Petrobras Avalia Volta à Distribuição de Gás de Cozinha e Impacto no Preço

Petrobras Avalia Volta à Distribuição de Gás de Cozinha e Impacto no Preço

Petrobras avalia retorno à distribuição do gás de cozinha; preço do botijão pode baixar?

Após cinco anos afastada do ramo, desde a venda da Liquigás, a Petrobras estuda reintegrar o mercado de distribuição do gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido popularmente como gás de cozinha. A decisão acontece em meio a críticas feitas pelo governo Lula sobre os valores praticados no botijão.

A Petrobras, que atualmente produz o GLP mas não atua na venda direta, aprovou recentemente o retorno à distribuição deste combustível. No entanto, ainda não está definido se a estatal venderá o gás diretamente ao consumidor final, com entrega do botijão, ou se manterá a atuação apenas como distribuidora, concorrendo com as empresas privadas que adquirirem o produto para revenda.

O comunicado oficial da empresa revela que o objetivo é explorar negócios lucrativos e firmar parcerias na área de distribuição, respeitando os contratos vigentes. A medida está inserida em um plano estratégico que ainda está em fase inicial, considerado um estudo preliminar.

Por que a Petrobras quer retomar a distribuição do gás de cozinha?

A motivação principal, de acordo com a Petrobras, é voltar a empreender em setores rentáveis e que possam ser parceiras estratégicas no mercado de distribuição. A retomada surge também em um contexto de insatisfação do acionista controlador, o governo federal, em relação aos preços do botijão para o consumidor.

Durante um evento de inauguração de obra da transposição do Rio São Francisco, em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a disparidade entre o preço do gás vendido pela Petrobras, em torno de R$ 37, e o valor final para o consumidor, que pode chegar a até R$ 140 em algumas regiões.

Especialistas, como o estrategista Max Bohm, da Nomos Investimentos, credenciam a medida como uma ação com conotação mais política que econômica. Segundo ele, a Petrobras deveria estar priorizando negócios mais lucrativos, como a exploração do pré-sal, e teme que a influência política possa afetar decisões estratégicas da companhia.

Como era a atuação da Petrobras antes da venda da Liquigás?

Até 2020, a Petrobras atuava na distribuição de gás de cozinha através da Liquigás e na comercialização de combustíveis líquidos por meio da BR Distribuidora, atualmente conhecida como Vibra. A Liquigás era responsável pelo envase, distribuição e comercialização do GLP em todo o Brasil.

A venda da Liquigás, que ocorreu pela quantia aproximada de R$ 4 bilhões, teve como compradores o consórcio formado pelas empresas Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás. Naquela época, o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, justificou a privatização alegando a necessidade de reduzir as dívidas da companhia e concentrar esforços na exploração e produção de petróleo em águas profundas.

Embora lucrativa, a distribuição de gás apresentava retornos menores que os esperados na produção do pré-sal, estratégia que prometia ganhos superiores com investimentos semelhantes. Assim, a saída tinha intenção de liberar capital para áreas mais rentáveis.

Com a Liquigás, a Petrobras possuía presença nacional, 23 centros operacionais, cerca de 4,8 mil revendedores autorizados, e detinha cerca de 21,4% do mercado, o equivalente a um em cada cinco botijões comercializados no país.

O retorno da Petrobras ao mercado pode reduzir o preço do botijão?

Alguns especialistas acreditam que a volta da Petrobras à distribuição pode resultar em preços mais baixos para o consumidor. Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais, destaca que as margens das distribuidoras de gás cresceram expressivamente entre 2020 e 2023, sugerindo espaço para redução de preços.

No entanto, outros analistas, como Bruno Benassi, da Monte Bravo, ponderam que diminuir o valor final afeta diretamente a rentabilidade da operação da empresa. Reduzir o preço pode trazer alívio para os consumidores, mas compromete o retorno do investimento da Petrobras.

Relatórios do banco Citi indicam que o retorno da estatal ao segmento é uma possibilidade viável, porém deverá ocorrer de maneira gradual e onerosa. Uma estratégia provável seria a aquisição de empresas relevantes do setor, como a Vibra, vendida pela Petrobras em 2019.

No entanto, existem cláusulas contratuais, como a licença de uso da marca BR para a Vibra e uma cláusula de não concorrência vigente até 2029, que limitam a velocidade do retorno da Petrobras ao mercado de distribuição de gás de cozinha. A compra e retomada dos negócios acarretariam custos estimados em US$ 7 bilhões, o equivalente a cerca de R$ 38 bilhões.

Como é formado o preço do botijão de gás atualmente?

O preço médio nacional do botijão de gás de 13 kg encontra-se em aproximadamente R$ 107,49, chegando a R$ 109,97 na cidade de São Paulo, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) obtidos em agosto de 2025.

O valor final ao consumidor inclui o custo de produção, impostos e as margens aplicadas na distribuição e revenda do gás.

Além disso, estima-se que o mercado de distribuição de GLP é dominado por poucas empresas. Em 2022, quatro companhias concentravam cerca de 88,3% do setor nacional:

  • Copa Energia, com 23,81%;
  • Ultragaz, com 22,51%;
  • Nacional Gás, com 21,55%;
  • Supergasbras, com 21,02%.

Qual a posição do setor privado de distribuição sobre o retorno da Petrobras?

O anúncio da Petrobras foi recebido com surpresa por distribuidoras e revendedores, mas o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás) considera que essa retomada não configura uma ameaça significativa à concorrência.

Para o presidente do Sindigás, Sérgio Bandeira de Mello, a entrada de um novo competidor que siga as regras do mercado é positiva, destacando que o período em que a Liquigás fazia parte do setor era considerado saudável para todos os envolvidos.

No entanto, Bandeira acredita que o impacto da Petrobras sobre os preços e a concorrência deve ser limitado. Ele ressalta que o fator mais relevante para redução de custos e preços está na eficiência logística, que pode ser aprimorada por meio da otimização das rotas de entrega, georreferenciamento, telemetria e investimentos em tecnologia.

Como a presença da Petrobras pode modificar a competitividade do setor?

Embora o mercado apresente concentração, o setor ainda é competitivo e aberto para novos participantes, destaca Sérgio Bandeira. Ele compara a disputa de mercado com segmentos como o de água mineral e refrigerantes, onde a competição por pontos de venda é intensa.

O analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, afirma que os efeitos sobre o mercado dependerão do modelo que a Petrobras adotar. Se a estatal atuar unicamente como distribuidora, competirá nas margens junto ao setor privado. Porém, se ela optar por vendê-lo diretamente ao consumidor, com frota própria e pontos de revenda, isso poderá gerar mudanças radicais no cenário atual do mercado de gás de cozinha.

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