Petrobras (PETR4) continuará surpreendendo com seus dividendos ou pode repetir o erro do Banco do Brasil (BBAS3)?
O cenário entre Petrobras e Banco do Brasil revela contrastes evidentes para os investidores. Enquanto acionistas da Petrobras demonstram maior tranquilidade, os do Banco do Brasil enfrentam desafios, especialmente após a redução dos dividendos pagos. Esse quadro torna relevante analisar se a Petrobras seguirá entregando proventos sólidos ou se deverá enfrentar dificuldades similares às do BBAS3.
Impacto da Margem Equatorial nos investimentos e dividendos
A exploração da Margem Equatorial desponta como um divisor de águas para a Petrobras, com possibilidade de ampliar prazos de produção e receitas futuras a partir de 2030. Porém, essa nova fronteira também traz a necessidade de maiores investimentos no curto prazo, o que pode significar menos recursos disponíveis para dividendos regulares.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, deixou claro que apostar contra a empresa pode gerar perdas, uma afirmação que aveses é vista com ceticismo, mas que reflete a confiança da companhia em seus fundamentos. Para aprofundar essa questão, especialistas foram consultados para avaliar as perspectivas da companhia no médio prazo.
Previsões para o preço do petróleo e seu efeito nos dividendos
O consenso do mercado aponta que o preço do barril de petróleo Brent deve permanecer em níveis modestos nos próximos anos, o que dificulta a distribuição de dividendos extraordinários pela Petrobras. Segundo Gustavo Poladian, analista da Meraki Capital, a média do barril deve ficar em US$ 68 para 2025 e US$ 65 para 2026, influenciada por um aumento da produção da Opep e países externos ao grupo, em um cenário de menor demanda global.
Além disso, o crescimento dos estoques em países fora da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) exerce pressão para manutenção dos preços baixos da commodity.
Diante disso, é esperado que, em 2025, a Petrobras concentre os pagamentos apenas em dividendos ordinários, pois pagamentos excedentes seriam incompatíveis com a geração de caixa e poderiam elevar o endividamento da empresa.
O analista Ruy Hungria, da Empiricus, reforça que o preço do Brent deve permanecer próximo a US$ 60, o que está próximo ao custo dos produtores marginais, reduzindo as chances de dividendos extras neste período.
Já o especialista Vitor Sousa, da Genial, ressalta que episódios de dividendos extraordinários só ocorreriam se o preço do barril mantivesse médias superiores a US$ 70 ou US$ 75, algo improvável para 2025 segundo a própria gestão da Petrobras.
Exploração da Margem Equatorial, caixa da empresa e política de dividendos
A produção atual no pré-sal tem previsão de queda entre 2032 e 2035, o que obriga a Petrobras a buscar novas reservas. A Margem Equatorial, que abrange regiões como Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, incluindo a Bacia Foz do Amazonas, vem sendo vista como a alternativa para estender o ciclo produtivo da estatal.
Embora o Ibama tenha negado licenças no passado, a Petrobras realizou testes recentes de perfuração e aguarda resultados ainda em setembro, que poderão abrir caminho para uma campanha de exploração efetiva. Contudo, os efeitos financeiros serão sentidos apenas a longo prazo. Segundo Vitor Sousa, da Genial, mesmo com liberação formal, o início da produção comercial pode levar de cinco a seis anos.
No curto prazo, espera-se aumentos nos investimentos e uma possível redução dos dividendos nos próximos dois anos, porém isso deverá ser compreendido pelo mercado como um movimento estratégico e benéfico para o futuro da empresa.
Regis Chinchila, da Terra Investimentos, prevê impacto no caixa para um horizonte de sete a dez anos, após todas as etapas de avaliação e desenvolvimento da nova área.
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, reforça a importância de explorar reservas próximas e conhecidas, o que simplifica o processo frente à atuação em locais mais distantes e complexos.
Estudos preliminares indicam que a área tem potencial para produzir mais de um milhão de barris diários no futuro.
Diversificação dos investimentos além do pré-sal
A Petrobras demonstra interesse em expandir suas receitas para outros segmentos como etanol, gás de botijão (GLP), distribuição, fertilizantes e energia renovável, gerando preocupação entre analistas que veem essas ações como afastamento do core business da empresa.
Jayme Simão, fundador do Hub do Investidor, critica essa diversificação, lembrando que a força da estatal é a exploração petrolífera e que tentativas anteriores em outros setores, especialmente em governos de esquerda, não trouxeram sucesso.
Gustavo Poladian avalia que os setores de produção e exploração do petróleo continuam sendo os mais rentáveis, e que grandes movimentações em novas frentes devem ser limitadas em 2025, com processos de aquisição ou venda de ativos levando tempo para decisão.
Segundo o analista, o etanol aparenta ser prioridade, embora a participação da Petrobras em possíveis aquisições seja minoritária, enquanto o GLP está em fase inicial de estudo com influência política do programa “Gás para Todos”, com pouca expectativa de avanços antes das próximas eleições.
Duração da atual política de dividendos da Petrobras
A política vigente determina que a Petrobras destine 45% do fluxo de caixa operacional, descontados os investimentos (capex), aos dividendos. Com novo ciclo de investimentos e o preço baixo do petróleo, investidores questionam a sustentabilidade dessa política.
Um estudo do Bradesco BBI projeta que a manutenção dessa política ocorrerá por 3 a 6 anos caso o Brent oscile em torno de US$ 60. Se o preço cair para US$ 55 ou menos, o prazo cairia para 1 ou 2 anos. Além disso, o BBI alerta para riscos adicionais caso a Petrobras avance em aquisições ou novos segmentos, o que poderia comprometer a eficiência da política e os dividendos mínimos.
Analistas ouvidos estimam um horizonte entre 2 e 5 anos para continuidade da atual política, dependendo dos investimentos necessários para a Margem Equatorial.
Jayme Simão reforça que com preços atuais do petróleo e cenário estável de capex e endividamento, a empresa é capaz de pagar dividendos próximos a dois dígitos no médio prazo, mantendo a política sustentável.
Será que apostar contra a PETR4 realmente traz prejuízo?
Embora a declaração da CEO Magda Chambriard tenha sido vista por muitos como reativa, há consenso sobre a solidez dos fundamentos da Petrobras para investidores focados em dividendos. As ações seguem subavaliadas, negociadas a menos de quatro vezes o múltiplo EV/Ebitda.
O mercado identifica potencial de valorização e dividend yield que pode alcançar até 13% nos próximos doze meses, mantendo pagamentos regulares de proventos.
Por outro lado, a Genial Investimentos sugere uma alternativa em outra petroleira, a Prio (PRIO3), com potencial de valorização e dividendos estimados em até 20% em 2026, com novos campos acrescentando produção, o que poderia surpreender o mercado pela subavaliação atual do ativo.



