Avanços E Desafios No Brasil: Análise Econômica E Social

Avanços E Desafios No Brasil: Análise Econômica E Social

O Brasil em 25 anos: avanços concretos e resultados frustrantes

Ao analisar o Brasil de 2025 comparado ao de 2000, é evidente que o país avançou em diversos aspectos, porém o ritmo desse progresso não foi suficiente para acompanharmos outros países emergentes. Embora tenha havido melhorias absolutas, o Brasil perdeu terreno relativo frente aos seus pares em quase todos os indicadores socioeconômicos comparativos.

Nas últimas duas décadas e meia, o país experimentou mudanças importantes, como a estabilização da moeda após o período da hiperinflação nos anos 1990, expansão do acesso à educação, diminuição da pobreza extrema e a elevação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Investimentos em infraestrutura, impulsionados por privatizações e concessões que contaram com amplo apoio político, a consolidação das instituições democráticas e macroeconômicas, além da expansão das redes de proteção social, formaram as bases para um desenvolvimento mais sólido.

Contudo, a performance brasileira frente a outros países emergentes e vizinhos latino-americanos é desapontadora. O crescimento econômico foi baixo, a desigualdade permaneceu alta, a competitividade caiu e o país não conseguiu aproveitar plenamente seu chamado bônus demográfico. Em resumo, apesar das melhorias internas, outras nações evoluíram mais rapidamente.

Crescimento econômico e produtividade insuficientes

Entre 2000 e 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu em média cerca de 2% ao ano, uma taxa insuficiente para reduzir a distância em relação a outras economias emergentes que registraram crescimento médio anual superior a 4,5%, enquanto a América Latina, em geral, alcançou 2,8%. O Brasil viveu um período de expansão entre 2004 e 2010, impulsionado pela valorização das commodities e por políticas de inclusão social baseadas no crédito e em programas de transferências de renda. No entanto, desde 2014 o país entrou em uma fase de estagnação com recessões profundas e recuperação lenta.

Como consequência, o PIB per capita brasileiro, que em 2000 estava acima da média latino-americana, praticamente não avançou. Dados do FMI indicam que, entre 2000 e 2024, o PIB per capita ajustado pela inflação cresceu cerca de 25%, enquanto a média dos países emergentes superou 60%. Diversos países como Chile, Peru e Colômbia diversificaram suas exportações e aumentaram a produtividade, ao passo que o Brasil manteve uma economia fortemente dependente de commodities e com políticas fiscais sujeitas a ciclos econômicos.

Outro indicador preocupante é a baixa produtividade do trabalho, que praticamente não aumentou desde 1995, registrando um crescimento médio anual próximo a 0,3%. Em contrapartida, emergentes asiáticos tiveram avanços acima de 3% ao ano. Entre os motivos dessa baixa estão a rigidez do mercado de trabalho, investimentos insuficientes em capital humano e infraestrutura inadequada.

Progresso social limitado e desigualdade persistente

No âmbito social, o Brasil apresentou avanços notáveis. O IDH subiu de 0,61 em 1998 para 0,76 em 2023, refletindo ganhos em renda, educação e expectativa de vida. A pobreza extrema caiu de cerca de 13% da população em 1993 para menos de 5% em 2014, embora tenha passado por volatilidades na década de 2020. O acesso à educação básica foi ampliado e a taxa de analfabetismo recuou de 15% para aproximadamente 5%.

Apesar dessas conquistas, o Brasil fica atrás de países de renda média semelhante, especialmente na América Latina, onde Chile e Uruguai superam o Brasil nos principais indicadores de bem-estar. A desigualdade permanece elevada: o índice de Gini caiu de 0,59 em 1999 para 0,53 em 2023, mas ainda está acima da média regional, que é de 0,47.

Na educação, embora o acesso tenha se ampliado, a qualidade deixa a desejar. No PISA 2022, o Brasil figurou entre as 15 piores colocações, ficando abaixo da média regional e muito distante do desempenho dos países emergentes asiáticos. Esse cenário revela um sistema educacional desigual e ineficiente, que limita tanto a mobilidade social quanto a produtividade futura.

Comparação internacional e ambiente institucional

Enquanto o Brasil enfrentava crises políticas e problemas fiscais recorrentes, outras economias emergentes aplicaram estratégias de crescimento mais consistentes. A China, por exemplo, aumentou sua renda per capita em dez vezes desde 2000, apoiada por investimentos em inovação e infraestrutura. A Índia, com crescimento médio anual superior a 6%, consolidou-se como polo tecnológico e de serviços.

Na América Latina, Peru, Colômbia e Chile também obtiveram resultados superiores, tanto econômicos quanto institucionais. O Chile alcançou um PIB per capita ajustado pela paridade do poder de compra de cerca de US$ 30 mil, mais de 60% acima do Brasil, que está em torno de US$ 18 mil. O Peru conseguiu reduzir a pobreza de 60% para menos de 25% entre 2000 e 2020, e o Uruguai atingiu níveis de desigualdade comparáveis aos da Europa do Sul.

Esse contraste evidencia que as dificuldades brasileiras são, além de estruturais, também institucionais e políticas. A taxa de investimento do país é baixa — cerca de 17% do PIB, contra 25% na média dos emergentes — e o ambiente de negócios é complexo, caracterizado por alta carga tributária, burocracia excessiva e insegurança jurídica.

Apesar disso, houve avanços institucionais importantes, como a implementação do regime de metas de inflação, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a autonomia do Banco Central. Essas medidas foram fundamentais para controlar a inflação, que recuou de níveis superiores a 2.000% ao ano no início dos anos 1990 para uma média próxima a 4% desde então, e para diminuir a vulnerabilidade externa.

No entanto, o Brasil não conseguiu manter uma disciplina fiscal sustentável a longo prazo. A partir de 2014, o aumento rigoroso das despesas obrigatórias e a rigidez dos gastos públicos geraram déficits constantes e elevaram a dívida bruta acima de 75% do PIB, restringindo fortemente o investimento público em infraestrutura, inovação e capital humano.

Considerações finais

De modo geral, o Brasil de 2025 é um país com avanços importantes em relação a 2000: mais crianças na escola, redução da pobreza, maior inclusão financeira e instituições mais maduras. Entretanto, o progresso ocorreu a um ritmo insatisfatório, fazendo com que o país perdesse posições relativas frente a outros emergentes e até mesmo dentro da América Latina.

A principal lição dos últimos 25 anos é que políticas de estabilidade e programas sociais, apesar de vitais, não são suficientes sem um compromisso sólido com o aumento da produtividade, do investimento e da eficiência do Estado. O desafio para o Brasil é não apenas crescer, mas recuperar a trajetória de convergência com o grupo de países que outrora partilhavam o mesmo ponto de partida e hoje apresentam resultados muito superiores.

Marcelo Giufrida é empresário nos setores de energia, incorporação imobiliária e consultoria de negócios, tendo sido presidente da Anbima e CEO da Garde e das gestoras do BNP Paribas e CCF no Brasil.

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