Brasil No Mercado De Dados: A Estratégia Da Hitachi Na América Latina

Brasil No Mercado De Dados: A Estratégia Da Hitachi Na América Latina

Brasil integra a estratégia da japonesa Hitachi no mercado bilionário de dados da América Latina

A América Latina movimenta aproximadamente US$ 7 bilhões anualmente no segmento de dados, e a Hitachi Vantara — divisão especializada em digital da gigante japonesa Hitachi — enxerga o Brasil como um ponto-chave dentro de sua estratégia regional.

Adrian Johnson, executivo da Hitachi Vantara, chegou a São Paulo no início deste mês com o objetivo de compreender detalhadamente os motivos que tornaram a América Latina a área de crescimento mais rápido da empresa. Esta foi sua primeira visita ao Brasil desde que assumiu a liderança para as regiões das Américas, acumulando também a responsabilidade pela Ásia-Pacífico, que responde por 70% da receita global da empresa. Segundo Johnson, o Brasil representa um território de grande potencial, diversidade e dinamismo.

Ao contrário da percepção comum de que a digitalização da América Latina estaria em estágio inicial em relação a regiões mais desenvolvidas, o executivo percebe um ambiente econômico bastante favorável. “Não entendo a América Latina como atrasada tecnologicamente; é uma chance de progresso”, declarou. Ele ainda ressaltou que a transformação digital e o avanço da inteligência artificial estão equalizando as condições, beneficiando uma força de trabalho jovem e qualificada da região.

No encerramento do ano fiscal de 2024, em março, a Hitachi reportou receita global próxima a 9,78 trilhões de ienes (aproximadamente US$ 70 bilhões). A área que inclui a Hitachi Vantara e outros negócios digitais registrou 2,83 trilhões de ienes (algo em torno de US$ 20 bilhões), equivalente a cerca de 30% do faturamento total.

Desde sua fundação em 1910, a Hitachi se consolidou como um dos maiores conglomerados industriais e tecnológicos do Japão, atuando em segmentos que vão de trens e sistemas elétricos a softwares e infraestrutura de dados. Recentemente, a empresa vem fazendo a transição de uma base industrial tradicional para a figura de “empresa digital-industrial”, conectando suas operações físicas à plataforma global Lumada, um sistema que integra dados e inteligência em toda a organização e inclui a Hitachi Vantara, especializada em infraestrutura e gestão de dados corporativos.

A base do negócio da Hitachi Vantara

A Vantara enfatiza o gerenciamento da infraestrutura que sustenta o fluxo de dados corporativos, oferecendo soluções que abrangem desde sistemas de armazenamento usados por bancos, operadoras e órgãos governamentais até plataformas que integram informações distribuídas entre servidores e ambientes em nuvem.

Este conjunto de serviços é fundamental para a economia digital, pois garante a segurança e acessibilidade de dados cruciais, como transações financeiras, cadastros de clientes e históricos médicos. Além disso, a companhia oferece gerenciamento e análise de dados que transformam informações brutas em inteligência estratégica, auxiliando empresas a tomar decisões mais embasadas e a explorar novas oportunidades de receita.

Enquanto o mercado global de armazenamento atinge a expectativa de movimentar US$ 255 bilhões em 2025, a América Latina já representa um setor de cerca de US$ 7 bilhões, com possibilidade de dobrar de tamanho até o final desta década, conforme projeções da Research and Markets. No Brasil, o segmento específico de storage para data centers deve alcançar US$ 850 milhões em 2025, dentro de um cenário doméstico avaliado em quase US$ 3 bilhões, segundo a Mordor Intelligence. Esse crescente mercado motivou o interesse da Hitachi pelo país, que se destaca pelo ritmo acelerado de crescimento no setor.

Empresas renomadas como Dell Technologies, IBM, NetApp e Pure Storage competem neste espaço, adaptando suas soluções para as demandas do big data e da inteligência artificial generativa.

Crescimento acima de 20% na América Latina

De acordo com Daniel Scarafia, vice-presidente da Hitachi Vantara para a América Latina, a operação regional deve fechar o ano fiscal de 2025 (terminando em março de 2026) com expansão superior a 20%. A empresa, contudo, não divulga números específicos sobre a atuação local.

Scarafia relaciona esse avanço à maturidade digital crescente das empresas na região, bem como ao retorno dos investimentos de longo prazo em tecnologia. “Após anos explicando a necessidade de foco no longo prazo, agora percebemos as companhias comprometendo recursos neste sentido”, comentou. Ele também ressaltou um fator geopolítico: a preferência por investimentos locais para proteger ativos tem impulsionado a demanda.

Essa evolução ocorre em meio a uma competição global pelo desenvolvimento de infraestrutura de dados, impulsionada pela aceleração da digitalização e pela adoção de inteligência artificial em diversos segmentos. “Dados são o novo capital das corporações”, resumiu Scarafia. “Nosso papel é assegurar que esses ativos estejam sempre disponíveis, íntegros e protegidos.”

Estratégia “glocal” para o crescimento regional

A expansão da Hitachi Vantara na América Latina baseia-se em um modelo “glocal”, que integra tecnologia global com execução local. A divisão possui equipes e escritórios próprios em todos os países da região e mantém parcerias com canais locais para ajustar suas soluções às especificidades de cada mercado.

O Brasil figura como o principal mercado da região, seguido por México, Argentina e Colômbia, com o Chile logo atrás. “Entender o mercado e manter proximidade regional são tão essenciais quanto a tecnologia”, avaliou Johnson. Scarafia complementou que, apesar das diferenças no número de data centers, as necessidades digitais são similares em todos os países, com os setores financeiro, telecomunicações e varejo liderando a demanda por infraestrutura.

A companhia aposta que essa combinação de presença próxima e tecnologia global posicionará a Hitachi para aproveitar a próxima onda de investimentos digitais na América Latina, indicando que novas visitas da alta direção ao Brasil são esperadas nos próximos meses.

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