Aposentadoria: Como Agir Agora para Evitar Surpresas Desagradáveis no Futuro
Construir um patrimônio capaz de gerar renda exige concentrar-se no que está sob seu controle: a acumulação de ativos.
Importância do Planejamento Previdenciário
Embora a aposentadoria possa parecer algo distante para quem está na faixa dos 20, 30 ou 40 anos, a rotina diária e as preocupações imediatas acabam tomando a maior parte da atenção. No entanto, o tempo passa de forma implacável e veloz.
Deixar de planejar o futuro financeiro é um erro que pode trazer consequências graves. O sistema previdenciário público, independentemente das circunstâncias individuais, dificilmente será suficiente para garantir conforto e dignidade na terceira idade. Estatísticas mostram que a maioria dos aposentados brasileiros atualmente recebe apenas o valor mínimo, que mal cobre as despesas essenciais.
Essa situação tende a se agravar, pois o crescimento da quantidade de beneficiários supera o número de contribuintes para a Previdência Social, obrigando o governo a promover reformas frequentes para tentar manter o equilíbrio das contas.
O Alerta Sobre o Sistema Previdenciário
O economista e pesquisador José Roberto Rodrigues Afonso destaca a necessidade urgente de reformular o modelo previdenciário brasileiro, apontando sua insustentabilidade a longo prazo e a crescente pressão sobre o poder de compra dos futuros aposentados.
Dados relevantes apresentados pelo professor indicam riscos expressivos para o sistema.
Principais Riscos da Previdência Social
- Ausência de cobertura previdenciária: De 129 milhões de brasileiros em idade para trabalhar, cerca de 70 milhões provavelmente não terão cobertura previdenciária no futuro. Em 2022, apenas 57 milhões contribuíam para o regime geral, o que representa 46% dos trabalhadores.
- Elevada informalidade e contribuições baixas: 46,3% dos ocupados trabalham informalmente, sem contribuições para a previdência. Muitas empresas são pequenos negócios unipessoais sem recolhimento patronal ou pessoal. Microempreendedores Individuais (MEI) frequentemente contribuem com valores reduzidos, como R$ 70,60 mensais, baseados no salário mínimo, ainda que possam faturar muito mais. Isso resultará em aposentadorias incompatíveis com a renda atual.
- Déficit atuarial dos MEIs: Embora os MEIs correspondam a 10% dos contribuintes do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), sua arrecadação é de apenas 1%. Se as contribuições permanecerem em 5% do salário mínimo, o déficit atuarial pode alcançar R$ 1,4 trilhão, comprometendo a viabilidade da aposentadoria para muitos.
- Concentração de contribuições no RGPS: Em 2022, de 54,8 milhões de contribuintes, só 4% recebiam acima de sete salários mínimos, contra 7% em 2000. Atualmente, a maioria (83%) contribui com salários de até três salários mínimos, indicando maior concentração em trabalhadores de baixa renda.
- Dependência crescente de benefícios sociais: Em 2021, apenas 42,8% da renda total das famílias provinham de salários, enquanto 23,9% vinham de benefícios sociais. Hoje, a assistência governamental supera metade da renda tradicional do trabalho.
Projeções Futuras para o Sistema Previdenciário
- Aumento do déficit dos MEIs: O rombo previsto de R$ 1,4 trilhão reflete uma grande ameaça caso a política de contribuições não seja ajustada.
- Envelhecimento da população: O fim do “boom demográfico” trará mais pressão ao sistema previdenciário.
- Foco do RGPS em trabalhadores de baixa renda: A geração de empregos formais em micro e pequenas empresas mantém o RGPS centrado em trabalhadores que ganham até três salários mínimos.
- Impacto da descrença na poupança privada: Reformas na previdência abalaram a confiança dos brasileiros em guardar dinheiro para aposentadoria, o que pode comprometer o padrão de consumo futuro.
- Crescimento dos MEIs: De 2012 a 2023, a relação MEI/carteira assinada aumentou de 1 para cada 13,5 para 1 para cada 2,4, ampliando riscos para a sustentabilidade do sistema.
Assumir o Controle do Próprio Futuro Financeiro
Diante desse cenário, a postura mais racional é tomar as rédeas da própria situação financeira.
Para garantir um patrimônio que gere renda na aposentadoria, é fundamental focar na acumulação de ativos, fator que você pode controlar. Quanto mais cedo iniciar, mais se beneficia dos juros compostos, que fazem o dinheiro render ao longo do tempo.
Passos Práticos para Iniciar Hoje Mesmo
- Organize suas finanças: Conheça detalhadamente seu orçamento, identifique gastos fixos e variáveis e avalie onde pode cortar despesas para aumentar a capacidade de poupar sem sacrificar sua qualidade de vida.
- Pague a si mesmo primeiro: Automatize uma transferência para seus investimentos logo após o recebimento do salário. Mesmo valores pequenos são importantes no começo e criam disciplina para aumentar aportes futuramente.
- Defina metas claras: Ter um objetivo financeiro específico para a aposentadoria ajuda a manter a motivação e a monitorar o progresso do patrimônio, tornando o planejamento mais tangível.
- Resista ao “efeito renda extra”: Ao receber bônus ou aumento, direcione parte desses recursos para o investimento, acelerando sua independência financeira, sem deixar de aproveitar a vida.
- Comece imediatamente: Independentemente da idade, iniciar logo os investimentos gera um efeito multiplicador devido ao tempo, e cada dia perdido é uma oportunidade a menos.
- Estude finanças e opções de investimento: Conhecer diferentes alternativas — previdência privada, Tesouro Renda+, ações com foco em dividendos, fundos imobiliários — é vital para construir um plano personalizado e sustentável.
Perigos de Adiar o Planejamento
Frequentemente, a procrastinação no planejamento ocorre devido à falta de educação financeira e a vieses comportamentais, como o otimismo exagerado, que subestima riscos, e a aversão à perda, que faz a pessoa evitar poupar para não sentir “perda” no presente.
Com a longevidade crescente, a probabilidade de viver muitos anos após a aposentadoria aumenta. Ignorar esse fato e adiar o planejamento pode resultar em uma velhice marcada por inseguranças financeiras.
Portanto, é essencial assumir o controle e começar hoje a construir a base financeira que assegurará tranquilidade e conforto nos anos futuros.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI-T (Anbima), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão e Análise de Investimentos, além de Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, é escritor e educador financeiro, com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos. Atua nas redes sociais como @professormira.