Cigarro Retorna À Moda Entre Celebridades E Influencia Jovens

Cigarro Retorna À Moda Entre Celebridades E Influencia Jovens

Cigarros voltam a ganhar destaque entre celebridades

Estrelas da música e do cinema estão reacendendo o hábito de fumar, o que levanta preocupações sobre uma possível mudança na tendência de queda do tabagismo que vinha sendo observada nos últimos anos.

Em 2025, a cantora pop Addison Rae declarou em seu single “Headphones On” que precisa de um cigarro para se sentir melhor, enquanto Lorde destacou um cigarro como o “melhor da sua vida” em seu lançamento musical do mesmo ano, “What Was That”. A cantora Sabrina Carpenter foi vista usando um corpete feito com embalagens de Marlboro Gold e também comercializa camisetas que remetem a elementos visuais do cigarro, como caixas e isqueiros estampados com nomes de músicas.

No cenário cinematográfico, aproximadamente metade dos filmes lançados no último ano apresentaram cenas com cigarros, charutos ou outros produtos derivados do tabaco. Isso representa um crescimento de 10 pontos percentuais em comparação ao ano anterior, conforme relatório da organização de saúde pública Truth Initiative em parceria com o centro de pesquisas NORC da Universidade de Chicago.

Com tantas personalidades públicas exibindo o hábito de fumar abertamente, o estigma social tradicional contra o tabagismo está se enfraquecendo, o que preocupa grupos que combatem o uso do tabaco e temem a reversão da redução contínua dos índices de fumantes nos Estados Unidos.

Ollie Ganz, professor assistente da Rutgers School of Public Health e pesquisador focado no tabaco, expressa apreensão diante da glamorização do ato de fumar entre pessoas influentes: “Ver indivíduos charmosos e atraentes fumando me deixa preocupado”.

Embora o tabagismo nos EUA esteja em níveis mínimos históricos, dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) indicam que o consumo de cigarro em filmes contribui para elevar o número de jovens que começam a fumar. Um relatório do CDC de 2019 aponta que adolescentes expostos com frequência a imagens de fumo nas telas apresentam maior probabilidade de iniciarem o hábito.

O cigarro está relacionado a cerca de um terço das mortes causadas por câncer no país, segundo o CDC, além de ser ligado a mais de 30 condições de saúde, como doenças cardíacas, AVC e asma.

Desde os anos 2000, campanhas antitabagismo têm ocupado massivamente os meios de comunicação, e por um bom período, celebridades evitavam fumar publicamente. O ex-presidente Barack Obama enfrentou críticas por fumar, reconhecendo ter dificuldades para largar o vício, enquanto o ator Sean Penn foi questionado após acender um cigarro em uma aparição televisiva em 2018.

A indústria do tabaco se adaptou ao mercado com alternativas, como os produtos para vaping, considerados menos nocivos, que se tornaram os mais populares entre jovens. Também houve aumento no uso de sachês de nicotina.

O retorno do cigarro como símbolo de estilo

Para alguns jovens, o cigarro adquiriu um charme vintage. Maddie Bell, universitária de 21 anos de New London, Connecticut, relata que, apesar de estar ciente dos riscos desde cedo, se sentiu atraída pelo estilo de figuras como Julian Casablancas, vocalista do Strokes. Durante o ensino médio, ela via o cigarro como algo “legal”.

Bell começou a fumar no último ano escolar, compartilhando cigarros em festas com amigos, e após uma experiência na Europa, passou a consumir com regularidade semanalmente.

“Foi nesse ponto que o interesse pela nicotina virou um hábito”, explica. Sua preferência é pela Marlboro, mas costuma usar também tabaco para enrolar da marca Natural American Spirit, que oferece um custo menor.

Jared Oviatt, que administra o perfil @cigfluencers no Instagram desde 2021, acompanha e compartilha imagens de celebridades fumando. Ele diz ter criado a conta porque sempre achou o cigarro “cool” entre seu grupo de amigos.

Segundo Oviatt, “as campanhas antitabagismo foram tão eficazes que acabaram abrindo caminho para o vaping, e quando esse se tornou ‘sem graça’, o retorno ao cigarro foi facilitado”. Seu interesse inicial surgiu ao ver fotos da cantora britânica Dua Lipa fumando.

Além disso, ele publicou imagens de Lily Allen fumando vestida de freira, e de Charli XCX dividindo um cigarro com o marido em um restaurante, ambos com trajes formais. A conta possui atualmente 83.700 seguidores, com uma maioria feminina de 70% e concentra-se em cidades como Nova York e Londres.

Amira Hakimi, estudante de pós-graduação da Columbia University, conta que costuma fumar raramente, principalmente após festas, preferindo a experiência do cigarro tradicional a produtos de vaping, que considera “brega”. Para ela, fumar é um ato “atemporal”.

Dados atualizados sobre o consumo

Tempos recentes têm marcado as taxas de tabagismo nos EUA em sua mínima histórica nas últimas oito décadas. Uma pesquisa Gallup indicou que apenas 11% dos americanos relataram ter fumado na semana anterior, com jovens abaixo de 30 anos apresentando índices menores ainda — cerca de 6% — em contraste com os 35% registrados no início dos anos 2000.

A renomada pesquisadora Dra. Nancy Rigotti, da Harvard Medical School e Massachusetts General Hospital, reforça os perigos do hábito: “Cigarros são perigosos; a nicotina vicia, e a fumaça causa doenças cardíacas, pulmonares e câncer”. Ela acrescenta que dados antigos mostram que a representação do tabagismo no cinema e por celebridades foi um modelo que incentivava jovens a começar a fumar.

Posicionamento da indústria e reflexão sobre o hábito

Grandes fabricantes de tabaco, como a Altria, monitoram o uso não autorizado de suas marcas em filmes e programas e costumam enviar notificações para impedir esse tipo de exposição. A Reynolds, produtora de marcas como Camel e Newport, afirma ter políticas rigorosas proibindo o uso dos seus produtos em produções audiovisuais.

A Altria, fabricante do Marlboro nos EUA, diz incentivar os consumidores a optarem por alternativas ao cigarro, enquanto a Reynolds reitera que não apoia o estímulo ao uso de produtos de tabaco, incluindo cigarros.

Matthew Daniel Siskin, consultor criativo que já colaborou com a marca de cigarros artesanais Hestia, conta que a clientela mais jovem, legalmente apta a consumir, é um dos principais públicos-alvo da marca. Os cigarros Hestia, feitos com tabaco cultivado nos Estados Unidos e com o slogan “Naked, Wild, Tobacco”, são bastante procurados por jovens fumantes.

Ele destaca o aspecto social do ato de fumar: “Havia algo especial em fumar na janela, era o momento antes de nos desligarmos dos celulares e pedirmos fogo a alguém”.

Para Maddie Bell, o apelo do cigarro também está na dimensão social. Hoje, ela fuma um a dois cigarros diariamente, embora deseje parar e reconheça que abandonar o hábito é difícil.

_Texto traduzido do inglês por InvestNews_

Fonte

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