China reforça controle sobre terras raras e gera preocupação na economia mundial
A China, responsável pela produção de aproximadamente 90% das terras raras globalmente, implementou novas restrições que representam um controle quase sem precedentes sobre a exportação desses materiais essenciais, desencadeando alertas no cenário econômico internacional. Essas medidas ampliam o poder de Pequim nas negociações comerciais e exercem maior pressão sobre a administração Trump.
A norma, anunciada pelo Ministério do Comércio chinês na quinta-feira, 9 de outubro de 2025, intensifica a disputa comercial entre Estados Unidos e China e ameaça a cadeia produtiva dos semicondutores, componentes vitais para o funcionamento de dispositivos eletrônicos como celulares, computadores e centros de dados, fundamentais para treinar modelos de inteligência artificial (IA).
Além dos chips, a restrição impactará veículos, painéis solares, equipamentos para fabricação de chips e diversas outras tecnologias, restringindo a capacidade de outras nações em manter sua indústria tecnológica autônoma.
Conforme a nova regra, empresas globais que vendam produtos contendo materiais de terras raras oriundos da China, cuja participação seja igual ou superior a 0,1% do valor total do produto, precisarão obter autorização do governo chinês para exportar esses itens.
Especialistas do setor apontam que será extremamente complexo para as companhias de tecnologia comprovarem que seus chips, equipamentos de fabricação e componentes relacionados estão abaixo desse limite de 0,1%, dificultando o cumprimento da norma.
Dean Ball, ex-consultor de políticas de IA na Casa Branca e agora membro sênior da Fundação para a Inovação Americana, afirmou que os minerais de terras raras e sua capacidade de refino são fundamentais para a civilização moderna. Ele alertou que a implementação rigorosa das novas regras pode provocar uma recessão nos Estados Unidos, dado o papel crítico dos investimentos em IA para a economia nacional.
Os EUA e outras nações vêm investindo maciçamente em data centers, tornando a inteligência artificial um motor central da economia atual.
Terras raras como novo campo de tensão global
Especialistas apontam que essa movimentação da China pode colocá-la em posição de liderança na corrida tecnológica da IA e redesenhar a ordem econômica mundial.
Dmitri Alperovitch, cofundador do think tank Silverado Policy Accelerator, comparou a medida a um conflito de magnitude econômica equivalente a uma guerra nuclear, com o objetivo de enfraquecer a indústria americana de IA. Ele classificou a ação como uma “tática de chantagem” que antecede um possível encontro entre o presidente Trump e o líder chinês Xi Jinping na Coreia do Sul para retomar as negociações comerciais. Alperovitch não acredita que a China venha a aplicar integralmente essa regra.
No momento, as tarifas norte-americanas sobre importações chinesas variam entre 30% e 50%, níveis superiores aos cobrados em importações do Vietnã, Japão e Indonésia. Já as tarifas médias da China para exportações americanas giram em torno de 33%.
Embora a decisão de Pequim seja oficialmente uma retaliação às ações de controle de exportações dos Estados Unidos contra empresas chinesas de tecnologia, pessoas próximas ao governo chinês indicam que trata-se de um cálculo estratégico para reforçar sua influência sobre Trump, que busca concluir um acordo, e assim conseguir flexibilizações em tarifas e restrições de tecnologia.
Durante a última rodada de negociações em Madri, o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, pediu a eliminação total das tarifas e controles de exportação, de acordo com o The Wall Street Journal. A imposição das novas regras sobre terras raras seria parte dessa estratégia para pressionar os EUA.
As fontes consultadas indicam que essa iniciativa integra um padrão adotado pela China de responder a medidas que considera frágeis de Washington com ações que são desproporcionalmente fortes.
Terras raras e sua relevância militar e econômica
As novas diretrizes também abrangem produtos que podem ter aplicações militares, expandindo restrições já existentes que têm afetado empresas globalmente.
A cadeia produtiva dos semicondutores é vulnerável a medidas como as atuais da China, pois a fabricação de chips envolve investimento intensivo e complexo, com várias empresas nos Estados Unidos, Taiwan, Japão e Holanda colaborando na produção e fornecimento de equipamentos especializados.
Tanto o governo Trump quanto o de Biden têm implementado subsídios e políticas para estimular a produção doméstica, porém, a capacidade interna ainda é limitada.
Para alguns analistas, as novas regras aumentam a urgência de investimentos por parte das grandes empresas de tecnologia, especialmente no campo da inteligência artificial.
Joseph Hoefer, diretor de IA da empresa de lobby Monument Advocacy, que representa companhias do setor tecnológico, reconhece que essa situação revela uma vulnerabilidade real para as empresas americanas de IA.
Texto traduzido e adaptado do inglês por InvestNews.



