Bilionário da Binance planeja novo capítulo após perdão presidencial de Trump
Após quase dois anos desde que se declarou culpado e firmou um acordo com autoridades dos Estados Unidos, Changpeng Zhao, mais conhecido como CZ, cofundador da Binance, busca retomar seu destaque no setor de criptomoedas. Seu principal objetivo é ampliar a presença da Binance no mercado norte-americano.
Logo após receber o perdão presidencial concedido por Donald Trump, CZ manifestou sua gratidão e anunciou suas novas ambições para a Binance, a maior exchange de criptomoedas do planeta. A mensagem, publicada na rede social X (antigo Twitter) durante um voo, destacou o compromisso dos Estados Unidos com a justiça, a inovação e o equilíbrio.
Ele afirmou que pretende contribuir para transformar os EUA na principal capital das criptomoedas e impulsionar o avanço da web3 globalmente.
Esse perdão marca o encerramento de um processo de reabilitação para o empresário de 48 anos, que havia se declarado culpado por falhas na prevenção de lavagem de dinheiro e, na sequência, renunciou ao cargo de CEO da Binance.
A decisão abre caminho para que Zhao volte a focar na sua meta principal: conquistar maior relevância no mercado americano, fundamental para o desenvolvimento institucional das criptomoedas e um dos poucos grandes mercados onde a Binance ainda não lidera.
Jonathan Groth, sócio do escritório DGIM Law, comentou que o perdão presidencial tem um alcance amplo, possibilitando que CZ possa se envolver novamente com a Binance, suas subsidiárias e outros negócios.
No cenário político atual, Trump tem apoiado publicamente os ativos digitais, e sua família obtém ganhos significativos nesse setor. Recentemente, a Binance auxiliou uma empresa vinculada a Trump no lançamento de uma stablecoin que deve gerar dezenas de milhões de dólares anuais, um acordo que atraiu críticas de políticos democratas, os quais enxergam o perdão como um possível conflito de interesses.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou no final de outubro que o perdão foi cuidadosamente revisado pelos advogados presidenciais, apesar das alegações contrárias.
Especialistas do setor indicam que agora Zhao pode reassumir funções de liderança e facilitar a consolidação da Binance no mercado dos Estados Unidos, ainda que a empresa tenha desafios regulatórios. A Binance.US, afiliada local, é restrita e mantém estrutura jurídica separada da operação global.
Fontes informaram que a companhia analisa cenários como a fusão da Binance.US com a operação global ou a entrada direta da plataforma internacional no mercado americano.
Markus Thielen, CEO da 10x Research, explicou que o segmento institucional é fundamental para os EUA e que a Binance pode redirecionar seus esforços para ampliar sua atuação nesse ambiente. Além disso, ele acredita que a Binance.US poderá ser integrada à plataforma global, garantindo aos investidores americanos maior acesso aos produtos e liquidez da exchange.
Relacionamentos políticos e sinais do mercado
O destaque de Zhao na indústria já gerou repercussão no mercado, como evidenciado pela valorização de até 8% do token BNB, nativo da blockchain da Binance, no dia do anúncio do perdão.
Segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg, CZ possui uma fortuna estimada em US$ 58 bilhões. Além de seus investimentos na Binance, ele controla parte do ecossistema associado ao token BNB, cujo family office, YZi Labs, apoia projetos relacionados ao ativo.
Hoje, uma das blockchains baseadas no BNB mantém cerca de US$ 8,7 bilhões em ativos, ocupando o terceiro lugar global, atrás apenas do Ethereum e do Solana.
Com as alterações políticas e regulatórias, Zhao tem retomado visibilidade e apoio, como na exchange descentralizada Aster, que compete com a Hyperliquid, além do desenvolvimento de um aplicativo educacional na área.
Após sua libertação em setembro de 2024, ele embarcou em uma agenda que inclui encontros com startups, publicações de treinamentos e reconexão com parceiros estratégicos. Neste ano, reuniu-se com o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, integrou conselhos de blockchain no Quirguistão e no Paquistão, e promoveu o uso de criptomoedas entre Dubai e Islamabad.
Apesar de comentar ocasionalmente sobre seu período preso em conferências, CZ trabalhou nos bastidores para conseguir um perdão que viabilizasse sua volta a cargos financeiros de destaque.
“Ainda sou jovem”, disse o empresário aos 48 anos, durante a conferência Token2049 em Dubai. “Não dá para passar o dia todo jogando golfe — é necessário seguir trabalhando.” Ele mencionou realizar entre oito e dez reuniões diárias.
Nos últimos tempos, ele atualizou seu perfil na rede social X, retirando o termo “ex-Binance” para manter apenas “@Binance”, provocando especulações sobre seu retorno ao cargo de CEO, atualmente ocupado por Richard Teng, cidadão de Cingapura de 55 anos.
No entanto, alguns especialistas duvidam do interesse de CZ em reassumir o comando da exchange. David Namdar, que dirige uma empresa de tesouraria em BNB respaldada pelo family office de Zhao, acredita que ele preferirá uma atuação menos pesada quanto à administração direta.
A Binance e YZi Labs optaram por não comentar sobre possíveis planos de Zhao para retornar como CEO.
Desafios e perspectivas da Binance nos EUA
Mesmo com o delicado ambiente regulatório, o mercado dos Estados Unidos segue como um desafio significativo para CZ e sua empresa. Ele é acionista da Binance.US, que opera com equipe própria e que impede que investidores americanos atuem na plataforma global.
Enquanto a Binance detém cerca de metade do volume mundial de negociações de bitcoin, segundo a firma de análise Kaiko, a Binance.US representa menos de 1% desse mercado.
Neste contexto, a Coinbase Global domina o mercado americano, com uma posição análoga à que a Binance mantém globalmente, de acordo com dados da Kaiko.
O analista Owen Lau, da Clear Street, ressaltou que a Coinbase tem a vantagem de ser pioneira e consolidada nos EUA, enquanto a Binance tem tradição de superar concorrentes com taxas e promoções agressivas.
Patrick Horsman, diretor de investimentos da Applied DNA Sciences, empresa investidora em BNB, acredita que a combinação entre tecnologia de ponta, liquidez e tarifas competitivas poderá transformar a Binance em uma força dominante no mercado americano de criptoativos.
Apesar de seus pontos fortes, a Binance enfrentou recentemente dificuldades operacionais, incluindo problemas técnicos durante uma liquidação no mercado de criptoativos que resultaram em bilhões de dólares em liquidações forçadas e necessidade de compensar usuários afetados.
A exchange também está sob críticas pela alta cobrança para a listagem de tokens, gerando maior escrutínio sobre sua gestão na ausência de Zhao.
O perdão presidencial pode significar mais do que um novo impulso pessoal para CZ, possibilitando a expansão global da Binance. A empresa mantém participações minoritárias em afiliadas na Ásia, em países como Tailândia e Malásia, onde reguladores exigem rigorosos testes de idoneidade para acionistas relevantes.
Chris Holland, sócio da consultoria HM em Cingapura, destacou que condenações criminais dificultam a manutenção de participações relevantes em empresas reguladas ou listadas em bolsa.
Na semana anterior, autoridades sul-coreanas aprovaram a aquisição pela Binance da exchange local GOPAX, após mais de dois anos de análise, abrindo caminho para a retomada da empresa em um dos mercados asiáticos mais expressivos.
Cosmo Jiang, sócio da Pantera, opinou que o perdão deve permitir um maior envolvimento de Zhao nas operações da Binance, o que costuma resultar em crescimento e melhor execução quando um fundador retorna à empresa.
