BRK Ambiental Retoma Concessões e Planeja IPO Para Crescer no Saneamento

BRK Ambiental Retoma Concessões e Planeja IPO Para Crescer no Saneamento

BRK Ambiental retoma conquistas em concessões de saneamento e busca encerrar período sem IPOs

A BRK Ambiental alcançou recentemente um marco importante ao vencer um leilão de concessão no setor de saneamento que envolve 151 municípios de Pernambuco, em um contrato estimado para demandar R$ 15,4 bilhões em investimentos distribuídos ao longo de 35 anos.

Essa conquista representa o fim de um intervalo de cinco anos sem que a empresa adquirisse ativos significativos e acontece exatamente enquanto a BRK prepara sua possível estreia no mercado de ações por meio de uma oferta pública inicial (IPO). O mercado brasileiro, por sua vez, não registra grandes ofertas do tipo há mais de quatro anos.

Apesar do cenário favorável para novidades, a BRK Ambiental ainda não é considerada a candidata mais clara para reabrir a janela de IPOs no país. A concorrente Aegea também manifestou o interesse de abrir capital, e a privatização da Copasa é outro evento que deve intensificar a competição no segmento de saneamento.

Originalmente derivada dos ativos de saneamento da Odebrecht e atualmente sob o controle da gestora canadense Brookfield, a BRK passou por um processo de reestruturação profunda que aprimorou sua governança, imagem e finanças, mas enfrenta desafios operacionais a serem superados.

“A BRK herdou um negócio que exigiu vultosos investimentos para reorganização. Foi feito um esforço intenso para limpeza da imagem e adequação de compliance, a fim de tornar a companhia aceitável para o mercado novamente”, relata uma fonte do setor consultada. “Hoje, é uma empresa muito melhor estruturada do que antes, embora ainda precise convencer o mercado.”

Concessão em Pernambuco marca novo patamar para a empresa

O leilão de saneamento em Pernambuco era visto como decisivo para o futuro da BRK. A última concessão expressiva conquistada pela companhia foi na Região Metropolitana de Maceió, em Alagoas, em 2020.

O consórcio comandado pela BRK, em conjunto com a empresa espanhola Acciona, venceu o certame que compreende a capital Recife, juntamente com Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Fernando de Noronha e inúmeras cidades do interior, totalizando 151 municípios com aproximadamente 7 milhões de habitantes.

Além do volume, o projeto apresenta sinergias, pois a BRK já atua desde 2013 em uma PPP (Parceria Público-Privada) para esgotamento sanitário na Região Metropolitana do Recife, o que diminui certos riscos na execução.

“O desfecho do leilão eleva o posicionamento da empresa ao incluir uma base de clientes significativa que, além disso, é bastante sinérgica com a operação existente”, afirma uma fonte próxima. A conquista reforça o portfólio que a BRK poderá mostrar a potenciais investidores para o seu IPO.

De Odebrecht à Brookfield: trajetória e transformação da BRK

Compreender a BRK atual exige voltar quase vinte anos. A companhia tem suas raízes na Foz do Brasil, criada em 2008 para atuar como braço de saneamento do grupo Odebrecht. Em 2014, passou a se chamar Odebrecht Ambiental, integrando diversos ativos de água e esgoto em vários Estados.

As investigações da Operação Lava Jato impactaram diretamente nesse contexto. Embora os ativos de saneamento não fossem foco principal das apurações, o legado negativo da Odebrecht tornou-se um obstáculo, somado à necessidade de venda de ativos para reforçar o caixa da empresa.

Em 2017, a Brookfield Asset Management assumiu o controle, adquirindo 70% do capital por cerca de US$ 900 milhões, enquanto o FI-FGTS, fundo que investe recursos do FGTS, manteve os 30% restantes. A Odebrecht deixou completamente a estrutura, e a empresa passou a se chamar BRK Ambiental.

Desde então, o foco foi uma reestruturação que incluiu aprimoramentos reputacionais e regulatórios, com reforço de compliance, reformulação da governança e reconstrução do relacionamento com órgãos reguladores, concedentes e o mercado financeiro.

Esse trabalho foi liderado pela executiva Teresa Vernaglia, que esteve à frente da BRK de maio de 2017 a março de 2023, deixando o legado de uma organização institucional sólida, ainda que com desafios operacionais a superar.

Foco financeiro e gestão do endividamento

Com a saída de Teresa, Alexandre Thiollier Neto, executivo da Brookfield, assumiu a liderança com a missão de estruturar financeiramente a empresa. Desde então, a companhia tem enfatizado a melhoria no controle do passivo e a redução da dívida.

Em setembro, a BRK apresentava dívida líquida ajustada de R$ 12,1 bilhões, correspondente a 6,2 vezes o Ebitda, nível considerado elevado para uma companhia de capital intensivo e de longo prazo como é o saneamento.

A diretoria aponta esforços para alongar os prazos e renegociar financiamentos, buscando um perfil de dívida condizente com a natureza duradoura dos contratos e maior previsibilidade de fluxo de caixa, conforme declarou o CFO Felipe Cunha em teleconferência com analistas.

Embora o mercado reconheça os avanços na governança e finanças, observa-se que a BRK ainda precisa gerar ganhos operacionais mais expressivos e avanços na área de engenharia.

No terceiro trimestre de 2025, a empresa registrou receita líquida ajustada de R$ 926 milhões e Ebitda ajustado de R$ 516 milhões, resultando em margem recorde de 55,7%. Porém, encerrou o período com prejuízo líquido, impactada principalmente pelo custo elevado da dívida.

Objetivo da abertura de capital

Nesse contexto, a BRK decidiu oficializar a intenção de ingressar no mercado de ações, solicitando em dezembro o registro para seu IPO, com plano de listagem no Novo Mercado da B3 — segmento que exige o mais alto padrão de governança corporativa.

A operação aguarda condições favoráveis de mercado para sua efetivação, representando a primeira tentativa real da BRK em acessar a bolsa desde a aquisição pela Brookfield.

A perspectiva é que a oferta renda aproximadamente R$ 2,5 bilhões, recursos que seriam direcionados para diminuir a alavancagem, fortalecer o capital e possibilitar que a Brookfield e o FI-FGTS vendam parte de suas participações ao longo do tempo.

Mercado dividido e competição acirrada

Não há unanimidade no mercado acerca do IPO da BRK. A empresa enfrenta desafios relacionados à performance operacional e à composição acionária, que inclui a participação do fundo público FI-FGTS, a qual afeta a precificação do negócio.

A concorrência para atrair investidores é intensificada pela movimentação da Aegea, que também está preparando seu IPO para o começo de 2026, e pela iminente privatização da Copasa, que promete redistribuir fatias importantes do setor.

Analistas apontam que existe um grupo inicial de grandes players no saneamento, como Sabesp e Aegea, que compõem o primeiro escalão, enquanto BRK figura em um patamar seguinte, ao lado de Iguá e Águas do Brasil, o que tende a pesar na decisão dos investidores.

Ademais, o setor acompanha atentamente a discussão sobre a viabilidade das metas de universalização até 2033, cujos desafios podem demandar ajustes contratuais futuros, conservando a pressão regulatória sobre as companhias.

A BRK Ambiental informou que está em período de silêncio e, portanto, não se manifestou sobre o assunto.

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