Brasil mantém crescimento nas exportações após aumento de tarifas dos EUA
O setor exportador brasileiro demonstrou resiliência frente ao aumento das tarifas pelos Estados Unidos, que saltaram de 10% em abril para 50% em agosto de 2025. Apesar das medidas americanas terem impactado principalmente produtos como carnes, café e combustíveis, o Brasil conseguiu redirecionar suas vendas para outros mercados, sustentando seu ritmo de crescimento nas exportações.
Contexto e análise das exportações brasileiras
Este artigo, em colaboração com Camila Affonso, sócia do Leggio Group, e sua equipe de consultores especializados em estratégias e transformação da cadeia de suprimentos, apresenta uma avaliação técnica sobre os efeitos dos aumentos tarifários dos EUA no comércio exterior brasileiro. A análise foca no desempenho geral das exportações, com destaque para os setores agropecuário e de carnes bovinas, evidenciando as táticas adotadas para superar barreiras e explorar mercados alternativos, especialmente China e México.
Nos últimos meses, houve uma pressão significativa sobre as exportações brasileiras devido ao reajuste tarifário americano. Setores-chave como carnes, café e produtos energéticos foram os mais afetados. Contudo, o Brasil soube agir rapidamente, aproveitando a diversificação de destinos para compensar a redução nas vendas para os EUA.
Dados e estratégias de realocação de exportações
A avaliação dos impactos utilizou informações do ComexStat, plataforma oficial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que consolida e divulga dados detalhados sobre as operações de comércio exterior brasileiras. Essa ferramenta forneceu uma visão detalhada da evolução mensal das exportações por país, produto e setor, permitindo a análise das adaptações do mercado.
Dois meses após o aumento das tarifas americanas, os efeitos sobre o volume total exportado pelo Brasil foram menores do que as projeções iniciais. Ainda que as vendas para os EUA tenham diminuído — algo esperado diante da barreira tarifária — o total de exportações permaneceu estável na comparação com o primeiro semestre de 2025, sinalizando rápidas adequações logísticas e táticas por parte das indústrias nacionais.
Uma parcela significativa das exportações brasileiras foi redirecionada para mercados estratégicos como China, México e União Europeia. Essa diversificação ajudou a amenizar o impacto das tarifas americanas, garantindo a competitividade do Brasil nas principais praças comerciais mundiais. Por exemplo, em abril, 44% da proteína bovina exportada teve como destino a China, e 18% os Estados Unidos. Em setembro, diante da tarifa de 50%, o volume exportado aumentou para 315 mil toneladas, com 59% destinadas à China e apenas 2% para os EUA.
Setores em destaque e adaptação a novas condições
Além da proteína bovina, outros segmentos também mostraram adaptação notável. O café, que antes sofria com a sobretaxa americana, elevou sua exportação mensal média de 186 mil toneladas no primeiro semestre para 196 mil toneladas em setembro, um crescimento de cerca de 5,5%. Já combustíveis e óleos brutos de petróleo mantiveram seus altos volumes, impulsionados pela demanda asiática crescente.
Evolução da carne bovina nas exportações brasileiras
O setor de carne bovina é o que mais exemplifica a reação estratégica do Brasil diante das novas tarifas. Conforme dados do ComexStat:
- As exportações para os EUA despencaram aproximadamente 82% entre abril e agosto, caindo de 44 mil para 6 mil toneladas em função das tarifas.
- Ao mesmo tempo, as exportações para a China ampliaram-se, fazendo do país asiático o principal destino, com cerca de 187 mil toneladas exportadas em setembro.
- O México, por sua vez, registrou crescimento significativo, passando de 3 mil toneladas em janeiro para 13 mil toneladas em setembro, aumento de 324%, e consolidando-se em junho como o segundo maior mercado para a carne bovina brasileira.
Esses indicadores revelam que, mesmo com o declínio das vendas nos EUA, os volumes exportados para os mercados alternativos permaneceram sólidos ou em ascensão, refletindo a realocação eficaz dos fluxos comerciais.
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O gráfico acima detalha a movimentação mensal das exportações de proteína bovina em 2025, evidenciando o impacto da tarifa estadunidense e a consequente expansão para outros mercados.
Esforços logísticos e impacto financeiro
Para viabilizar essa realocação, as empresas brasileiras empenharam-se em reorganizar as cadeias logísticas, definindo novas rotas marítimas, contratando transportes e ajustando prazos para assegurar a entrega eficiente dos produtos. Essa estratégia também diminuiu a dependência de um único mercado, fortalecendo a resiliência frente a barreiras comerciais.
Adicionalmente, o ComexStat aponta que, em setembro de 2025, o Brasil teve um aumento de US$ 713 milhões no valor FOB das exportações de carne bovina em comparação a março do mesmo ano. O termo FOB refere-se ao valor da mercadoria até o porto de embarque no país exportador, excluindo custos posteriores de frete e seguro, conferindo uma medição precisa da receita gerada pelas vendas externas.
Considerações finais sobre a experiência brasileira
A resposta brasileira ao aumento tarifário americano demonstra a importância do uso de análises e dados de mercado para antecipar e compreender dinâmicas complexas em ambientes de volatilidade e restrições comerciais. A diversificação de mercados, aliada à flexibilidade logística e decisões baseadas em informações qualificadas, revela-se crucial para manter a competitividade e a capacidade de recuperação no comércio internacional.
Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, CNPI, Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças, sócio da CHC Finance e da Four Capital, além de pesquisador da Escola de Negócios e Seguros (ENS).



