A trajetória do batom de R$ 850 da Louis Vuitton
Pat McGrath, renomada maquiadora, lidera o projeto de cosméticos da Louis Vuitton, que marca a entrada da marca de luxo no segmento de beleza. Com uma avaliação de US$ 20 bilhões, a grife voltou seu olhar para suas origens ao desenvolver a linha, com McGrath dedicando cinco anos ao projeto, incluindo uma extensa pesquisa nos arquivos da maison.
Inspirando-se em elementos clássicos como tons dourados que remetem à pátina dos couros bege e o design dos baús originais da Louis Vuitton, a linha traz oito paletas de sombras, dez protetores labiais e 55 batons, uma alusão ao nome da marca em algarismos romanos (“LV”). Estes produtos estarão disponíveis em lojas selecionadas ao redor do mundo ainda neste mês.
Os preços da coleção, chamada La Beauté Louis Vuitton, destacam seu apelo de luxo: o batom aromatizado custa US$ 160, cerca de R$ 850, valor que é o dobro do preço de um similar da Hermès e três vezes maior que o da Chanel. Já a paleta de sombras comercializa-se por US$ 250 (aproximadamente R$ 1.300). A sofisticada embalagem preta com o monograma da marca é recarregável, reforçando o conceito de exclusividade.
Os aficionados por Louis Vuitton podem enriquecer suas coleções com acessórios de luxo, como estojos compactos de lona com monograma por US$ 2.990 (em torno de R$ 16 mil) para os batons, além de bolsas exclusivas para as sombras custando US$ 530 (aproximadamente R$ 2.800).
Desafios e estratégias da Louis Vuitton
Esta investida no mercado de cosméticos ocorre em um momento delicado para o segmento de luxo, que enfrenta queda no movimento das lojas e um esfriamento no interesse dos consumidores em mercados importantes como China e Estados Unidos. Analistas apontam que ampliar a gama de produtos, incluindo beleza, é uma tática para atrair mais clientes e criar novos pontos de contato com o público.
Reconhecida como “Mãe” entre seus admiradores no mundo da moda, McGrath possui histórico de colaborações com grandes nomes como Giorgio Armani e Dolce & Gabbana, além de sua própria marca criada em 2015. Entre suas criações estão visuais com efeitos dramáticos para Prada, maquiagem glamorosa para Givenchy e uma homenagem a David Bowie para a Maison Margiela.
Famosa por viajar carregando até 80 frasqueiras recheadas de maquiagem e suas inspirações, McGrath se mostrou entusiasmada com o lançamento de uma frasqueira exclusiva e de alto valor comercial que acompanha a coleção de maquiagem da Louis Vuitton. Essa peça apresenta detalhes meticulosos, como uma caixa de lenços embutida e iluminação pensada para valorizar diferentes tons de pele. Ela afirmou que a peça é tão especial que emocionará quem a vir.
A iniciativa faz parte dos esforços recentes da Louis Vuitton em diversificar seu portfólio, que já inclui cafés e chocolates. Pietro Beccari, CEO da empresa desde 2023, defende a ideia do “retailtainment” — um conceito que une entretenimento, narrativa e compras — como o futuro do varejo. Beccari, que tem ampla experiência em luxo, destacou que as divisões de fragrâncias, nas quais ele atuou, continuam crescendo globalmente apesar dos desafios do mercado.
Para o executivo, a expansão para novas categorias permite que mais pessoas tenham contato com a história e o prestígio da marca.
Construindo lealdade e alcançando novos públicos
Erwan Rambourg, especialista em consumo e varejo do HSBC, avalia que o lançamento de maquiagem é uma estratégia inteligente para reconquistar consumidores que ainda não fizeram parte desse mercado ou estão insistindo em voltar. Segundo ele, esses produtos funcionam como geradores de fidelização e aumentam o fluxo de clientes às lojas.
Rambourg destaca que a Louis Vuitton se posiciona como uma marca de luxo relativamente mais acessível em comparação com seus rivais ultraluxuosos, como Hermès e Chanel, buscando conquistar a base mais ampla da pirâmide, principalmente jovens entre 18 e 22 anos que desejam sua primeira bolsa de grife de prestígio.
Pat McGrath acrescenta que o propósito não é só lançar maquiagem, mas sim celebrar o luxo e a arte, incorporando a essência dos designs atemporais assinados por Nicolas Ghesquière, diretor da coleção feminina da Louis Vuitton.
Quanto ao emblemático baú, McGrath já o trouxe para sua sala em Nova York, reforçando o desejo de que essa obra-prima da beleza esteja no centro das atenções, assim como os clássicos da marca.
Texto traduzido do inglês por InvestNews.
