Por que El Salvador distribuiu suas reservas de bitcoin em múltiplas carteiras
O governo de El Salvador tomou a decisão de dividir sua Reserva Nacional Estratégica de Bitcoin entre diversos endereços, numa iniciativa que visa aumentar a segurança e proteger suas criptomoedas contra possíveis ameaças, incluindo aquelas associadas à computação quântica.
De acordo com informações do Escritório de Bitcoin do país, responsável pela política estatal em criptomoedas, os fundos que anteriormente estavam concentrados em um único endereço foram fragmentados em várias carteiras, cada uma com limite máximo de 500 BTC. Essa mudança está alinhada com as melhores práticas para a gestão de ativos digitais, buscando minimizar riscos que podem emergir com avanços tecnológicos.
O Escritório destacou em sua conta oficial na plataforma X que computadores quânticos, teoricamente, poderiam comprometer a criptografia de chaves públicas e privadas por meio do algoritmo de Shor. Isso implica que, durante uma transação de bitcoin, quando a chave pública é liberada no blockchain, o endereço fica vulnerável a ataques capazes de revelar a chave privada e redirecionar os fundos antes da confirmação da operação.
Anteriormente, para garantir transparência, o governo utilizava um único endereço público para guardar todas as reservas, o que facilitava o acompanhamento público. Contudo, essa estratégia exponha continuamente a chave pública, criando um potencial risco no cenário de desenvolvimento de computadores quânticos operacionais.
Para mitigar esses riscos, El Salvador implementou um painel público onde os cidadãos podem monitorar os endereços utilizados sem que as carteiras sejam reutilizadas, reforçando assim a segurança da gestão dos bitcoins.
Essa decisão acontece em meio a um contexto delicado na relação do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que em julho recomendou a pausa na aquisição de bitcoin por parte das autoridades salvadorenhas. Entretanto, dados recentes da Arkham Intelligence indicam que El Salvador continuou acumulando BTC, com a última compra registrada no domingo passado.
Atualmente, a reserva do país soma 6.286 bitcoins, avaliados em cerca de US$ 686 milhões, considerando o preço atual de aproximadamente US$ 109.204 por moeda.
Ameaças da computação quântica
Enquanto alguns setores minimizam a possibilidade de ataques quânticos, especialistas em segurança e privacidade digital veem com bons olhos os esforços preventivos adotados por El Salvador. Nick Neuman, CEO e cofundador da empresa Casa, que atua no armazenamento seguro de bitcoins e outros ativos digitais, elogiou a iniciativa do governo dizendo ser um exemplo exemplar para outras nações na gestão de suas reservas de bitcoin.
Companhias de grande porte, como a BlackRock, alertaram que computadores quânticos futuros podem comprometer a segurança dos algoritmos criptográficos atualmente utilizados, fragilizando a viabilidade dos sistemas existentes.
Michael Saylor, presidente da MicroStrategy e defensor fervoroso do bitcoin, acredita na adaptabilidade da rede e afirma que, assim como acontece com atualizações da Microsoft ou governamentais, o software será ajustado para garantir sua proteção. Segundo ele, o bitcoin permanece como o sistema mais resistente a ataques no universo digital.
Desde a adoção oficial do bitcoin como moeda legal em El Salvador em setembro de 2021, junto com o dólar americano, o governo tem sido pioneiro mundial na aplicação estatal de criptomoedas, apesar das críticas de organismos internacionais e da baixa adesão popular ao uso cotidiano da criptomoeda. O presidente Nayib Bukele assegurou que essa estratégia continuará sendo implementada.