negócio, haveria uma reorganização societária para segregar certos ativos e passivos, preparando o banco para o investimento do BRB e possibilitando o controle compartilhado da instituição.

Conclusão da operação e recente indeferimento pelo Banco Central

Apesar das autorizações judiciais e do aval do Cade, o Banco Central optou por rejeitar a compra do Banco Master pelo BRB na última quarta-feira, encerrando o processo. A análise criteriosa da autarquia evidenciou riscos que também preocupavam o mercado desde o início da proposta, contribuindo para as complexidades e polêmicas que envolveram esta aquisição.

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